Imagine se sentir tão incomodada com algo em sua aparência que isso te traz sofrimento emocional. Conviver com o sentimento de que precisa ser "consertada" a qualquer custo para que possa ser aceita. E, ao compartilhar esses sentimentos, ter a impressão de que ninguém enxerga o que você vê ao olhar no espelho. Como se o seu espelho não refletisse mais a realidade. Esse cenário que eu descrevi é a vida de alguém com transtorno dismórfico corporal, também chamado de dismorfia corporal.
A dismorfia corporal vai além do incômodo com uma característica física. Ela se caracteriza por um sentimento de que o "defeito" percebido toma proporções de inadequação, e em alguns casos mais graves, a pessoa pode até se sentir como uma "monstruosidade" humana.
Atualmente, ao abrir qualquer rede social, nos deparamos com diversas pessoas com aparência perfeita, pele com filtros, sem nenhum poro aparente, gerando a fantasia de que a perfeição é possível e viável. Essa facilidade de comparação torna o ambiente ainda mais propenso ao desenvolvimento do transtorno dismórfico corporal. A Giu já nos contou aqui sobre a experiência dela tentando ter uma pele perfeita e de como uma reflexão com a psicóloga dela mudou essa percepção de necessidade de pele perfeita. Afinal, qual é a viabilidade de uma aparência perfeita "ao vivo"?
Com o retorno da magreza extrema, me sinto na obrigação de salientar que a maior parte dos transtornos dismórficos corporais se refere à cabeça e pescoço, porque quando os sintomas se iniciam com alguma questão do pescoço para baixo, geralmente evoluem para transtornos alimentares. Especialmente a anorexia nervosa, na qual há restrição alimentar e pode haver purgação, ou a bulimia nervosa, havendo comportamentos compulsivos alternados com purgações.
Historicamente, nós, mulheres, sempre tivemos nosso capital social associado à beleza. Capital social é o valor que o indivíduo tem baseado no papel social que é esperado que exerça. Por isso, mesmo com o advento dos movimentos feministas nos trazendo tantos progressos, ainda precisamos lutar contra a pressão estética. É como se envelhecer, engordar ou não ser perfeita nos tornasse uma grande fraude.
Eu não sei se essa é sua história. Se for, procure ajuda psicológica. Mas se essa não for sua história, você também pode ter um papel ativo nessa luta, seja postando fotos neutras, sem filtros ou retoques, ou elogiando uma mulher pelos seus atributos intelectuais. Nosso valor não é medido pela nossa beleza, e não merecemos adoecer nesse processo.