Quanto tempo leva para uma paixão virar amor? Uma mágoa se dissolver em perdão? Uma ferida se transformar em cicatriz? Ou uma dor se tornar saudade?
Falar de tempo é entrar num campo complexo e muitas vezes subjetivo demais para a mente racional acompanhar. Porém, me encanta profundamente refletir sobre um dos principais conceitos do budismo: a impermanência (Anicca). Eles exploram a ideia de que tudo é transitório e está em constante transformação, desde objetos materiais, estados emocionais até, é claro, nossa própria existência. Tudo está fadado a nascer, crescer, decair e morrer — e o quão belo é isso?
E mesmo com a "obviedade" da impermanência, caímos em profundo sofrimento quando a vida nos relembra que nada é para sempre.
Não se enganem, eu também faço parte do time dos sofredores pelo óbvio. Também já achei que relacionamentos durariam para sempre, relutei pelo fim de ciclos e lamentei profundamente a despedida de pessoas amadas.
Ao mesmo tempo que a impermanência é assustadora, ela também pode ser libertadora. Não temos como controlar as marés, mas temos certeza de que ondas irão surgir, crescer, quebrar e passar. Haverá momentos de ressaca e outros de calmaria, e nenhum deles será eterno.
Todos nós temos alguma memória na qual gostaríamos de voltar no tempo só para viver um pouquinho mais. Reviver aquele primeiro encontro, ter mais um dia naquela viagem marcante, receber mais um abraço daquela pessoa amada que se foi. Mas e se eu te dissesse que talvez daqui uns anos, você também daria tudo para viver um pouco mais dos momentos e das oportunidades que você tem hoje nas suas mãos? Certas coisas são preciosas demais para serem procrastinadas.
Prefira mais olhares do que mensagens.
Ria mais alto e abrace mais forte.
Peça logo desculpas pelas falhas cometidas.
Perdoe logo aquilo que não vale o desgaste.
Diga "eu te amo" até cansar.
Viva com intensidade, presença e com a certeza de que a eternidade mora nos meros segundos que a vida generosamente nos cede.
Finalizo este texto com um trecho de um dos sonetos mais famosos de todos os tempos, que até hoje aquece o coração daqueles que se identificam com a extinta espécie dos românticos. Até porque, dentre todas as coisas que desafiam o poder do tempo, o amor talvez seja o único que ganhe.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive)
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
- Soneto de Fidelidade / Vinicius de Moraes