Qual a diferença entre estética, subcultura, tendência e estilo pessoal?
Recentemente, fizemos uma pauta sobre o retorno da estética gótica, e o assunto deu muito o que falar. Algumas pessoas que fazem parte da subcultura — movimento que transcende o visual e se baseia em um estilo de vida completo, que engloba literatura, história, música, arquitetura e um universo cultural profundo — criticaram o uso do termo estética. Para eles, chamar algo tão complexo de “estética” reduz seu estilo de vida a um mero visual. A discussão nos fez pensar: até que ponto usamos os termos certos para falar sobre moda? Estética, subcultura, estilo pessoal e tendência coexistem e, às vezes, se complementam, mas não são a mesma coisa. Você sabe a diferença entre eles?

estética
Estética é, acima de tudo, uma narrativa visual. Quando falamos de estética gótica, cottagecore ou Y2K, nos referimos à maneira como certos elementos visuais — formas, cores e estilos — se agrupam para criar uma imagem. Ela pode ser inspirada em subculturas e períodos específicos da história, mas também pode existir de forma mais superficial, apenas na aparência. Nos últimos anos, plataformas como TikTok e Pinterest ajudaram a popularizar estéticas e moodboards, deixando esses conceitos mais acessíveis e difundidos.
A estética gótica, por exemplo, pode incluir roupas pretas, maquiagem escura, crucifixos e elementos de mistério e melancolia. Mas se interessar pela estética não significa que você faz parte da subcultura. Ela pode ser uma porta de entrada ou um ponto de expressão mais casual que não implica necessariamente em uma identificação com a ideologia e o estilo de vida associados a ela.

subcultura
Uma subcultura é um movimento social, cultural e ideológico. Ela tem um sistema de valores, crenças e referências próprios, que tendem a fugir das normas predominantes da sociedade. Subculturas como o punk, o gótico e o hip hop surgiram como resistências culturais e carregam histórias, músicas e filosofias específicas que vão muito além de roupas.
O gótico, por exemplo, nasceu no final dos anos 1970 como um desdobramento do punk, influenciado por bandas como Bauhaus, Siouxsie and the Banshees e The Cure. O gótico é uma maneira de pensar, de consumir arte (como as ilustrações de Edward Gorey), literatura (de autores como Edgar Allan Poe e Bram Stoker), de se vestir e de se conectar com o mundo através de uma lente peculiar. Participar de uma subcultura significa engajar-se em uma comunidade e compartilhar valores, criando uma identidade coletiva.

Moda e subcultura: As subculturas têm um impacto profundo na moda, originando tendências e estéticas que, muitas vezes, são reinterpretadas ou apropriadas. Um exemplo emblemático é Vivienne Westwood, pioneira do movimento punk, que elevou a estética a outro patamar sem perder sua essência original.

Há casos mais polêmicos, como o de Marc Jacobs na Perry Ellis nos anos 90. Sua coleção inspirada no grunge gerou críticas tanto de membros da subcultura, que a consideraram desconectada da realidade do movimento, quanto dos consumidores de luxo da marca, que não se identificaram com a estética subversiva.
Compreensivelmente, membros de subculturas nem sempre gostam quando seus movimentos se tornam mainstream. Além de uma atitude frequentemente antimaterialista, há também a sensação de perda de autenticidade quando seus ideais são diluídos e explorados comercialmente.

tendência
Tendência reflete o espírito do tempo, algo que surge do movimento coletivo e pode ser impulsionado por vários fatores, como redes sociais, celebridades, grandes marcas, movimentos culturais, musicais e artísticos. As tendências são cíclicas e podem ou não estar conectadas a estéticas ou subculturas. Por exemplo, o gótico pode estar em alta como tendência, como vimos na passarela da Versace ou no TikTok. No entanto, isso não significa que todo mundo tenha aderido à subcultura gótica, nem que quem a segue seja menos legítimo. Ao se tornar tendência, um movimento cultural pode ser transformado em algo mais acessível, mas sem perder sua importância original.
Quando falamos sobre "o retorno de uma estética", estamos nos referindo ao renascimento de elementos visuais associados a uma subcultura dentro do universo da moda, que volta aos holofotes em determinados momentos. A expressão "retorno" refere-se exclusivamente ao ressurgimento desses códigos visuais, e não ao retorno do estilo de vida ou das ideologias da subcultura. Estas permanecem sempre, independentes do cenário de tendências.

estilo pessoal
Estilo pessoal é como você interpreta tudo isso. É um mix do que você gosta, acredita e sente que te representa. Ele pode se inspirar em uma estética específica, uma subcultura, tendências atuais, além de suas vontades, sua idade, onde você mora e o que faz no dia a dia. Todos esses fatores juntos formam o seu estilo único.

como tudo se conecta
Dentro de cada subcultura, existem códigos visuais específicos que permitem à comunidade se reconhecer e expressar suas crenças e ideologias através das roupas. Esses códigos formam uma estética.
Subculturas e suas estéticas, por sua vez, informam e inspiram tendências, que muitas vezes são removidas de seus contextos originais, reinterpretadas e adotadas por um público mais amplo, que pode não se identificar ou nem sequer reconhecer a origem. A cultura pop e as tendências ajudam a disseminar essas estéticas e torná-las mais acessíveis. O sucesso de uma tendência pode popularizar uma estética e até introduzir uma subcultura a uma nova parcela da população, como aconteceu com o fenômeno da série Wandinha, que, apesar de não representar a subcultura gótica, carrega traços dela e despertou o interesse por elementos dessa estética.
O estilo pessoal se constroi ao escolher elementos de diferentes estéticas, criando looks que traduzem identidades únicas. Cada um adapta essas influências ao seu lifestyle, preferências e contexto.
Agora que você entende as diferenças, fica mais fácil perceber como esses conceitos coexistem e se complementam, e como a existência de um não anula a relevância do outro.