Justin Bieber está seguindo os passos de Kanye West?

por Natalia Brisolla

Por anos, Kanye West foi o epicentro de uma revolução criativa que unia moda, música e cultura digital. Mas, nos últimos tempos, entre cancelamentos e distanciamentos, esse trono ficou vago. Quem acompanha os movimentos recentes de Justin Bieber pode estar se fazendo a mesma pergunta: será que é ele quem está assumindo essa posição agora?

Com o lançamento simultâneo de seu novo álbum SWAG e da marca de moda SKYLRK, Bieber está orquestrando algo muito maior do que um simples comeback. Ele está construindo um novo tipo de influência, o tipo raro, já ocupado por poucos como Kanye West e Pharrell Williams, que ultrapassa a arte e molda comportamento, estética e desejo.

Durante quase uma década, Kanye foi mais do que um músico. Ele foi uma força cultural. Criador da Yeezy, redefiniu o papel da celebridade na moda, quebrou a lógica do consumo com lançamentos limitados e transformou tênis em moeda cultural. Em seu auge, Yeezy não era apenas uma marca, era um estado de espírito: minimalista, distópico, desejado. Era sobre inovação e quebra de expectativas. 

Mas o império balançou. E não foi por falta de inovação, e sim de limites. Kanye se perdeu em suas próprias contradições religiosas, políticas, pessoais até que o que sustentava sua imagem (e seus contratos) ruiu. O mercado esfriou. E o nome “Kanye” passou a risco de imagem para qualquer negócio.

Nesse vácuo simbólico, um novo nome começa a ganhar força: Justin Bieber.

Justin Bieber sem camisa e calça jeans olhando para o chão; mulher e criança ao fundo.
Foto: Justin Bieber (Divulgação)


Quem observa os últimos passos de Bieber enxerga ecos do mesmo roteiro que fez Kanye dominar a conversa pop-fashion nos anos 2010: aparecer pouco, mas causar muito. Uma família altamente visada pela mídia. Cultivar o ar de “estou acima disso tudo”, enquanto cria produtos que gritam por atenção. Transformar o caos pessoal em branding emocional. Usar a religião como linguagem estética.

Essa relação entre fé e moda não é novidade,  é herança direta de Kanye West, que fez da religião parte de suas criações. Do Sunday Service aos álbuns gospel, passando por desfiles no deserto e tênis com nomes bíblicos, Kanye entendeu cedo que espiritualidade também pode ser uma linguagem de consumo. Ele transformou a fé em estética.

Bieber parece ter aprendido com isso. Mas, ao contrário de Kanye, cuja abordagem era grandiosa e quase messiânica, Justin adota uma espiritualidade mais contida, silenciosa e emocionalmente acessível. Em vez de se posicionar como líder, ele aparece como um homem em reconstrução. Um fiel, não um profeta.

Se a humildade é o caminho que fará seus empreendimentos prosperarem, diferentemente de Kanye, não sabemos. Mas é, sem dúvida, um bom atributo quando o objetivo é não repetir os mesmos erros do antecessor.

Resta saber se, ao transformar sua fé, sua estética e sua intimidade em narrativa vendável, Justin vai conseguir manter o controle da própria história, ou se vai se perder nesse caos criativo onde o eu e o produto, a vida pessoal e a criação se confundem demais para se separar.

Justin Bieber
Foto: Justin Bieber (Divulgação)

Talvez tenha sido justamente essa contradição entre querer ocupar o centro de tudo (moda, música, discurso cultural) e, ao mesmo tempo, clamar por silêncio e reclusão que fez Kanye West se perder no próprio enredo.

Se for esse o caso, a pergunta que se impõe é: como Justin Bieber, que parece igualmente afligido por esse dilema, vai contornar essa tensão entre o desejo de influência e o desejo de anonimato?