Mas afinal, o que faz um stylist e como se tornar um?

por Karen Merilyn

Contar uma história através do look, tornar uma peça mais atraente, pensar fora da caixa quando o assunto é imagem de moda, criar uma rede de contatos com marcas e assessorias. Essas são apenas algumas das funções que um stylist desempenha. Mas como começar no ramo? O que estudar? Quais os desafios da profissão? Para responder essas e outras perguntas nós conversamos com uma pro na área: Fernanda Galindo

Fernanda começou como produtora de moda, dando assistência para outros stylists em 2018. De lá para cá, já assinou a produção de capas de revista, campanhas para marcas e artistas, além de dar aulas de produção de moda. Nós batemos um papo com ela sobre a carreira, que você pode conferir a seguir: 

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Foto: Fernanda Galindo (Reprodução/Instagram)


STL: Conta um pouco da sua história profissional para a gente? 

F.G.: A minha história profissional começou em 2018, quando eu me inscrevi em um curso do Senac de Produção de Moda. Esse foi meu primeiro contato com a moda. Eu estudei um ano e depois uma professora acabou me indicando para uma stylist, que na época fazia a revista Quem. Aí eu comecei a dar assistência para ela. Nesse mesmo momento, eu comprava muita revista e ficava vendo os editoriais, via quem assinava, pesquisava o stylist no Instagram e mandava “Oi, eu sou a Fe, eu quero muito trabalhar com moda”. Eu mandei uma série de mensagens para vários stylists e acabei mandando também para os produtores de moda e para quem fazia a assistência dos stylists. Recebi algumas respostas, entre elas, uma era assistente do Marcell Maia. Simultaneamente, eu comecei a trabalhar tanto com a stylist da Quem quanto com o Marcell. E assim eu comecei a carreira como assistente. 

Qual foi o ponto-chave para você alavancar sua carreira? 

F.G.: Eu acredito que o processo de iniciar a carreira na moda como assistente é uma das partes mais valiosas e, no meu processo, desde que eu comecei a dar assistência até assinar coisas minhas, eu aprendi muito. E demorou anos. Eu acredito que foi muito importante ter respeitado esse momento de aprender, de fazer vários trabalhos, de ter contato com vários stylists, sabe? E eu acho que isso foi me consolidando na profissão aos poucos. Foi como uma escadinha até que eu estivesse preparada para assinar trabalhos maiores, porque é uma grande responsabilidade. 

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Foto: Fernanda Galindo (Gabriela Schmdt)

O que faz um stylist?

F.G.: A primeira vez que eu trabalhei com a stylist da Quem, ela me falou uma coisa que foi muito importante para mim: não tem diferença entre um produtor de moda e um stylist. Na realidade, eles fazem o mesmo trabalho. O que se separa de acordo com o mercado é que um produtor de moda é responsável por fazer a coletânea e a escolha das peças para as pautas. O stylist vai pensar a pauta, vai montar um moodboard, vai fazer toda a parte visual, toda a parte de pesquisa. Depois de ele ter visualizado tudo e tudo estiver bem fechado, passa a pauta para o produtor de moda, que a partir disso começa a entrar em contato com as marcas e assessorias para entender quais peças cabem ou não dentro da pauta que o stylist visualizou. 

O que é preciso para ser um stylist? O que é necessário estudar?

F.G.: Eu estudei moda e eu tenho vários amigos stylists que não estudaram moda, ou que não necessariamente tiveram uma formação acadêmica. Acho que o que você precisa de fato como stylist é manter contato com o estudo, passado, presente e o que vem por aí. É importante você estar em contato com os desfiles, entender também para além das referências de moda. A gente precisa estar antenado no que está acontecendo no mundo, é importante. Moda não é só o visual, tem toda uma construção atrás disso. Estar conectado com o que está acontecendo no momento é muito necessário para ser um stylist. E, claro, consumir, beber de muita referência de moda. Mas quanto a formação acadêmica, eu acho que você pode ir para vários lugares. Eu tenho amigos que fizeram publicidade e propaganda, artes visuais, enfim, não é só moda que te prepara para ser um stylist. Apesar de eu considerar que é super legal estudar em uma instituição. 

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Foto: Styling (Henrique Tarricone)

O stylist pode tanto ser autônomo quanto trabalhar para alguma empresa. Qual a diferença entre esses dois tipos de trabalho? 

F.G.: O stylist pode ser freelancer sim ou trabalhar direto para uma empresa, porque o trabalho do stylist vai um pouco além de fazer looks de moda. A gente precisa do stylist por exemplo para a área do varejo, a gente precisa de um stylist para pensar de repente uma peça que não está vendendo na loja. A gente precisa realmente montar um novo look, um novo visual que agregue essa peça e faça o consumidor entender que é legal também, que é fashion, que pode ser usado de uma outra maneira. Nesse sentido, o stylist pode trabalhar para uma grande empresa e aí montar looks de e-commerce, pensando em marketing de empresa também dá para fazer várias coisas.

