História da moda: Pucci

por Beta Weber

Febre do verão europeu de 2025, a Pucci carrega possivelmente a estampa mais famosa do mundo da moda. Os desenhos caleidoscópicos e coloridos são a assinatura da casa fundada por Emilio Pucci há mais de 70 anos. De origens aristocráticas e sinônimo de glamour italiano, você sabia que seu início foi no segmento esportivo? Pois vem cá, que a seguir a gente conta tudo o que você precisa sobre a história da Pucci.

Duas mulheres em vestidos coloridos e turbantes, ao estilo Pucci, conversam com Emilio Pucci.
Foto: Emilio Pucci (Reprodução/Bill Eppridge)


a origem de Pucci

Nascido no início do século passado, em uma das famílias mais antigas de Florença, Emilio tinha o título nobre de Marquês de Barsento e cresceu entre o palazzo da família na cidade natal, as praias de Capri e os Alpes Suíços.

Aventureiro e heróico, ele teve uma vida agitada desde sempre, chegando a servir no exército italiano durante a Segunda Guerra e a ser torturado por membros da Gestapo. Atleta ávido, nadava, fazia esgrima e até corria de carro. Esse background influenciou muito suas criações, e a carreira na moda começou meio que por acaso. Curiosamente, embora hoje seja associada ao dolce far niente à beira-mar, a marca teve como primeiro lançamento comercial roupas para esquiar. Formado em arquitetura e ciências sociais, ele se interessava por performance e estilo e tinha o hábito de desenhar seus próprios trajes de esqui. Seu destino mudou em 1947, ao adaptar um de seus designs para uma amiga.

Composto por calça mais ajustada e casaco com capuz e bolso, o look tinha uma silhueta bem diferente das roupas usadas para a prática do esporte até então, e a criação caiu no gosto do público quando foi fotografada para a revista Harper’s Bazaar.

Em 1950, no embalo do sucesso, ele abriu uma pequena boutique em Capri que oferecia roupas resort, perfeitas para serem exibidas na ilha. A primeira coleção foi de moda praia e logo depois, os cobiçados lenços foram lançados.

A herança esportiva informou muito da visão inovadora de Pucci, que prezava funcionalidade com glamour. A proposta era criar roupas bonitas e práticas, que libertassem as formas femininas com fluidez e simplicidade, sem volumes, detalhes esculturais e os preços exorbitantes da alta-costura.

Modelos em vestidos coloridos com estampas Pucci posam em telhado, com cúpula de igreja ao fundo.
Foto: Pucci 1967 (Reprodução/Emilio Pucci Archive)

as marcas registradas

A estampa meio psicodélica, desenvolvida nos anos 50 e instantaneamente reconhecível, é o grande trunfo da marca, fazendo com que Emilio ficasse conhecido como “Príncipe das Estampas”. Inspiradas por referências que vão de mosaicos sicilianos e africanos ao Palio de Siena e aos batiks de Bali, os shapes que misturam figuras abstratas e geométricas em cores variadas são irresistíveis e únicos. A autoria ficava discretamente marcada, com cada peça recebendo o nome Emilio escrito à mão.

Arte abstrata vibrante com formas curvas em tons de rosa, azul e amarelo. Texto central: Pucci.
Foto: Livro Emilio Pucci (Reprodução/Editora Taschen)

Apesar de disponível em infinitas combinações, a cartela mais clássica consiste em rosa, lilás, azul-turquesa, amarelo e verde-claro. Um combo inusitado e refinado que foi inspirado pelas paisagens do Mediterrâneo.

Pessoa vestindo estampas coloridas e fazendo limbo sob uma barra baixa. Outras pessoas assistem ao fundo.
Foto: Veruschka indossa (Reprodução/Slim Aarons)

Não bastava beleza: para Pucci, suas criações precisavam ser confortáveis e funcionais, e ele dedicou muito tempo pesquisando tecidos e materiais para atingir esse objetivo sem comprometer a estética. Priorizou o jersey e desenvolveu misturas dele com seda e algodão, criando peças que ofereciam mobilidade, mantinham a forma e não amassavam tanto. Um desses tecidos, inclusive, foi batizado com o nome Emilioform.

