História da moda: Christian Lacroix

por Beta Weber

Maximalismo é palavra-chave quando se fala em Christian Lacroix. Pense em volumes dramáticos, brocados dourados, padronagens que parecem ter saído de uma tapeçaria renascentista e nenhum receio de cair no exagero. Nos anos 80 e 90, era impossível falar de moda sem citar seu nome. Sua obra influenciou uma geração inteira de criadores, de John Galliano a Dries Van Noten.

Vestido deslumbrante com capa floral detalhada e coroa exuberante em desfile, evocando o estilo de Christian Lacroix.
Foto: Christian Lacroix (Reprodução/Internet)


No início deste ano, saiu a notícia de que a marca vai voltar oficialmente ao mundo da moda, sem o próprio Lacroix na direção criativa, mas com a promessa de honrar seu legado. Enquanto aguardamos o retorno, a gente conta com detalhes a história da maison Christian Lacroix.

quem foi christian lacroix?

Nascido em Arles, no sul da França, Lacroix desenvolveu, ainda criança, um interesse particular por figurino, passando seu tempo livre desenhando trajes históricos com uma obsessão por detalhes que ultrapassava o comum. Esse fascínio o levou naturalmente à História da Arte, mais precisamente para Paris, a fim de estudar o assunto. Seu plano inicial era se tornar curador de museu. Nesse período, imerso entre livros, exposições e tecidos antigos, surgiu uma oportunidade na moda que mudaria sua trajetória para sempre.

Antes de abrir sua própria maison, Christian passou por casas como Hermès e Jean Patou. Nessa última, teve a chance de aprender alta-costura na prática, ficando pronto para dar o passo de lançar seu próprio negócio em 1987, com apoio financeiro do grupo LVMH.

Despontando durante o auge do power dressing, Lacroix ofereceu uma visão completamente oposta, que atendeu ao desejo de muitos que não se identificavam com a estética rígida de ombros estruturados e cintura marcada. Extravagante, teatral, calcada em cor, romance, história e drama, sua proposta, ao lado de outros nomes recém-chegados na cena, inaugurou com timing perfeito um período mais glamouroso e irreverente na moda.

Coroando o momento, em outubro de 1988, foi lançada a primeira capa de Anna Wintour como editora-chefe da Vogue US, onde a modelo Michaela Bercu usou um casaqueto couture, com uma cruz cravejada de pedras — referência bizantina e um dos símbolos mais recorrentes de Lacroix — aliado a uma simples calça jeans. Uma imagem que consolidou o início de uma nova era e introduziu o conceito de hi-lo no mainstream.

Modelo sorridente com blusa de cruz ornamentada por Christian Lacroix. Cabelo ondulado e jeans.
Foto: Michaela Bercu para Vogue, 1988 (Reprodução/Instagram)

Opulente, exagerado, deslumbrante. Criações básicas não faziam parte do seu repertório. As referências históricas eram contínuas, mas sempre aliadas à criatividade para oferecer um olhar renovado e mais experimental.

Vestido azul com corpete e cauda volumosa, estilo Christian Lacroix, usado por modelo em fundo de madeira e parede cinza.
Foto: Shalom Harlow para Christian Lacroix, 1997 (Reprodução/Instagram/Peter Lindbergh)

Sua formação acadêmica e encantamento por figurino influenciaram a construção de sua estética única, pontuada por teatralidade, experimentação e uma fusão ousada de estilos. Suas criações misturavam referências do século XVIII, como corsets, crinolinas e silhuetas inspiradas em Maria Antonieta, com elementos do sul da França, onde nasceu, toques barrocos, folclóricos e até espanhóis. O mix de cores intensas, tecidos artesanais, estampas contrastantes e rica variedade de texturas ajudou a redefinir o conceito de luxo, criando um universo visual tão sensorial quanto narrativo.

Modelo em vestido preto extravagante em cenário ao ar livre, estilo Christian Lacroix, com detalhes luxuosos.
Foto: Naomi Campbell usando Christian Lacroix para Vogue, 1996 (Reprodução/Instagram/Steven Meisel)

Entre suas marcas registradas, a "le pouf", a saia bufante que virou febre e invadiu o guarda-roupa de festa da época. E símbolos recorrentes como coração, rosas, cruzes, o uso de cores vibrantes como o laranja, além de acessórios e detalhes ornamentados e suntuosos de inspiração barroca. Como o logo de C e L entrelaçados.

Modelo desfilando em passarela usando vestido floral bufante da coleção de Christian Lacroix, com laços rosas vibrantes.
Foto: Desfile Haute Couture Christian Lacroix SS 2006 (Reprodução/Instagram)

Ao longo dos anos, seus designs, sempre dignos de palco, surgiram em nomes como Beyoncé.

E Madonna, que usou Lacroix várias vezes ao longo da carreira, contando inclusive com peças feitas sob medida para turnês.

Vestimenta elaborada com máscara e detalhes ricos em vermelho e dourado, evocando estilo teatral e extravagante.
Foto: Vestido Christian Lacroix FW 2002 (Reprodução/Instagram)

Apesar do espetáculo constante nas criações, nos bastidores, as dificuldades financeiras não paravam de aumentar. Já que couture custa caro e raramente dá lucro. Após anos operando no vermelho, em 2005, a LVMH vendeu a grife para o Falic Group. Quatro anos depois, o desfile final de alta-costura marcou o fim de um ciclo. A maison acumulava dívidas milionárias e precisou fechar as portas.

A marca seguiu existindo, sem a presença do fundador, por meio de uma linha de acessórios, licenciamentos com diversas marcas e a Christian Lacroix Maison, dedicada a objetos de decoração.

Desde então, Lacroix se reinventou longe das passarelas. Assinou figurinos para teatro e ópera, decorou hotéis e retomou as agulhas em colaborações pontuais. Em 2013, criou uma coleção especial para a Schiaparelli, homenageando a fundadora Elsa com peças únicas que celebravam o surrealismo e o legado da alta-costura parisiense. E, mais tarde, em 2019, participou de uma coleção assinada em parceria com o designer belga Dries Van Noten.

o futuro da grife

O capítulo mais recente começou em janeiro de 2025, quando a espanhola Sociedad Textil Lonia (STL), dona de marcas como Purificación García e CH Carolina Herrera, comprou 100% da Christian Lacroix, assumindo também todo o seu acervo histórico.

Antes mesmo do anúncio, a marca já ensaiava um revival, surgindo no tapete vermelho por meio de peças de arquivo, mais notavelmente em Rihanna e Jennifer Lawrence.

Enquanto a maison retoma a moda sob nova direção, Lacroix, hoje com 73 anos, confirmou em seu Instagram pessoal que a venda contou com sua bênção, embora ele não deva ter nenhuma participação formal nessa nova fase. Focado em seus projetos pessoais, segue como embaixador de sua estética exuberante, agora também aplicada ao universo doméstico com linhas de tecidos, papéis de parede e objetos decorativos que traduzem seu maximalismo em ambientes.