Em julho do ano passado, a gente já escreveu sobre Quiet Luxury, mas o assunto voltou à tona recentemente, impulsionado por acontecimentos na cultura pop, como os looks virais usados por Gwyneth Paltrow durante o julgamento a respeito de um acidente de ski e pelo fenômeno Succession, a série hit da HBO que chega em sua quarta e última temporada. Os figurinos usados pelos personagens da trama são uma verdadeira aula sobre o tema, principalmente o de Shiv Roy, a única mulher entre os herdeiros do fictício império Waystar Royco. As passarelas também confirmam a obsessão, e a seguir a gente analisa o domínio do Quiet Luxury em 2023.
"Quiet luxury" é um termo difícil de definir, já que não representa necessariamente uma estética e sim, uma atitude ou mood. Visualmente, remete ao minimalismo dos anos 90 e se apoia na ideia de básicos elevados, rejeitando logos ou tendências passageiras e focando em qualidade e durabilidade, priorizando itens-investimento que ofereçam versatilidade. Discrição é palavra de ordem, e ostentação não tem vez. O conceito é perfeitamente exemplificado através dos looks de Shiv Roy em Succession: se no início da série Shiv exibia um guarda-roupa leve e menos polido compatível com sua então realidade - trabalhando com política e longe da disputa por sucessão - tudo mudou com sua entrada no business familiar. Dos cabelos que foram de longos e ondulados para um bob estruturado, às roupas que ganharam refinamento, chegando nos acessórios cuidadosamente selecionados, também abandonando a cartela de tons pastel delicados por neutros e terrosos.
A figurinista da série, Michelle Matland, descreve as peças usadas por Shiv como armaduras, invocando o poder silencioso que refinamento e polidez carregam na comunicação não verbal. O ar elegante também contribui para uma aura de inacessibilidade, qualidade muito valorizada em meio aos incessantes jogos de poder ocorridos na série.
Na total ausência de logos, o luxo é perceptível através do caimento e dos materiais nobres como cashmere, lã merino, couro, linho, algodão e seda, e claro, também pelo privilégio de não precisar de símbolos de riqueza para conquistar status. Nas composições não faltam blazers, calças de alfaiataria de corte amplo, camisas, estampas tradicionais como xadrez e elementos inesperados como decotes nas costas e detalhes estratégicos e certeiros. A ideia é que as roupas complementem e elevem, mas não distraiam ou desviem atenção de quem as está usando.
Entre as marcas mais usadas pela executiva constam nomes que são a definição do termo como Armani, Max Mara e The Row. A grife das irmãs Olsen é emblemática quando se trata do assunto com sua seleção de arquétipos para um armário atemporal, composto por alfaiataria e malhas de cashmere. Os preços proibitivos são justificados pela maestria percebida na execução de cada peça, meticulosidade aplicada a todo e qualquer detalhe e tecidos premium.
Não por acaso, algumas das peças da marca também foram protagonistas dos looks exibidos por Gwyneth Paltrow ao longo de sua semana no tribunal durante julgamento a respeito de um acidente de ski. O acontecimento rendeu diversos memes, mas também gerou furor graças ao estilo exibido pela ganhadora do Oscar, ilustrando outra versão de Quiet Luxury. A bordo de cashmeres e casacos de alfaiataria, o styling transitou entre o masculino e o feminino, encontrando o equilíbrio ideal de sofisticação com nonchalance, como no terninho cinza tradicional, mas com corte relaxado, ou no combo Prada de saia midi e cardigan, personificando a mulher intelectual e cool de Miuccia, e ainda com acessórios como óculos de grau aviador e botas tratoradas. Paltrow foi eventualmente considerada inocente, mas sua absolvição ocorreu primeiro pela opinião pública fascinada pelas produções permeadas pela natureza chique sem esforço.
As passarelas de Inverno 2023 confirmaram a preferência, e além das grifes já conhecidas pela vibe, outras marcas entraram no embalo e apresentaram propostas de itens essenciais impecavelmente confeccionados em tonalidades discretas e materiais nobres, como foi o caso do trabalho realizado pela Miu Miu.
Quiet luxury também é atraente pela capacidade de denotar poder de forma silenciosa. A rejeição por etiquetas visíveis demonstra a confiança de quem não precisa de símbolos de luxo para se afirmar, focando no valor intrínseco do produto e não em elementos visuais chamativos. Porém, apesar de teoricamente não evidenciar riqueza, é inegável que a exclusividade é um fator indissociável do universo, no mínimo pelos preços proibitivos.
O interesse do mainstream vem ao encontro do cenário atual pós-pandemia, preocupações com sustentabilidade e consumo consciente, além da inevitável fadiga ocasionada pelo ciclo exaustivo de micro tendências. Opiniões divergem. Dá para argumentar que produções inspiradas em Quiet Luxury carecem de criatividade, ou concluir que a criatividade fica concentrada em outros campos de interesse. No fim das contas, a questão é sobre identificar a sua forma de autoexpressão e permitir que ela evolua junto com você em cada momento da vida. Se color blocking e shapes exuberantes são fundamentais para o seu estilo, não faz nenhum sentido aderir ao Quiet Luxury. No entanto, se um look clean com influência minimalista é o que melhor representa seu gosto, o conceito pode servir como inspiração.