Também dá para fazer styling de campanha. Eu trabalhei na Renner por um tempo e eu fiquei justamente sendo stylist do e-commerce e pude participar também de algumas campanhas, por exemplo. 

Em contrapartida, o stylist freelancer faz vários trabalhos e tem contato com muitas marcas. Aí é interessante porque quando você é CLT, você ganha um valor mensal e quando você é freelancer você consegue ganhar mais ou menos e acaba tendo outro tipo de rotatividade de trabalho.  

Como criar contatos que são tão importantes para a carreira de stylist? 

F.G.: Eu acho que criar contatos é um processo muito natural quando você vem de assistência. Eu insisto nessa pauta de assistente porque eu acho que é o melhor tempo que você pode aproveitar enquanto você não tem trabalhos maiores, com maiores responsabilidades. Então, quando você está produzindo para alguém ele vai de repente compartilhar algum contato, você vai ter acesso às assessorias, nas assessorias vão te mandar alguns contatos também e aí você vai construindo a sua rede de contatos, conhecendo pessoas. O produtor de moda está na rua o tempo inteiro, então a gente encontra muitos produtores na rua também na medida do possível aí você acaba tendo uma rede de contato construída naturalmente. 

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Foto: Styling (Amanda Adász)

Quais são os maiores desafios da profissão?

F.G.: Quando a gente tem uma pauta de styling, eu acho que o processo todo do trabalho é desafiador, porque vai desde as primeiras aprovações, de entender o cliente quer, tem muitas regras. É muito mais minucioso do que parece, precisa ser muito bem estudado, principalmente quando são pautas que vão para a televisão ou que vão para a revista, então todo o processo é desafiador. Desde a hora que você precisa mandar e-mail para as marcas liberarem, para entenderem se para elas é interessante ou não a pauta. E aí todo o momento a gente precisa se manter para lidar melhor com as pessoas, é muita lábia, tem que saber falar, tem que saber se comportar. Eu sempre falo que quem quer ser stylist/produtor de moda, ou é ou não é. Faz uma produção e você já sabe se quer continuar ou não.

Qual a melhor maneira de manter a criatividade a cada trabalho? 

F.G.: A melhor forma de fato de manter a criatividade é estando em contato com o momento. A moda é efêmera, ela vai passando e a gente precisa estar atenta a tudo e buscar inspiração não só em moda. Dá para a gente buscar inspiração na arquitetura, em carro, em assuntos diversos, na astronomia, dá para a gente ir para tantos caminhos falando de moda, que é muito abrangente. Eu acho que manter contato com o que você acredita é uma boa coisa para manter a criatividade. Mas também respeitar os seus momentos de bloqueio. Quem trabalha com criatividade não tem jeito, vem grande o bloqueio emocional, aí acho importante também parar, dar uma respirada e depois voltar a trabalhar. 

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Foto: Styling (Reprodução)

Indica um livro que todo stylist deveria ler? 

F.G.: Eu tenho lido algumas biografias e agora estou querendo saber tudo sobre Vivienne Westwood. Folheei algumas páginas da biografia dela na última viagem que fiz e estou ensaiando para comprar. E o de fotografia “The New Black Vanguard: Photography Between Art and Fashion”.

Compartilha uma dica para quem está pensando em seguir a profissão. 

F.G.: Vá com paciência, com vontade de aprender. Eu sei que pode até soar um pouco genérico o que eu vou falar, mas realmente você precisa ter paciência para não pular as fases. Eu acho que quando você está aberto a aprender de fato é muito legal, compartilhar essa experiência com quem trabalha há muito mais tempo que a gente.

E estude, estude muito, consuma livros, de tudo o que envolva estudo. É a maior arma para a gente ter embasamento para a gente conseguir entender as coisas e defender o que a gente acredita. Trabalhar com moda é um pouco disso, não é fútil, moda é muito mais que roupa. O estudo é nossa maior arma.

Para se formar como stylist e/ou produtor de moda, há cursos disponíveis em instituições como o Senac, IED, Belas Artes e Istituto Marangoni. Dá para fazer na modalidade técnica, curso livre ou até pós graduação, dependendo do seu objetivo. Apesar de não ser obrigatório, o curso pode ser uma boa maneira de entrar na profissão, para ter uma noção de moda e começar uma rede de contatos. 

Esse foi mais um dos nossos conteúdos sobre carreira de moda. Quinzenalmente, trazemos por aqui dicas de profissionais, que compartilham um pouco da própria experiência no mercado de trabalho. 

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