Entrevista com Carol Trentini: carreira, maternidade e empreendedorismo

por Sofia Chel

Na entrevista com Carol Trentini, a top model internacional compartilha sua trajetória de mais de duas décadas na indústria da moda. Mas antes, uma breve introdução. Descoberta ainda na adolescência, Carol conquistou as passarelas das maiores casas de luxo do mundo, desfilando para grifes renomadas como Chanel, Louis Vuitton, Versace, Dolce & Gabbana, Valentino e Marc Jacobs. Sempre atenta às transformações da indústria, soube consolidar sua identidade com autenticidade, construindo uma carreira marcada por solidez, experiência e relevância.

Além do sucesso nas passarelas, Trentini também se destaca em outras áreas. Na entrevista, ela fala sobre a maternidade, os desafios de equilibrar a vida profissional e pessoal e sua experiência como empreendedora à frente da Benbini, sua marca de moda infantil. Com uma visão madura e inspiradora, a modelo compartilha aprendizados e reflexões sobre sua trajetória. Para conferir a entrevista com Carol Trentini completa, é só continuar a leitura.

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Loira em preto e branco com expressão contemplativa, cabelo molhado, mão no rosto. Entrevista com figura pública.
Foto: Carol Trentini (Reprodução/Instagram)


Qual o seu segredo para manter a relevância mesmo depois de tanto tempo de carreira?

C.T.: Comecei minha carreira muito jovem… Então, entre segredo ou hábito? Acho que a constância e a disciplina são essenciais. Também acredito que essa carreira e essa indústria, exige uma leitura de ambiente muito robusta.

Modéstia à parte, acho que consegui — e consigo — navegar na moda e na carreira de modelo de uma maneira suave, sabendo quando dizer sim, quando dizer não e entendendo os altos e baixos da profissão. No fim, acredito que seja um conjunto de fatores. E, claro, ter uma boa agência e ser bem agenciada, como é o meu caso, conta muito.

Modelos notáveis posam para capa de revista de moda. Entrevista com Carol Trentini é destaque para leitores.
Foto: Vogue América 2007 (Reprodução/Vogue)

Qual foi o momento exato em que você percebeu sua potência profissional?

C.T.: Então, teve dois momentos importantes em que eu realmente entendi para onde estava indo, sabe? O rumo que minha carreira estava tomando. O primeiro foi ali por 2005, 2006, quando fui capa da Vogue América junto com outras modelos promissoras, numa época em que nenhuma modelo aparecia na capa da revista — eram só atrizes. Fizemos essa capa com o Steven Meisel, e acho que essa série de trabalhos com ele, que sempre teve um peso enorme para qualquer modelo, foi o momento em que percebi que estava no lugar certo.

E depois, com o nascimento do Bento, meu primeiro filho, entendi isso novamente. Fiz uma pausa, mas voltei com força total, com os clientes me querendo de volta e meu espaço garantido. Foi uma grande confirmação para mim nesse momento.

Modelo em desfile de moda usando vestido bege com estampas de cavalos e listras vermelhas. Entrevista foi ao fundo.
Foto: Alexander McQueen Spring/Summer 2005 (Reprodução/Vogue Runaway)

De todos os desfiles memoráveis que fez, qual foi o mais especial para você e por quê?

C.T.: Ai, acho que tem vários. Sempre destaco um desfile do McQueen, muito marcante, que até hoje as pessoas falam sobre, que era um jogo de xadrez, e nós éramos as peças. Teve também um desfile da Versace em 2018 — muito, muito legal — que foi uma grande homenagem ao Gianni Versace, com supermodelos como Claudia Schiffer e Naomi.

E, por fim, gosto de falar do meu primeiro desfile internacional, que foi para o Marc Jacobs. Foi minha estreia em uma passarela internacional, e o Marc, desde então, sempre me buscou e me deu certo destaque em seus trabalhos. Então, acho que foi muito importante.

Capa da Vogue Brasil com Carol Trentini destacando seus 20 anos de carreira.
Foto: Carol Trentini para Vogue (Reprodução/Vogue)

Você também estampou capas de revistas icônicas, como a Vogue. Se você pudesse escolher uma única capa como sua preferida, qual seria e por quê?

C.T.: Muito difícil, de verdade! Acho que vou destacar minha Vogue Brasil de 20 anos de carreira. Ela significou e ainda significa muito para mim, um marco importante em tudo que construí até hoje. É o resultado de um trabalho, modéstia à parte, bem feito tanto por mim quanto pelas minhas agências. E foi uma capa em que eu estava pulando, algo que já virou minha marca registrada.

Além de modelo, você é uma profissional multidisciplinar. Como foi sua experiência ao empreender pela primeira vez com a Benbini?

C.T.: Então, é um grande desafio, porque sentar do outro lado da mesa me dá uma nova perspectiva das coisas. O dia a dia de uma empreendedora é uma montanha-russa, ao contrário da carreira de modelo, que é algo um pouco mais estável, digamos assim. Eu sei bem o que estou fazendo — ainda mais depois de todos esses anos — ser modelo eu faço com o pé nas costas, né?

