Minha jornada com a ansiedade: como viver melhor sendo uma pessoa ansiosa

por Leticia Moschion

Sempre me considerei uma pessoa ansiosa e, na minha cabeça, essa era a única forma de definir como eu me sentia em situações que podem passar despercebidas para muitas pessoas. Eu sempre fui muito empolgada até nas situações mais cotidianas, como organizar uma mala para viajar semanas antes da data, separar (e também vestir) a roupa que eu usaria no dia seguinte, iniciar pequenos ou grandes planejamentos (sem nunca de fato conseguir pôr em prática), entre muitas outras situações.

Da mesma forma que eu não dava muita atenção nos meus comportamentos do dia a dia, também tinha muita curiosidade em fazer terapia para me entender melhor — mas sempre busquei inúmeras desculpas para justificar que ainda não estava no momento certo. Depois de adiar tanto tempo, finalmente iniciei o processo com a minha psicóloga e parecia que tudo estava começando a se encaixar. Assim, consegui analisar com mais atenção alguns padrões que eu repetia no ambiente familiar, trabalho e também com amigos. No entanto, mal sabia eu de tudo que iria enfrentar. 

Jovem com cabelo preso em coque despojado, vestindo regata preta básica, exibe tatuagens no braço. Tendência minimalista e casual, ótima para dias quentes e ambientes informais. Estilo prático e confortável. Pessoa Ansiosa.
Foto: Letícia Moschion (Reprodução)


Depois de algumas sessões de terapia e de achar que a minha relação com a ansiedade já estava mais controlada, vivi algo que nunca tinha sentido antes. De repente, após uma noite muito agradável com as minhas amigas em um bar, cheguei em casa cansada, mas ainda disposta a ver um filme. Assisti um, dois… quando cheguei no terceiro, tive que pausar no meio por sentir falta de ar de uma forma muito atípica. 

Foi realmente assustador, quem sofre com crises de ansiedade sabe bem do que eu estou falando.  Após chegar no hospital de madrugada com a certeza que eu estava tendo um ataque cardíaco, fui oficialmente apresentada à tal da ansiedade.

Depois de alguns exames, fui diagnosticada com ansiedade generalizada — que, de forma resumida, é a doença das preocupações em excesso — e foi muito difícil entender que algumas atitudes tão naturais do meu dia a dia na verdade eram reflexo dessa condição. Com base nesse diagnóstico, consegui entender mais a fundo meus sintomas que antes eu considerava apenas como uma normalidade da rotina: paralisação ao me deparar com muitas tarefas sem conseguir iniciar nenhuma, irritabilidade frequente e nervos à flor da pele, sentimento de culpa excessiva, sensação de sobrecarga, aumentar momentos de isolamento, insônia, entre outros.

Pessoa caminhando pela cidade com estilo casual e descontraído, usando camiseta branca larga, calça marrom de tecido fluido e boné vermelho. Visual urbano, confortável e contemporâneo, tendência de moda atual. Pessoa ansiosa.
Foto: Letícia Moschion (Reprodução)

Eu sempre lidei com a ansiedade como “a doença do século”, depois de tantos amigos, amigas e familiares passarem pelas mesmas situações. E, com base na minha experiência como pessoa ansiosa, quero dividir uma série de atividades e truques que descobri durante minha jornada para amenizar a condição, dentro do possível:

iniciar um trabalho manual é ótimo

Quando eu me sinto muito sobrecarregada, preciso tirar um tempo para colocar a minha atenção em outra atividade. Pode ser um jogo, organizar algum cantinho do guarda-roupa, cozinhar, desenhar ou até mesmo desenroscar aquele colar que eu nunca mais usei depois que deu o nó. O importante é mudar o foco para não alimentar a ansiedade. Além da distração, sempre sinto um certo prazer em fazer algo do início ao fim, mesmo que seja totalmente aleatório.

