Com estreia marcada para 27 de Fevereiro, “Um Completo Desconhecido”, filme de James Mangold estrelado por Timothée Chalamet no papel de Bob Dylan, apresenta o legado de um dos maiores artistas de todos os tempos para uma nova geração. Enquanto sua música, suas letras vencedoras do Nobel de Literatura e sua capacidade de se reinventar continuam sendo veneradas, seu estilo, apesar de icônico, costuma ficar em segundo plano. Mas é impossível falar sobre o estilo de Bob Dylan sem reconhecer como sua estética acompanhou (e às vezes antecipou) as mudanças de sua carreira e de suas canções, influenciando milhões de pessoas, incluindo figuras célebres como os Beatles e David Bowie, todos encantados pelo espírito camaleônico, autêntico e misterioso de Bob.
O longa aborda a chegada de Bob Dylan a Nova York no início dos anos 60 e a transição do folk acústico para o som elétrico, uma guinada que revolucionou a música para sempre. Em 1961, recém-chegado do meio-oeste para Manhattan, Dylan prezava pelo simples, com peças difíceis de datar, frequentemente garimpadas em brechós.
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O visual era composto por ícones da cultura americana, que representavam bem o espírito folk: jeans, suéteres oversized, flanelas e jaquetas workwear. Autêntico e despretensioso, a ideia não era se vestir para impressionar, pelo contrário, o objetivo era se integrar à multidão de artistas, poetas e ativistas que moldavam a contracultura no efervescente cenário de Greenwich Village.
Quando a música mudou, o estilo de Dylan também. A fase elétrica despertou um lado mais afiado e polido, alinhado ao novo som. Esse é, provavelmente, seu visual mais lembrado e referenciado até hoje: tons predominantemente escuros, uma vibe meio mod e absolutamente atemporal, com alfaiataria ajustada, malhas de gola alta, Chelsea boots, padronagens gráficas e um cabelo cada vez mais bagunçado. Foi nessa época que ele estabeleceu alguns de seus itens icônicos, que se tornaram marcas registradas: o Ray-Ban Wayfarer, as jaquetas ajustadas em veludo ou camurça, e as camisas estampadas — variando entre o preto e branco com desenhos clássicos, como poá e listras, e as vibrantes, como a usada na capa do álbum Highway 61 Revisited. Décadas depois, sua imagem dessa época é onipresente na moda, impactando nomes como Hedi Slimane e seu mood rock’n’roll.
No final dos anos 60, casado e buscando uma vida mais bucólica, mas sofisticada, seus looks passaram a incluir tons claros. O branco tornou-se a base de várias de suas composições, e ele também se encantou por composições monocromáticas. Khakis, couro e camurça ganharam espaço, enquanto chapéus entraram com tudo em seu repertório — para nunca mais sair.
Nos anos 70, na fase The Last Waltz e durante a turnê Rolling Thunder Revue, o apelo teatral inspirado no universo Vaudeville tomou conta. Acessórios statement além dos chapéus, como colares e lenços (amarrados no pescoço ou na cabeça), passaram a fazer parte de suas produções, adicionando uma camada performática ao seu estilo. A influência boho, que emergiu nesse período, tornou-se uma constante, com sobreposições elaboradas.
Nos anos 80, as tendências da época influenciaram muito suas escolhas, incluindo jaquetas do tipo biker, coletes de couro e até um brinco pendurado, além de uma cartela de cores mais vibrante em sintonia com o clima oitentista.
A influência western tornou-se cada vez mais evidente ao longo das décadas e continua até hoje. Aos 84 anos e ainda em turnê, Dylan mantém uma estética única, fazendo um mix de cowboy excêntrico com ternos impecavelmente cortados, substituindo a gravata tradicional por bolo tie, adicionando chapéu texano, ou incluindo camisas e blazers decorados.