Onde foram parar as festas?

por Giulia Coronato

Quando penso nos adolescentes e jovens adultos de hoje, especialmente os que estão começando a vida na casa dos vinte, a imagem que me vem à mente é bem diferente daquela que nossa geração, nascida entre 1996 e 2000, experimentou. Antigamente, os jovens eram conhecidos por uma vida cheia de baladas, festas e encontros com os amigos. Mas, ao que tudo indica, esse estilo de vida está mudando. A nova geração parece mais caseira, com menos interesse por grandes eventos sociais, e as baladas, como as conhecíamos, praticamente desapareceram.

Recentemente, em uma conversa com minhas amigas de infância, refletimos sobre como nossa geração foi a última a experimentar a juventude da maneira como a conhecemos, com festas e muita diversão. Embora os jovens de hoje ainda busquem formas de se divertir, os eventos sociais estão cada vez mais raros, o que tem um impacto direto na felicidade dessa geração.

Taça de coquetel com borda de sal sendo segurada por mãos femininas com unhas bem feitas, ideal para festas.
Foto: O que aconteceu com as festas, afinal? (Reprodução)


o que aconteceu com os jovens?

Vivemos em um contexto no qual os adolescentes enfrentam uma sensação de crise existencial muito antes da idade adulta chegar. O mais preocupante é que, ao contrário do otimismo histórico que sempre foi associado à juventude, hoje os jovens estão reportando níveis mais baixos de felicidade do que os mais velhos. O Relatório Mundial da Felicidade evidencia essa tendência, com uma queda global nos índices de felicidade entre os jovens desde 2006, abrangendo América do Norte, América do Sul, Europa, Sul da Ásia, Oriente Médio e Norte da África.

No livro "A Geração Ansiosa", o pesquisador Jonathan Haidt aponta as redes sociais como um fator determinante nesse declínio da felicidade. Segundo Haidt, o aumento de doenças mentais entre os jovens desde 2010 não se deve apenas a uma maior disposição para discutir o tema, mas também à exposição constante às redes sociais, com destaque para o Instagram, lançado em 2010. O impacto de estar o tempo todo conectado e comparando-se com os outros tem sido devastador para a saúde emocional de muitos jovens.

Pessoa se divertindo em festas, segurando dois copos com drinques coloridos como se fossem óculos.
Foto: Pinterest (Reprodução)

o declínio das festas e tudo o que as envolve

No entanto, nem tudo é negativo nesse cenário. Há um movimento crescente de sobriedade entre os jovens. Uma pesquisa do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) revelou que 46% dos jovens entre 18 e 24 anos não consomem álcool, e 20% bebem apenas uma vez por mês ou menos. Outro estudo global indicou que 26% dos jovens se consideram totalmente abstêmios. Esses números sugerem uma mudança de comportamento em relação aos excessos da juventude.

A transformação também é visível no cenário das casas noturnas. A Night Time Industries Association revelou que, desde 2020, 37% das casas noturnas no Reino Unido fecharam, e muitas nunca reabriram. A razão para isso? O público jovem, que antes lotava esses locais, está ficando em casa. 

A tendência à sobriedade juvenil não se limita ao Reino Unido. Em 2024, o uso de drogas ilícitas entre adolescentes na América atingiu níveis historicamente baixos, segundo uma pesquisa da Universidade de Michigan. Mas por que essa mudança está ocorrendo? Embora seja impossível apontar uma única causa, muitos especialistas destacam que o isolamento proporcionado pelas redes sociais têm um papel importante. Ao mesmo tempo, os jovens estão mais conscientes sobre a saúde e o bem-estar, e a pressão financeira, a incerteza política e as mudanças climáticas contribuem para a crescente ansiedade dessa geração.

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Pessoa com bolsa dourada e top brilhante posa à noite em local elegante, ideal para festas.
Foto: Freya Broni (Reprodução/Instagram)

o papel dos pais

E agora, um novo desafio surge: o papel dos pais. Com tantas mudanças nas atitudes e comportamentos dos jovens, será que as gerações mais velhas estão preparadas para entender o que está acontecendo? E o mais importante, como podemos apoiar nossos filhos e jovens adultos para que eles encontrem equilíbrio entre o autocuidado e a sociabilidade, sem abrir mão de momentos de descontração e diversão?

A juventude de hoje não é menos intensa, mas expressa sua intensidade de maneiras diferentes das gerações anteriores. Se, por um lado, a diminuição da vida social pode parecer preocupante, por outro, a maior conscientização sobre saúde mental e bem-estar mostra uma geração mais reflexiva e cuidadosa. O desafio agora é entender como podemos acompanhar essa transformação sem julgar, oferecendo apoio e criando espaços para que os jovens possam crescer de maneira saudável e equilibrada, tanto na vida social quanto emocional.