Letreiro neon estiloso com a frase
Foto: Velocity (Reprodução)

a pessoa ansiosa precisa dos exercícios físicos

Eu sei que é muito legal fazer um stories do seu esporte ou atividade do dia (eu mesma amo fazer), mas, além disso, é ESSENCIAL para quem é ansiosa — e, segundo minha psicóloga, praticamente obrigatório — fazer exercícios físicos para melhorar a qualidade do sono, estimular a produção de serotonina (o hormônio da felicidade), equilibrar os hormônios e até mesmo ajudar na socialização. Eu, por exemplo, sempre fui muito preguiçosa, e tem sido um ótimo incentivo marcar exercícios com amigos, já que a chance de eu não ir ou simplesmente desmarcar é bem menor.

considere reduzir as bebidas alcoólicas

Sempre fui do time dos inimigos do fim, que ama ir de rolê para rolê e beber “socialmente” sextas e sábados. Quando parei para analisar, percebi que comecei a fazer isso no primeiro ano de faculdade e, desde então, não lembrava de uma semana com uma rotina diferente. Resolvi me desafiar a ficar um tempo sem beber para testar como a minha ansiedade ia reagir e, para surpresa de ninguém, obviamente senti a diferença positiva. A partir desse momento, comecei a planejar um dia a dia mais equilibrado: beber só a cada 15 dias, não beber durante dias da semana, nem dois dias seguidos, não beber muitos drinks com energético ou cafeína, beber só em datas especiais etc. Além do impacto positivo na questão saúde, eu senti mais confiança por estar no controle do meu próprio corpo — além disso, a sensação de “desintoxicar” é muito boa.

Imagem de um ambiente aconchegante, destacando uma luminária moderna com design curvilíneo e luz suave. Mesa de vidro com Kindle e xícara de café, evidenciando um estilo minimalista e tendências de simplicidade e conforto. Pessoa ansiosa.
Foto: Letícia Moschion (Reprodução)

melatonina como aliada da pessoa ansiosa

Por ser uma pessoa ansiosa, tive dificuldade para dormir a noite por muitos anos, mas assim que descobri a melatonina, seja em gummy, comprimido ou sublingual, percebi que ela fez uma diferença muito positiva na minha vida. É algo que realmente me ajuda na rotina para conseguir relaxar no final do dia, além de me fazer pegar no sono muito mais rápido. Claro que tive recomendação médica para iniciar o uso, então vale conferir com seu médico de confiança.

é importante dedicar um tempo maior para si mesma

Até hoje eu amo estar com meus amigos, namorado, familiares, afinal, sempre preferi estar acompanhada do que sozinha. Porém, depois de muitas consultas às 8h da manhã com a minha psicóloga, decidi passar mais tempo comigo mesma, da forma mais natural possível, para não sentir nenhum tipo de pressão. 

Para isso, voltei a escrever todos os dias — sim, com papel e caneta, como incas e maias faziam — e isso me dá uma paz mental que não sei explicar. Ver as minhas ideias/pensamentos fora da cabeça também me traz a sensação de controle e de análise, e hoje é algo que faço sem nenhum tipo de cobrança, apenas entrou para minha rotina. 

Além disso, criar hobbies me ajudou muito nesse momento de reconexão! Eu sou apaixonada por música e uma das minhas estratégias foi tirar um tempo para criar playlists para todos os moods possíveis. Fiquei horas ali comigo mesma, o celular com todas as notificações desativadas e a minha própria companhia — algo que eu achava que nunca iria conseguir fazer.

É válido qualquer tipo de hobbie: maratonar filmes, finalmente ir visitar seus brechós salvos no Instagram/Tiktok, ler, experimentar uma receita nova… o céu é o limite!

Look casual e descontraído: camisa branca oversized, boné preto com estampa
Foto: Letícia Moschion (Reprodução)

não abra mão da terapia

Claro que todas essas ações acima foram muito relevantes durante a minha jornada de pessoa ansiosa, mas é fundamental sempre ter um acompanhamento terapêutico, considerando a melhor opção que encaixar na sua rotina (e também no bolso!). Depois da terapia, tive uma virada de chave e evolução pessoal/ profissional de uma forma muito mais fácil — não que tenha sido fácil, porque não são só flores e insights em toda sessão — e é algo que não abro mão hoje em dia. Além da terapia, tenho acompanhamento com a minha psiquiatra para tratamento e nesse momento é importante não ter vergonha disso, até porque vergonha é não se cuidar! 

Com base na minha experiência, todas essas dicas e aprendizados tiveram um grande impacto no meu autoconhecimento e autocontrole. É muito importante reforçar que essa jornada ainda não teve um fim, mas caso você se identifique: busque ajuda e orientação médica para saber o melhor caminho. Afinal, cada organismo funciona de um modo, além da ansiedade se camuflar de diversas formas.

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