A fotografia de moda é mais uma das áreas possíveis quando falamos de carreira dentro da indústria. O fotógrafo de moda tem diversas possibilidades de trabalho, seja captando o street style, clicando campanhas publicitárias para marcas de moda, fotografando desfiles, fazendo capas de revistas ou tudo isso junto. É uma profissão que exige além de estudo, um certo olhar para definir que imagem de moda ele vai construir.
O fotógrafo especializado em moda tem uma visão diferenciada, precisa ser criativo e capta muito além da roupa, afinal, moda é sobre imagem, conceito, criatividade e expressão. O profissional é quem vai contar a história do look, da peça e até de quem a veste através da captação do momento.
Para falar um pouco mais sobre essa profissão, nós conversamos com a Nancy Garcez e o Pedro Bert, do A LOT OF TROUBLE, duo brasileiro que construiu carreira internacional com um projeto criativo de fotografia e criação de conteúdo. Vem conferir nosso bate papo:
STL: Primeiro, conta um pouco sobre como começou a carreira de cada um de vocês?
A LOT: Ambos viemos de formações criativas, publicidade e design de moda. Depois de um período de formação trabalhando no mercado de música e moda, começamos a nos envolver com fotografia, um estudo que levou a um próximo passo que seria a busca pela mudança para um mercado onde entendíamos que poderia nos abrir mais oportunidades dos que as que tínhamos no Brasil.
Por que vocês decidiram se juntar e trabalhar juntos?
A LOT: Foi completamente natural. Sempre conversamos sobre novas ideias e oportunidades a partir de coisas que observamos. Acho que a necessidade de estar sempre criando fez com que nos uníssemos para canalizar nossos projetos de forma organizada, se é que isso é possível.
Qual foi o ponto-chave para vocês alavancarem a carreira?
A LOT: Vontade e persistência. Especialmente quando se vive fora, não existe zona de conforto. Você sempre tem tudo para desistir. O trabalho colaborativo ajuda muito nessas horas.
Sabemos que você, Nancy, trabalha com a parte de relacionamento com cliente, cuida das redes sociais e vocês trocam sobre todo o trabalho, enquanto a fotografia fica a cargo do Pedro. Qual a importância de ter alguém junto para impulsionar as ideias e expandir o trabalho?
A LOT: Podemos dizer que tudo passa por nós dois. Acreditamos muito em processo e em trabalho e, para isso, tudo precisa caminhar junto. Ter com quem trocar é essencial, estamos sempre pensando à frente.
O que é necessário para começar na fotografia de moda? O que é importante estudar?
A LOT: Muita gente não compreende exatamente qual é a nossa profissão, a ALOT pra gente é um projeto onde podemos empregar todas nossas ideias sem rotular nossa imagem a um perfil específico de trabalho. Hoje nós nos vemos simplesmente como criadores de conteúdo, gostamos de manter abertura para todo tipo de projeto, sem se fechar a fotografia, vídeo, texto, temos paixão por compartilhar, a internet é um lugar para se dialogar. Nessa profissão é preciso ser um bom observador. As oportunidades estão em todos os lugares, quanto mais conteúdo se absorve, mais se amplia a visão. No nosso caso, compreender o mercado de moda, em especial o de luxo, passa por um bom background em história da arte, cinema, fotografia, publicidade e estar sempre ligado à tecnologia.
Como é o dia a dia de um fotógrafo de moda?
A LOT: Depende, se você está trabalhando através das suas ideias ou de trabalhos comissionados, mas o principal é sempre ter bagagem para resolver as situações com soluções criativas.
Qual a diferença entre um trabalho de street style para o de campanhas, por exemplo?
A LOT: São completamente diferentes. Mesmo dentro da fotografia de street style, existem múltiplas formas de expressão. A própria A LOT OF TROUBLE se usa de modos diferentes para representar as ruas. Nas ruas não temos exatamente um briefing, campanhas dependem absolutamente de ideias preconcebidas, embora muitas vezes se chegue ainda a um trabalho final completamente diferente, não menos satisfatório. Mas em ambos, pra nós, o grau de surpresa é o que nos move.
O fotógrafo é sempre autônomo ou ele também pode trabalhar para uma empresa?
A LOT: Muitos fotógrafos trabalham em estúdios, internamente em marcas ou de forma autônoma.
Como é o mercado de trabalho para o fotógrafo de moda?
A LOT: Como qualquer setor da moda, é completamente restrito.
Vocês decidiram empreender fora e construíram uma carreira internacional. Qual a diferença do mercado no exterior para o do Brasil?
A LOT: Os desafios para quem empreende nunca são fáceis. No Brasil ou no exterior, para empreender é sempre preciso ter um certo grau de obstinação no que está se propondo a fazer. O mercado de moda no exterior é muito mais abrangente, mas o mais importante para nós é poder vivermos a moda nas ruas, o grande diferencial de fato em comparação com a visão que tínhamos de moda quando morávamos no Brasil. Talvez as ruas sejam a nossa virada de chave, na verdade.
Como ter visibilidade no ramo?
A LOT: Achar a sua forma de expressão, principalmente nas plataformas digitais.
Quais são os maiores desafios da profissão?
A LOT: Seria difícil pontuar todos! Hahaha Talvez o maior desafio seja não desistir. Quando estamos a um dia de terminar uma fashion week sempre achamos que vai ser a última, mas no último dia sempre estamos pensando quando será a próxima. É preciso um grau de loucura.
Ser fotógrafo exige um investimento alto em equipamentos. Para quem ainda não pode ter uma câmera, dá para começar a praticar com a câmera do celular?
A LOT: Definitivamente. Grandes imagens não necessariamente passam por lentes grandes.
Uma dica para quem está pensando em seguir a carreira na fotografia de moda.
A LOT: Observe o mundo. Encontre a sua maneira de representar o que você vê. Tente compreender como os fotógrafos de quem você gosta chegam àquele resultado final.
Indiquem um livro essencial para qualquer fotógrafo de moda?
A LOT: Na nossa percepção, quem quer trabalhar com qualquer tipo de criação necessita ampliar os pontos de vista em relação ao maior número de aspectos possíveis. Passa por um trabalho de concepção intelectual. Somos apaixonados por livros, poderíamos indicar uma dezena deles que acreditamos serem essenciais, mas aqui ficam dois: Camera Lucida, Roland Barthes e O imaginário segundo a natureza, Cartier-Bresson.
Para se formar em fotografia de moda, há alguns cursos disponíveis que ensinam todas as técnicas necessárias para a profissão, como o do Senac. Mas também é super importante treinar o olhar, praticar e, claro, acompanhar outros trabalhos na área.
Esse é mais um conteúdo da nossa série sobre carreira de moda. Toda quinzena conversamos com profissionais de várias áreas dentro da indústria para tirar dúvidas e escutar cada olhar sobre a profissão.
