Precisamos falar sobre a cultura da desifluência

por Izabela Suzuki

Você já se pegou desejando um produto que apareceu inúmeras vezes nas suas redes sociais, só para depois se perguntar se realmente precisava dele? Pois é, todos nós passamos por isso. Em tempos de consumo digital acelerado, a cultura da desinfluência surge como uma resposta curiosa e instigante, trazendo um novo olhar sobre o que significa ser influenciado.

Mas, afinal, o que está por trás desse movimento e por que ele está ganhando força entre as novas gerações? De acordo com a CNN, 582 das 584 milhões de visualizações totais da hashtag #deinfluencing no TikTok ocorreram nos últimos 12 meses, segundo dados de maio de 2023. Ou seja, para quem já se deparou com esses vídeos na For You Page (FYP), talvez seja o momento de reavaliar se você realmente precisa daquele produto tendência de R$ 550.

Mala de carro cheia de sacolas de compras de moda. Presença de marcas variadas indica tendências de consumo atual, com destaque para o estilo casual e moderno, valorizando a diversidade no vestuário.
Foto: Você precisa muito mesmo de um quarto tudo de base em casa? (Reprodução/Pinterest)


e o que é a cultura da desinfluência?

A cultura da desinfluência é um movimento relativamente recente que tem ganhado força nas redes sociais, principalmente como uma reação à cultura do consumismo exacerbado promovido por influenciadores digitais. Enquanto influenciadores tradicionais incentivam seus seguidores a comprarem produtos e adotarem estilos de vida, a desinfluência, por outro lado, prega uma postura mais crítica e consciente em relação ao consumo, encorajando as pessoas a refletirem antes de comprar ou adotarem novas tendências.

Ou seja, ao invés de seguir tendências cegamente, as pessoas questionem a real necessidade de adquirir novos produtos e reflitam sobre o impacto ambiental e social do consumismo.

É claro que, em meio a tanta informação acessível, especialmente nas redes sociais, é comum que um novo produto hypado na internet se torne o foco de nossa atenção, levando-nos a acreditar que precisamos desesperadamente daquele secador de cabelo, do mais recente removedor de maquiagem ou de uma versão atualizada dos fones que já temos em casa. É tentador e faz parte do ciclo do consumo capitalista, o que torna difícil resistir quando o algoritmo insiste em nos mostrar mais reviews daquela nova base, por exemplo.

É aí que entram os "desinfluenciadores", que, de forma objetiva e rápida, demonstram que você não precisa necessariamente daquele produto. Eles sugerem alternativas mais acessíveis ou simplesmente encorajam o uso do que você já possui, evitando o gasto impulsivo e desnecessário, como metade do salário em uma garrafa térmica.

Essa tendência ganha força no TikTok e no Instagram, onde vídeos de usuários desencorajando compras impulsivas ou relatando experiências negativas com produtos (anti-hauls) têm crescido em popularidade. O movimento busca maior autenticidade, responsabilidade social e propõe uma nova mentalidade sobre o que significa ser influenciado na era digital.

o atual minimalismo tem a ver com isso?

É um pouco complicado responder que sim, pelo menos no meu ponto de vista. Veja bem, enquanto muitas pessoas se mantêm fiéis ao seu estilo diversificado e criativo, explorando o maximalismo, outras preferem reduzir as peças de seus armários, optando por um guarda-roupa inteligente e cápsula, com poucas peças que se combinam bem entre si. Esse movimento se conecta ao discurso sustentável, defendido por desinfluenciadores que incentivam um consumo mais consciente e afastam a ideia de comprar peças de microtendências passageiras.

Algumas pessoas adotam essa postura ao evitar investir grandes quantias em roupas que logo sairão de moda, preferindo adquirir peças vintage de maior qualidade em brechós, o que gera um impacto ambiental e financeiro menor. No entanto, esse discurso, por mais encorajador que seja, tem suas complicações. Afinal, peças "básicas" e essenciais também podem ser encontradas em lojas de fast fashion a preços muito mais acessíveis. Isso levanta a questão: até que ponto estamos realmente nos afastando do consumo desenfreado em nome do minimalismo?