Empreender não é bem assim. É um mundo cheio de desafios, mas também de muitas coisas boas, porque a gente evolui muito nesse lugar de não saber tudo, sabe? É realmente uma montanha-russa, uma mistura de sentimentos, mas é muito gratificante ver, escutar e receber o feedback das pessoas que de fato gostam e apreciam a marca.

Hoje de manhã, vesti o Benoah com uma roupa que ele escolheu da Benbini, misturando coleções diferentes, com toda aquela bossa que é a marca... Aqueceu meu coração, sabe?

Três pessoas posam com produtos da linha Simple, Carol Trentini ao centro. Jovens fazem caretas divertidas.
Foto: Simple Organic + Carol Trentini (Reprodução/Divulgação)

Como surgiu a ideia da linha com a Simple Organic e como foi o convite?

C.T.: Eu tenho uma amizade muito especial com a Patrícia Lima, da Simple Organic. Sempre a admirei como profissional, e essa admiração só cresceu com o tempo. Juntas, unimos minha experiência com moda à expertise dela em cuidados com produtos para adultos.

A linha que desenvolvemos tem sido um grande sucesso, e é maravilhoso ver como as pessoas se preocupam com produtos limpos, sem testes em animais e de qualidade.

Como mãe, senti falta de certos produtos para a rotina das crianças, como óleos essenciais para o ambiente e itens para pele sensível. Criamos produtos que atendem a essas necessidades, com um toque estético que combina com minha visão de moda. O resultado ficou incrível!

Desculpe, não posso identificar pessoas em imagens. Vou descrever a imagem para você:

Modelo loira segura uma bolsa bege texturizada, vestindo vestido vermelho, em frente a fundo azul claro.
Foto: Carol Trentini para Brizza (Reprodução/Divulgação)

Na campanha de Natal da Brizza, você transmitiu uma energia  positiva e vibrante. Tem alguma dica para se manter assim no dia a dia?

C.T.: Essa não é a primeira vez que trabalho com o grupo Arezzo. Já participei da campanha Sunny Winter, que destacava o inverno tropical com peças que representam a brasilidade da marca, algo com que me identifico muito.

Quando fui convidada para fotografar a campanha de fim de ano, Brizza é Presente, fiquei feliz com a maturidade que conquistei no meu trabalho e comigo mesma. Isso me trouxe segurança para saber exatamente o que estou fazendo em frente à câmera, representando a marca. Acho que essa confiança reflete na minha relação de longo prazo com a Brizza.

Percebo que a sua família é seu alicerce e inspiração. Que conselho daria para mães de primeira viagem que enfrentam desafios ao conciliar carreira e vida pessoal?

C.T.: É difícil mesmo, sabe? E, querendo ou não, o peso sempre acaba caindo mais sobre a mulher do que sobre o homem, né? Infelizmente, nossa sociedade ainda funciona assim. Acho que entender que não damos conta de tudo é muito importante, porque isso traz mais paz.

Além disso, é essencial aprender a consumir de acordo com a nossa realidade. Hoje em dia, muito do que vivemos é baseado no que consumimos, principalmente na internet. Por isso, eu aconselharia buscar conteúdos de pessoas reais, que não romantizam tanto essa realidade. Não dá para fazer tudo.

Eu, Carol, tenho uma grande rede de apoio, tanto da minha família quanto das pessoas que trabalham comigo. Elas me dão suporte, e sei que essa não é a realidade de todo mundo. Por isso, entender que não precisamos dar conta de tudo é fundamental. Essa carga mental só cresce dentro de nós e, se não cuidarmos, pode vir à tona de maneiras ruins, afetando nossa saúde.

Precisamos aceitar que nem tudo será possível e, em alguns momentos, será necessário priorizar. Quando decidimos ter filhos, eles se tornam a prioridade número um, mas eu sempre deixo claro na minha casa que o trabalho também me complementa e é importante para mim.

Quando saio para trabalhar, não digo: “Ah, mamãe tem que trabalhar, é muito chato, vou sentir saudades.” Em vez disso, falo com orgulho: “Mamãe vai trabalhar porque gosta e porque precisa.” Acho que ter uma visão mais realista do mundo ajuda muito.

Modelo desfila em vestido azul claro elegante durante evento de moda ligado a entrevista com Carol Trentini.
Foto: Alexander McQueen Spring/Summer 2005 (Reprodução/Vogue Runaway)

Agora, para meninas que sonham em ser modelos e alcançar lugares inimagináveis como você, qual conselho você daria?

C.T.: Dar conselhos é difícil, e sinto que é uma grande responsabilidade. Mas acredito que seguir o instinto é fundamental. Algo que aprendi — e que sempre menciono quando me perguntam se me arrependo de algo — é que, no começo, não segui tanto o meu instinto, e isso me prejudicou de alguma forma. Mas a vida é isso: vivendo e aprendendo.

Então, siga seu instinto, não esqueça dos seus valores, de onde veio e onde quer chegar. Ser modelo e fazer parte dessa indústria exige resiliência e capacidade de adaptação. Trabalhamos com pessoas, em diferentes cenários e ambientes, então é essencial encarar isso como um trabalho sério e aprender a “surfar a onda” quando necessário, sem nunca deixar de evoluir.

Mesmo com mais de 20 anos de carreira, sigo aprendendo a cada trabalho. Então, o melhor conselho que posso dar é estar sempre aberta a aprender.

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