Nasci e cresci no Rio de Janeiro. E por mais que a cidade esteja sempre em movimento, Copacabana parece funcionar em uma lógica diferente. Entre uma loja de sucos e mais uma farmácia com luz branca que surge a partir de um prédio antigo derrubado, o bairro ainda abriga lugares que resistem e surpreendem — e é deles que quero falar hoje.

lugares que preservam a história de Copacabana
A Cinta Moderna
A Cinta Moderna é um deles. Fundada em 1927, continua firme no mesmo ponto, com uma estética que parou no tempo (no melhor sentido possível). A loja é toda rosa. O balcão, as paredes, o móvel central de madeira maciça (também rosa) que ocupa o meio do salão. Inclusive, já tentei comprar esse móvel. A vendedora me contou que tem fila e faz sentido. O móvel é um escândalo e eu meio que sonho com ele todos os dias. Tudo ali tem personalidade. É uma loja de rua real, sabe? Com história, com escolhas visuais claras, com gente que trabalha há décadas no mesmo lugar e é sem dúvida meu bibelô favorito do bairro.

Perucas Lady
Outra que sempre me chamou atenção desde criança, foi a Perucas Lady. Durante anos, a fachada era inconfundível e os slogans inesquecíveis nos vídeos icônicos, como o “há mil mulheres numa Lady só”. As perucas, feitas à mão com cabelo natural, chamavam minha atenção. Meu sonho era ter uma! A loja foi fundada em 1970 e sobreviveu até 2022.
Quem tocava o negócio era Kátia Amorim, que ficou ali por 50 anos. Acredito muito que é esse tipo de dedicação que torna um lugar marcante.
Chon Kou
O restaurante Chon Kou também faz parte desse meu mapa afetivo. Um chinês tradicional de Copacabana, que funciona há mais de três décadas. A comida é clássica, o atendimento também. E a decoração é incrível: luminárias vermelhas, painéis pintados e dourados, cadeiras pesadíssimas. Nada ali foi “atualizado” e por isso mesmo eu amo! Inclusive foi um lugar que queria ter incluído no meu Guia do Rio que fiz aqui para o STL, mas esqueci totalmente — fica aqui o acréscimo! <3

Cassino Atlântico
Outro passeio que repito sempre: o segundo andar do Cassino Atlântico. Os antiquários que ocupam aquele espaço são uma viagem no tempo. Móveis, louças, quadros, luminárias… tudo! Cada loja parece uma casa parada no meio do caminho, cheia de objetos que já tiveram outras vidas. Gosto de andar por lá sem pressa, observando os detalhes. É uma Copacabana paralela, fora do circuito de sempre. A maioria das peças estão fora do meu orçamento, mas mesmo assim, amo demais passear pela pesquisa.
Esses lugares me marcam por isso: porque não tentam agradar todo mundo. Eles existem do jeito que são. Com estética forte, presença marcante e uma certa ousadia (mesmo que involuntária).
Fico pensando no quanto esses espaços dizem sobre o tempo, a cidade, o comércio. E no quanto sinto falta disso hoje: de lugares que revelam um ponto de vista, uma história, uma identidade. De quando o comércio de rua era, também, uma forma de expressão.
Copacabana é cheia de contrastes. E talvez seja justamente por isso que ainda vale a pena andar com calma por lá.
Para encontrar, entre um letreiro novo e uma obra interminável, o que sobrou (e sobrevive) de outra época.
