O que será de nós com o fim do Twitter?

por Karen Merilyn

Agora que fazem quase três semanas que o Twitter saiu do ar no Brasil, acho que podemos começar a aceitar que ele não volta tão cedo. Eu, como muitos usuários, ainda não consigo saber como será a internet sem essa rede social. E nesse post póstumo, acho que tenho o direito de chamá-la pelo nome de batismo, em vez de “X”.

Com seu fim, me vem à cabeça muitos questionamentos: como será o consumo de informação a partir de agora? O Blue Sky ou o Threads irão realmente substituir o Twitter permanentemente? Perderemos mesmo todos os anos de memórias, piadas, memes e discussões que tivemos por lá? São questões que, vale ressaltar, não têm a ver com os motivos pelos quais a rede saiu do ar — e, menos ainda, com o seu atual dono. Acho que todo mundo que era cronicamente online por lá está meio perdido, porque tínhamos, além de tudo, um vínculo afetivo com o Twitter.

Print de uma postagem no Twitter com foto de perfil de uma mulher loira usando casaco vermelho. Texto da postagem fala sobre o calor e a importância de beber líquidos. Publicada em 25/02/2013. Recebeu 14.816 retweets e 3.246 curtidas.
Foto: Tweet icônico da Xuxa (Reprodução/Twitter)


Para quem não vivia por lá, poderia parecer um lugar hostil, mas a verdade é que o Twitter esteve com muita gente desde o início da adolescência e sobreviveu mesmo depois do fim do orkut, do auge e a perda de popularidade do Facebook e continuou sendo relevante como uma rede social de texto quando as fotos e vídeos dominaram a internet com o Instagram e TikTok. Mais do que um espaço em que compartilhávamos as informações mais triviais, era um lugar em que todo mundo podia falar sozinho ao mesmo tempo e tudo bem, ou, em contrapartida, todo mundo podia se juntar para falar da mesma coisa. 

Imagem de captura de tela do tweet
Foto: Tweet fatídico da Lady Gaga (Reprodução/Twitter)

Por mais que às vezes as coisas saíssem um pouco do controle, não dá pra negar que era do Twitter BR que saíam as melhores piadas, onde qualquer assunto virava algo engraçado — não por acaso, tudo que saía de lá virava print no Instagram em páginas de humor. 

Foi por lá que vivemos coletivamente muitos eventos canônicos, como a vinda educadíssima da Beyoncé ao Brasil, só para dizer que não vinha, ou o fatídico cancelamento do show da Lady Gaga com o eterno “Brazil, I’m devastated” (que fez sete anos essa semana, inclusive). 

Texto verde-limão com
Foto: Brat (Reprodução)

Lançamentos de álbuns de divas pop, momentos marcantes de reality shows, memes, desfiles de moda, premiações… tudo parecia uma experiência coletiva, porque era lá que podíamos opinar e fazer piada sobre tudo. Os twitteiros eram comentadores profissionais de qualquer assunto ou evento que estivesse em alta. Foi graças ao Twitter, por exemplo, que realities tiveram edições históricas, que álbuns como “brat” se tornaram um sucesso absoluto, que subcelebridades tiveram sua fama potencializada. 

Tweet de Ângela Bismarchi expressando opinião sobre temperaturas extremas, preferindo 0°C. Twitter.
Foto: Tweet de Ângela Bismarchi (Reprodução/Twitter)

É claro que não vou dizer que eram mil maravilhas o tempo inteiro. Pelo contrário, a parte boa era mais ou menos 50% da rede. Não por acaso, eu tinha em torno de 100 palavras silenciadas por lá, relacionadas a assuntos que eu não aguentava mais ler. No entanto, se você treinava bem seu algoritmo e tinha uma bolha legal, era a melhor experiência diária. Com o tempo, você passava a não levar a sério os debates semanais sobre os mesmos assuntos: monogamia, pai ausente, minoria metafórica, alguma descoberta nada surpreendente sobre algum famoso e por aí vai.

Acho que podemos dizer que para se manter no Twitter era necessário entender a dinâmica de lá e isso, definitivamente, não era para qualquer um. Porém, a maioria de nós cresceu tweetando, então era natural entender a ironia, os textos com referências internas, que qualquer um está sujeito a um chapisco coletivo, que a cada dia a timeline tinha uma nova obsessão. 

Perfil do Twitter
Foto: Twitter de acervo de memes (Reprodução/Twitter)

Além disso, o Twitter era uma espécie de museu da internet, com perfis de arquivos de fotos, vídeos e prints que fizeram história nesses anos todos, e também, é claro, perfis como a Escriba do Umbral, que fazia questão de registrar todas as discussões do tribunal das pequenas causas em threads anuais. 

Imagem de título
Foto: Fim do Twitter (Reprodução/Twitter)

Por tudo isso, acho que ficar sem Twitter é muito mais que o tal do “Fear of Switching Off” (medo de se desconectar), é realmente um sentimento de perda de algo que foi tão presente na história de tanta gente. Como muitos comentaram, essa rede era o jornal matinal da nossa geração, onde nos informávamos ao acordar (não necessariamente sobre assuntos relevantes), ao mesmo tempo que era uma espécie de diário, já que compartilhávamos desde conquistas gigantes até o que comemos no almoço. 

Twitter do @Petkovic10, com uma mensagem motivacional sobre a Copa de 2014. Postado em 19 de julho de 2010, o tweet acumulou 138 mil retweets e 41,4 mil curtidas.
Foto: Tweet do Petkovic (Reprodução/Twitter)

No Twitter sorrimos, choramos, fizemos piadas, falamos de assuntos sérios, passamos raiva, nos expusemos um pouco além da conta, conseguimos interagir com nossos artistas favoritos, descobrimos golpes, desvendamos mistérios e levamos tópicos que misturavam tudo isso para os assuntos mais comentados do mundo. Por isso, não é surpresa que estejamos nos perguntando: como será a internet sem essa rede social?

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