Medicina do Estilo de Vida: como o medidor de glicose melhorou minha saúde

por Manuela Bordasch

Por muito tempo, nunca me vi como alguém que poderia seguir uma rotina de exercícios e alimentação. No entanto, há alguns anos, uma série de sintomas como cansaço, fadiga e sonolência, por exemplo, começaram a me incomodar, fazendo com que eu quisesse buscar um estilo de vida mais saudável.

Foi então que, no início do ano passado, por recomendação da chef Marina Zaverucha, me deparei com o perfil da "Glucose Goddess". Confesso que fiquei profundamente interessada pelo tema que ela, com maestria, aborda em suas redes sociais. A partir desse momento, mergulhei na busca por conhecimento sobre saúde e bem-estar relacionadas ao tema.

Durante minhas pesquisas, encontrei a Dra. Lu Comerlato, especialista em Medicina do Estilo de Vida pelo International Board of Lifestyle Medicine, e desde então, com acompanhamento da Dra. Lu, venho fazendo mudanças dentro da minha rotina, na qual já pude notar uma grande diferença nas minhas queixas. 

Mas antes de compartilhar minha experiência com você, pode ser que você esteja se perguntando: o que exatamente é um médico do estilo de vida? Para esclarecer, gostaria de passar a palavra à Dra. Lu, para depois retomar meu relato e compartilhar minhas experiências.

Na imagem, uma mulher veste uma blusa de tricô sem mangas em tom neutro, com um colar discreto. Ela está em uma videochamada com outra mulher que usa camiseta branca básica. Estilo casual e descontraído, seguindo tendências de simplicidade e conforto.
Foto: Manuela Bordasch e Dra. Lu Comerlato (Reprodução)


afinal, o que é a medicina do estilo de vida?

A Medicina do Estilo de Vida é uma abordagem da prática médica que coloca ênfase na prevenção e tratamento de doenças através de mudanças no estilo de vida dos pacientes. Em vez de depender exclusivamente de medicamentos ou procedimentos invasivos, os profissionais de medicina do estilo de vida trabalham com os pacientes para identificar e modificar hábitos que possam estar contribuindo para problemas de saúde.

Essa abordagem considera diversos aspectos do estilo de vida, como dieta, atividade física, sono, estresse e relacionamentos interpessoais. Os médicos do estilo de vida geralmente adotam uma abordagem personalizada, trabalhando em estreita colaboração com os pacientes para desenvolver planos de tratamento individualizados que se alinhem com seus objetivos de saúde e bem-estar.

O foco principal da Medicina do Estilo de Vida é promover mudanças duradouras e sustentáveis no comportamento, visando não apenas tratar doenças existentes, mas também prevenir sua ocorrência futura. Essa abordagem procura capacitar os pacientes a assumir um papel ativo em sua própria saúde, fornecendo as ferramentas e o conhecimento necessários para fazer escolhas saudáveis no dia a dia!

STL.: É uma especialidade ou prática recomendada a todos?

L.C: A Medicina do Estilo de Vida não é formalmente uma especialidade no Brasil, mas é uma prática recomendada a todos os pacientes. Médicos de diversas especialidades, como endocrinologistas, cardiologistas e clínicos gerais, podem incorporar os princípios da Medicina do Estilo de Vida em suas práticas. O objetivo é promover hábitos saudáveis que possam prevenir e tratar doenças crônicas.

STL.: Por onde começar a cuidar da saúde?

L.C: Para começar a cuidar da saúde, é fundamental fazer mudanças simples no estilo de vida. Isso inclui adotar uma alimentação balanceada, incorporar atividades físicas regulares, reduzir o estresse e melhorar a qualidade do sono. Pequenas ações, como caminhar após as refeições e monitorar a ordem dos alimentos no prato, podem ter um impacto significativo na saúde geral.

STL.: Quais profissionais trabalham esse conceito?