Conjunto estampado vibrante em rosa e branco, com design geométrico característico de estilo Pucci.
Foto: Pijama Palazzo (Reprodução/Museu Palazzo Pitti)

O conceito de resort wear também pode ser atribuído, em parte, a ele. Roupas feitas para serem usadas em momentos de lazer, seja a bordo de um barco, em uma festa ou em uma viagem de esqui. Criando peças inovadoras para o período que acabaram por se tornar atemporais. Entre seus designs mais famosos, o pijama palazzo, as leggings, os característicos caftans e as camisas foulard.

Brigitte Bardot deitada na cama com vestido amarelo de estilo Pucci, apoiada em almofada branca, cabelos loiros soltos.
Foto: Brigitte Bardot (Reprodução/ Arquivo New York Daily News)

o auge

Nos anos 60 e 70, a Pucci virou uniforme oficial do jet-set internacional. O estilo descomplicado, mas luxuoso, agradou em cheio celebridades, socialites e até membros da realeza. Jackie Kennedy era fã declarada e ajudou a popularizar os vestidos da marca nos EUA. Marilyn Monroe tinha uma coleção de peças da Pucci. De Grace Kelly a Sophia Loren, Elizabeth Taylor e Brigitte Bardot, ninguém ficou de fora do fenômeno.

No fim dos anos 80, a puccimania voltou através de criações de novos estilistas italianos, como Moschino e Gianni Versace, que buscaram na história da marca inspiração para suas coleções, trazendo um revival.

Sala com decoração elegante, incluindo murais clássicos, lustre de cristal e tapete rosa vibrante, criando um ambiente luxuoso estilo Pucci.
Foto: Palazzo Pucci (Laudomia Pucci)

a expansão

Ele foi um dos primeiros estilistas a transformar seu universo estético em lifestyle. Suas estampas foram além da moda para invadir móveis, cerâmicas e objetos decorativos, dando movimento e glamour até ao que era estático. A estampa icônica fez com que o mundo da decoração fosse destino óbvio para expandir a marca, mas também alçou voos bem mais altos, literalmente, da aviação a projetos espaciais. Entre as colaborações mais marcantes estão os uniformes futuristas para a Braniff Airlines, o logo de uma missão da NASA e objetos de design colecionável, como as xícaras da Illy, passando ainda por toalhas de banho, interiores de carros de luxo e louças de porcelana.

Pessoa com roupa estampada amarela, segurando taça e cesta com limões, em cenário costeiro.
Foto: Hailey Bieber (Reprodução/Instagram)

sucessão

Com o falecimento do fundador em 1992, sua filha, Laudomia Pucci, assumiu o negócio da família e, nos anos 2000, o grupo LVMH adquiriu 67% da marca.

Desde então, vários nomes passaram pela direção criativa. Mais notavelmente, Christian Lacroix (2002–2005), Matthew Williamson (2005–2008) e Peter Dundas (2008–2015). O último, além de ter permanecido mais tempo no cargo, também foi quem teve maior influência na fase contemporânea da Pucci. Com apelo mais jovem e em mood de festa, ele renovou a estética da casa. Foi também nesse período que a LVMH percebeu o potencial de crescimento da marca e ampliou o portfólio com categorias como bolsas, sapatos e óculos.

Em 2021, a Pucci foi 100% incorporada pelo LVMH, e pouco depois, Camille Miceli assumiu a direção artística. Desde então, a designer vem reposicionando a marca com uma estética mais leve, moderna, voltada para o bem-estar e o lifestyle solar. Incluindo uma conexão maior com a geração mais jovem, através de peças sob medida, como o recente look feito especialmente para Hailey Bieber.

Modelo usa lenço colorido Pucci na cabeça, roupa estampada e segura objeto com design vibrante.
Foto: Guerlain X Pucci (Reprodução/Instagram)

Nos últimos tempos, uma collab de edição limitadíssima no mundo da beleza com a Guerlain e uma ação na Art Basel, feira de arte moderna, vem fortalecendo ainda mais o nome. 

O legado de Emilio Pucci é tão impressionante que nada do que foi feito na casa desde então consegue superar suas criações dos anos 60 e 70, algo raríssimo entre as marcas de luxo. A moda exige reinvenção constante, mas a Pucci transcende tendências, mantendo-se atual por permanecer fiel à sua essência: estampas únicas aliadas a uma filosofia de liberdade e a um lifestyle glamouroso, capazes de despertar desejo com peças atemporais e inconfundíveis, mesmo sem estar sempre oferecendo o novo.

Não é por acaso que, vira e mexe, ela volta aos holofotes, como nos anos 80, no período Y2K e agora, com o Pucci Girl Summer dominando o verão europeu.