O Dia das Mães é uma data comemorativa, um momento de celebração, de presentear e de estar próximo daquelas que nos criaram. Mas, ao mesmo tempo que devemos sim homenageá-las, porque não aproveitar esta data tão significativa para criar awareness em torno de um assunto importante relacionado a maternidade? A saúde mental da mulher é um assunto sério, e deve ser pauta constante. Portanto, hoje mais do que nunca, precisamos falar sobre a depressão pós-parto.
Como o nome já sugere, a depressão pós-parto, ou DPP é, segundo a Secretaria De Estado Da Saúde, uma condição que engloba uma variedade de mudanças físicas e psicológicas, que muitas mulheres têm após dar à luz. Há três tipos de DPP: a tristeza materna – a mãe tem mudanças súbitas de humor, como sentir-se muito feliz e depois muito triste; a depressão pós-parto, que pode acontecer por alguns dias, até meses depois do parto de qualquer bebê - não só do primeiro -; e a psicose pós-parto, onde a mulher pode perder o contato com a realidade, gerando alucinações e agravamentos. A condição afeta mulheres de todas as idades, classes sociais e etnias, logo, qualquer mulher que teve um bebê nos últimos meses, sofreu aborto ou recentemente parou de amamentar, pode desenvolvê-la. No Brasil, cerca de 25% das mães sofrem de algum tipo de depressão pós-parto.
Para compreender melhor a condição e desmistificá-la, convidamos o psiquiatra Dr. Rafael Fabri, para responder algumas perguntas em torno do tema. Confira:
o que causa a depressão pós-parto? e porque algumas mulheres têm e outras não?
R..F.: "No geral, cerca de 6-13% das mulheres manifestam o quadro de depressão pós-parto. Quando falamos de causa desse transtorno, é importante lembrar que não existe apenas um e sim um conjunto de fatores que contribuem para a manifestação da depressão. Após o parto acontece uma mudança hormonal muito grande, e um dos hormônios que podemos destacar é o estrogênio. A queda brusca do estrogênio, após o nascimento do bebê, pode ser um fator para o aparecimento de sintomas, como falta de interesse ou prazer, queda da energia, irritabilidade, sensação de incapacidade, entre outros sintomas.
Outro fator importante, é o atual ambiente e realidade onde a mulher se encontra, como por exemplo, mães adolescentes, gravidez não desejada ou planejada e relacionamentos abusivos, podem contribuir para o quadro. Quando somamos os fatores hormonais e ambientais a uma predisposição genética, o risco do desenvolvimento de uma depressão pós-parto se torna alto. Vale lembrar que é comum a presença dos sintomas após o nascimento do bebê - mudança hormonal -, no entanto, se após 2 semanas não houver remissão, é necessária a busca de um profissional da área de saúde mental."
os sintomas são diferentes dos outros tipos de depressão?
R..F.: "Não, quando analisamos tecnicamente a DPP, podemos dizer que é um Transtorno Depressivo Maior, que se inicia após o nascimento do bebê. No entanto, algo a se destacar é que, diferente de outros episódios durante a vida, no caso da DPP existe a presença de uma segunda vida que pode sofrer negligência e até correr risco de vida dependendo da magnitude de sintomas sofridos pela mãe."
quanto tempo demora para surgirem os primeiros sintomas?
R..F.: "Geralmente surgem nas 3 primeiras semanas após o parto. Caso esses sintomas persistam 2 semanas após esse período, é interessante que um psiquiatra inicie um acompanhamento do caso, visando a saúde da mãe e do bebê."
como a depressão pós-parto influencia na relação da mãe com o bebê?
R..F.: "Quando pensamos em um paciente depressivo, devemos considerar que existe um grande prejuízo no próprio autocuidado, e no caso das novas mães, esse prejuízo pode refletir em uma piora do cuidado com o bebê. Além de apresentar um risco de vida à criança - pois em alguns casos as mães não conseguem realizar a amamentação -, também podem se destacar: atrasos no desenvolvimento motor e da fala, risco de desenvolvimento de Transtorno Opositor Desafiante, transtornos de humor, transtornos de personalidade na idade adulta, entre outros. Portanto, é necessário que haja uma ação da família no tratamento dessa paciente, para minimizar possíveis efeitos na saúde física e mental do recém nascido."
o tratamento consiste em que?
R..F.: "O tratamento consiste em diferentes abordagens: medicação, psicoterapia e mudanças de comportamentos referentes ao estilo de vida da nova mãe. É importante lembrar que as medicações devem ser orientadas sempre por um profissional, pois, algumas podem acabar passando para a criança através do leite."
a depressão pós-parto pode desenvolver outras doenças psicológicas? se sim, quais?
R..F.: "Ter um quadro mental sempre será um fator de risco para o desenvolvimento de outros. Nos casos de DPP, devemos sempre pesquisar a possibilidade de Transtorno Afetivo Bipolar como diagnóstico diferencial. Outra importante questão, é sempre observar a paciente em períodos onde ocorrem grandes alterações hormonais. Pois se torna um fator de risco para o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual, e para apresentar um novo episódio depressivo durante a Menopausa."
Caso seus sintomas de depressão pós-parto não tenham desaparecido 2 semanas após o parto, procure ajuda profissional.
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