L.C: Diversos profissionais de saúde podem trabalhar com o conceito da Medicina do Estilo de Vida. Isso inclui médicos de diversas especialidades, nutricionistas, psicólogos e outros profissionais da saúde. Todos esses profissionais podem ajudar a promover hábitos saudáveis e mudanças no estilo de vida para melhorar a saúde dos pacientes.

STL.: E qual o objetivo principal?

L.C: O objetivo principal da Medicina do Estilo de Vida é prevenir e tratar doenças crônicas através da promoção de hábitos saudáveis. A abordagem visa modificar o estilo de vida dos pacientes, considerando fatores como alimentação, atividade física, sono, estresse e ambiente familiar, para melhorar a saúde geral e a longevidade.

STL.: Existe alguma ''métrica'' de saúde que todos devam sempre levar em consideração?

L.C: Sim, uma métrica de saúde importante que todos devem considerar é a resistência à insulina. Essa condição está associada a diversas doenças crônicas, como diabetes, síndrome dos ovários policísticos e problemas cardiovasculares. Sintomas como fadiga, compulsão por doces e "brain fog" podem indicar resistência à insulina. Portanto, é crucial monitorar e gerenciar a insulina no corpo através de um estilo de vida saudável.

STL.: Porque cuidar da glicose/insulina está sendo tão falado atualmente?

L.C: Cuidar da glicose e da insulina está sendo muito discutido atualmente porque a resistência à insulina é um dos principais fatores de risco para muitas doenças crônicas. Picos constantes de glicose e insulina podem levar a condições como diabetes e doenças cardíacas. A educação sobre como diferentes alimentos e atividades impactam os níveis de glicose no sangue é fundamental para manter a saúde e prevenir essas doenças.

minha experiência com o medidor de glicose

Antes de prosseguir, é importante mencionar um outro fator que foi um impulso significativo para eu começar a monitorar minha saúde de forma mais ativa: um teste genético que fiz no 23andMe - que, pra quem não sabe, além de histórico genético, ele traz, através de um exame de saliva, possíveis pré-disposições de doenças. Esse teste revelou que eu tenho uma probabilidade de 33% de desenvolver diabetes tipo 2. Esse dado também serviu como um despertar para a importância de cuidar melhor da minha saúde.

Gráfico sobre a probabilidade genética de desenvolver diabetes tipo 2, mostrando uma chance estimada de 33% para pessoas de ascendência europeia de acordo com dados da 23andMe. Inflama a importância da genética e fatores como peso e inatividade física.
Foto: Manuela Bordasch (Reprodução)

Para conseguir entender melhor algumas das minhas queixas, comecei a usar um monitor de glicose que pode ser conectado diretamente ao consultório do médico. Dessa forma, você consegue fazer anotações sobre o que está ingerindo durante o dia e como se sente após ingerir cada alimento.

O medidor específico que usei foi um facilmente encontrado e aplicado na farmácia Panvel, mas também disponível em outras redes, com duração de 14 dias.

Imagem mostrando um sensor de glicose da marca FreeStyle Libre. Uma jovem veste uma camiseta branca básica e jeans de cintura alta, exibindo a tendência de moda casual e confortável. Ao lado, telas do aplicativo FreeStyle LibreLink.
Foto: Manuela Bordasch (Reprodução)

A partir disso, podemos notar imediatamente que muitas das minhas queixas, como cansaço e até mesmo fome/saciedade, estavam diretamente ligadas a quedas de glicose que vinham após picos muito altos, devido à minha alimentação. Por exemplo: após comer um cachorro-quente, meu corpo tinha um pico imediato seguido por uma queda brusca, como é possível entender na imagem abaixo. 

