Uma reflexão sobre estilo pessoal e estar na moda

por Beta Weber

Ter estilo e estar na moda são coisas bem diferentes, mas é fácil acreditar que os dois são equivalentes. Para começar, vale lembrar que estilo pessoal, por definição é algo autêntico à pessoa que comunica visualmente, através de suas roupas, sua personalidade e gostos. Ou, pelo menos, é assim em sua noção mais elevada.

Já a moda é um retrato da sociedade em todas suas nuances, portanto, estar na moda é exibir as tendências mais populares de cada momento, que refletem tanto o contexto socioeconômico do período, como as necessidades da indústria, mas tem pouco a ver com o seu gosto pessoal. O estilo foca no indivíduo, enquanto a moda foca no coletivo. 

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Foto: Joan Didion (Reprodução)


A genial escritora Joan Didion, comparou ter estilo com respeito próprio. Quem tem estilo, normalmente tem suas peças-chave e algumas marcas registradas que, diferentemente das tendências, não mudam a cada temporada. As coisas têm a profundidade que nós temos e o estilo é um instrumento ou ponte para o mundo externo, uma mistura de referências que englobam nosso universo, nossos sonhos, vivências, rotina. Descobrir a sua essência e todas variáveis — que vão sempre evoluindo — é sinônimo de liberdade, já que passamos a ser bem menos afetados por peças hit.

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A necessidade de estar na moda tem explicações como a busca por pertencimento, afinal roupas são sinalizadores da nossa posição no mundo. Com tanto estímulo nos dizendo o que está em alta, além da cultura da influência (fenômeno que impactou a forma que consumimos e recebemos informação) a capacidade de identificar o que nós gostamos se tornou ainda mais desafiadora. Especialmente porque o conteúdo dos nomes populares hoje em dia parece uma checklist dos produtos de luxo mais desejados, mas não exatamente uma expressão de estilo pessoal. Carregando símbolos de status que denotam poder aquisitivo, mas não dizem muito a respeito da pessoa que está usando, exceto sua conta bancária.

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Foto: Danielle Jinadu (Reprodução/Instagram)

Recentemente, a glamourização de estéticas como old money e preppy com origens nas classes de elite também contribuem para a impressão que vir de uma origem mais abastada é sinônimo de estar bem-vestido. É impossível falar sobre moda e ignorar questões de classe, entram aqui questões de apropriação cultural e itens tipicamente usados no ambiente periférico, que quando usados por uma parte da sociedade são considerados cool. É importante lembrar que dinheiro traz acesso, mas não autoconhecimento. Não há dúvidas que poder financeiro é um facilitador, mas definitivamente não é sinônimo de ter estilo.

A profusão de novidades e estéticas sendo disseminadas diariamente gera ansiedade, mas também aponta um caminho aberto para fazer uma curadoria do que você gosta, inclusive apresentando conceitos e propostas que possivelmente você não conhecia. Cultivar estilo pessoal dá um ar de atemporalidade, o segredo é saber aproveitar o que faz sentido para você e analisar a informação com olhar de curiosidade e fascínio, sem interpretar como imposição, exigência ou selo de aprovação de sua relevância, mas sim como mais possibilidades de desbravar e traduzir visualmente o seu universo particular.

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