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Cultura da Desinfluência.
Foto: Será que o minimalismo que estamos vivendo está relacionado com isso? (Reprodução/Pinterest)

Se pararmos para refletir, desinfluenciar é, na verdade, uma nova forma de influenciar. Ao invés de encorajar o consumo desenfreado de dez peças de roupas, o movimento pode sugerir que se compre apenas duas, preferencialmente em brechós. Essa abordagem, embora menos extrapolada, ainda se insere no mercado de marketing de mídia, que continua a se beneficiar das plataformas sociais.

Em uma pesquisa de 2019, a Meta revelou que 83% das pessoas utilizam o Instagram para ajudar na decisão de compra de um produto ou serviço. No entanto, hoje em dia, o cenário está mudando. De acordo com o World Economic Forum, 75% da Geração Z prefere marcas que promovem práticas sustentáveis, o que fortalece o movimento da desinfluência. Esse movimento também está presente nas escolhas de consumo da moda, onde a ideia de reduzir o guarda-roupa e optar por peças duráveis é cada vez mais popular. No entanto, como vimos, esse consumo consciente nem sempre é simples, já que o fast fashion oferece alternativas baratas para peças "essenciais" que podem continuar alimentando o ciclo de consumo impulsivo.

Fora isso, os jovens buscam autenticidade, o que coloca em xeque a estratégia de influenciadores que promovem produtos em excesso sem mostrar um envolvimento real com o que estão divulgando. Isso também explica o crescimento de micro-influenciadores, que parecem mais acessíveis e autênticos do que figuras públicas com milhões de seguidores.

sentir-se mal X olhar por outro ângulo

Uma coisa que me despertou a curiosidade enquanto escrevia este texto é como algumas pessoas podem se sentir realmente "mal" ao perceber que estão desejando compulsivamente um novo produto. Acredito que muitos compartilham essa visão e talvez até tenham se questionado sobre isso ao longo dessa reflexão.

Será que alguns desinfluenciadores querem nos fazer sentir culpados? Não sei dizer, mas prefiro olhar por outro ângulo. Para mim, é interessante pensar e refletir antes de comprar por impulso. Por exemplo, há meses estou desejando os blushes da Rhode, marca da Hailey Bieber da qual sou fã assumida. Quando fui bombardeada por vídeos com dupes similares a preços mais acessíveis, sem as burocracias de importação, meus olhos brilharam e o coração acelerou.

Mas eu não comprei. Segurei a vontade e optei por guardar o dinheiro para uma viagem que farei no futuro. Afinal, assim como a maioria de vocês que me acompanham, ou até meus amigos mais próximos, eu não tenho exatamente a "vida de morango" que gostaria de ter.

Pessoa deitada com máscara facial dourada e óculos escuros, segura celular colorido e usa clipes de cabelo coloridos. Visual moderno, mescla cuidados pessoais e estilo descontraído, tendência de moda em autocuidado.
Foto: O wellness vem como protagonista para a nova geração (Reprodução/Instagram)

Isso me leva a uma última reflexão sobre as práticas de consumo da nova geração (e até dos nossos parceiros Millennials, que podem ser positivamente influenciados por pessoas mais jovens): muitos estão, aos poucos, preferindo investir em si mesmos, no seu bem-estar e em realizações mais significativas, como uma viagem de três meses ao redor do globo.

Trocar o dinheiro de uma bolsa tendência por uma passagem de avião, na minha opinião, é uma escolha muito mais recompensadora. Como já mencionei anteriormente, com o aumento da prática de exercícios físicos e o foco no bem-estar, quanto mais nos aproximamos de uma "recessão da influência", mais as marcas precisarão entender que o consumidor está se tornando mais seletivo, menos suscetível às pressões tradicionais de consumo.

Esse movimento, combinado à crescente cultura da desinfluência nas redes sociais, pode transformar a forma como entendemos o consumismo. Sinceramente? Ainda temos um longo caminho a percorrer. Mas cada passo conta, e isso, sem dúvida, já é um começo.

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