Imagem de interface do aplicativo FreeStyle LibreLink mostrando dados de glicose, indicando uma leitura recente e uma média das últimas 24 horas. Ao lado, uma foto de um hot dog coberto com ketchup e uma lata de Coca-Cola.
Foto: Manuela Bordasch (Reprodução)

Isso quer dizer que eu nunca mais pude comer coisas de que gosto? Claro que não! Obviamente, o ideal é ir fazendo substituições saudáveis, mas meu principal ponto sempre foi fazer substituições possíveis dentro da minha rotina e dos meus gostos alimentares. Dessa forma, a Dra. Lu, depois de entender bem o meu funcionamento, pôde indicar a combinação de alimentos que evitassem picos tão elevados.

Na imagem abaixo, podemos ver um exemplo claro: o pico gerado por comer melão sozinho, ou se combinado com uma proteína.

Infográfico ilustrando o impacto glicêmico de diferentes combinações de alimentos: fatias de melão sozinhas versus combinadas com fatias de presunto. Gráficos demonstram a variação na glicose sanguínea ao longo do tempo. @glucosegoddess.
Foto: Isabella Aredes (Reprodução)

Desde então, através de substituições ou complementos possíveis, venho notando uma melhora significativa em relação às minhas queixas, sem ter que fazer dietas malucas ou insustentáveis a longo prazo. Outro ponto bastante curioso foi que pude também notar a associação de picos a momentos de stress ou a noites mal dormidas, por exemplo.

Mas antes de finalizar, passo a palavra novamente para a Dra. Lu, que vai contar um pouco da experiência dela e explicar de maneira mais técnica o porquê dessas mudanças. Também já aproveito para contar aqui uma novidade que nos deixou muito animadas: a partir de agora teremos a Dra. Lu como colaboradora fixa do STL, trazendo ainda mais informações e pautas relacionadas à medicina do estilo de vida para que possamos trazer informações confiáveis e bons hábitos :)

Pessoa usando roupas de ginástica: top branco com legging, top vermelho e shorts bege. Os looks são indicados para atividades físicas ao ar livre e exercícios de ioga ou meditação. As roupas são confortáveis e seguem tendências de moda fitness.
Foto: Dra. Lu Comerlato (Reprodução)

Como médica certificada em Medicina do Estilo de Vida e entusiasta da fisiologia do metabolismo humano, vejo diariamente em minha prática clínica como a união desses conhecimentos tem transformado a vida dos meus pacientes. Na medicina do estilo de vida, buscamos mudanças que sejam transformadoras, duradouras e sustentáveis para a prevenção de doenças crônicas e a melhora da qualidade de vida.

O autoconhecimento metabólico proporcionado pela monitorização contínua de glicose é uma ferramenta valiosa nesse processo. Entender o que está acontecendo no próprio corpo é uma verdadeira virada de chave na busca pela saúde. A monitorização permite ao paciente identificar quais alimentos, atividades físicas, níveis de estresse e padrões de sono provocam picos e quedas reativas de glicose, possibilitando ajustes precisos na dieta e no estilo de vida.

Com um controle glicêmico adequado, muitos fatores do dia a dia são resolvidos, como compulsão por doces, ansiedade, efeito sanfona, dificuldade para perder peso e falta de energia. Os pacientes frequentemente relatam uma melhora significativa nos níveis de energia, humor mais estável, redução da fadiga e uma sensação geral de bem-estar. Considero esse processo essencial para o emagrecimento sustentável e a prevenção do efeito sanfona, pois aborda não só a maneira como nos alimentamos (e aqui, acredite, você não precisará mais contar calorias, mas pensar na qualidade e no impacto delas no seu corpo) mas também como o nosso estilo de vida gera respostas metabólicas e hormonais.

Essa abordagem não só beneficia meus pacientes, mas também tem impactado positivamente a minha própria saúde e qualidade de vida, já que também faço uso pessoal do monitor contínuo de glicose. Nesse processo, notei melhora na minha disposição, eliminação do efeito sanfona, melhora da qualidade do sono e redução de episódios de ansiedade. Essa experiência pessoal reforça minha crença no poder do autoconhecimento e da medicina do estilo de vida como ferramentas para viver de forma mais saudável e equilibrada.

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