Os asiáticos têm desempenhado um papel revolucionário na indústria da moda, desafiando estereótipos e imprimindo uma marca única no cenário global há anos. Figuras como Rei Kawakubo e Issey Miyake, do Japão, e Alexander Wang, de ascendência taiwanesa, têm liderado o caminho com suas abordagens inovadoras e visionárias. Suas criações, muitas vezes enraizadas na cultura e tradições asiáticas, têm impactado profundamente a moda contemporânea, redefinindo padrões estéticos e inspirando uma geração inteira de designers.
A importância e o legado dos asiáticos na moda são inegáveis, mas apesar de seu impacto significativo, a falta de visibilidade continua sendo uma questão preocupante. Enquanto designers asiáticos continuam a criar tendências e influenciar o mercado, suas contribuições nem sempre recebem o reconhecimento merecido. A falta de representação nas passarelas, campanhas publicitárias, e até mesmo na história da moda ainda persiste, levantando questões sobre diversidade e inclusão na indústria.
Sabendo disso, que tal descobrir quem são os asiáticos na moda? O que eles fizeram? Quais as suas contribuições tão inquestionáveis para esse universo que persiste até hoje? Continue lendo para descobrir mais, cara leitora.
issey miyake
Um dos principais nomes da moda asiática, Issey Miyake pavimentou o caminho para outras grandes personalidades como Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto. Estreou nas passarelas da moda em Nova Iorque no ano de 1972, no entanto, foi em Paris que finalmente foi consagrado entre os grandes.
Combinando elementos da estética oriental com a tecnologia, o estilista revolucionou a moda durante os anos 80 e mostrou ao ocidente o que hoje conhecemos como "Japonismo". Ele desafiou as normas da época com linhas abstratas, recortes amplos, ideias pouco óbvias e até chegou a influenciar a vanguardista moda belga.
Então, graças aos seus conhecimentos tecnológicos, em 1981, a pedido do então presidente da Sony, Akio Morita, Issey Miyake desenhou para os funcionários da marca uma jaqueta de nylon rip-stop com mangas que podiam ser abertas, transformando-as em um colete. E aí, entra Steve Jobs.
Após visitar a fábrica da Sony, Jobs se indagou sobre a ideia de todos usarem uniformes e tentou levar essa filosofia à Apple. Para isso, ele pediu a Miyake que desenhasse alguns coletes para que seus funcionários pudessem usar também. No entanto, a ideia não colou, mas isso não impediu Steve de ter o seu próprio uniforme. "Pedi a Issey que me fizesse algumas de suas golas pretas que eu gostasse, e ele fez centenas", contou o CEO em sua biografia.
Esse foi apenas um dos feitos marcantes do estilista japonês. Ele se tornou um tipo de "mestre dos tecidos". Inspirado pelos vestidos de seda plissado Delphos dos anos 1900, Miyake criou a sua própria técnica de plissado que não amassava e não perdia o formato. A linha, que se tornou icônica, ganhou até mesmo um nome: "Pleats Please". Lançada em 1993, isso marcou ainda mais o seu legado na moda, tornando seus designs inconfundíveis e inigualáveis, assim como a sua história.
rei kawakubo
"A enigmática divindade da Comme des Garçons", é assim que uma matéria na WWD se refere a Rei Kawakubo, e que sábia escolha de palavras. Fundadora de uma das casas mais aclamadas entre os estilistas e amantes da moda, Kawakubo não é o tipo de artista que desenha longos vestidos de baile com babados delicados. Ela é subversiva e manifesta suas expressões artísticas através de visões audaciosas, por vezes chocantes, confusas e inquestionavelmente atraentes.
Coisa que ela faz desde o início, já que entrou cedo no ramo da moda. Ainda jovem, ela conseguiu um emprego em uma fábrica têxtil e, a partir daí, começou a estilizar para a empresa. Quando não conseguia o tecido perfeito, ela o fabricava. Aos poucos isso foi trilhando seu caminho até que conseguiu abrir a primeira Comme Des Garçons em Tóquio, no ano de 1969.
De lá para cá já se passaram pouco mais de 50 anos, e apesar de pouco se importar em apaziguar a faminta indústria da moda, é reverenciada constantemente. Em 2017 tornou-se a segunda estilista viva a ter uma exibição no Met Costume Institute; o primeiro foi Yves Saint Laurent em 1983. "Rei Kawakubo/Comme des Garçons: Art of the In-Between" por extensão, foi o tema do Met Gala daquele ano.
Apesar do destaque de Rei nos dias atuais, ele nem sempre foi apreciado. Quando levou sua coleção para Paris pela primeira vez, no ano de 1981, muitos rejeitaram os cortes assimétricos e desgastados de Kawakubo. Também pudera, em uma década onde todos estavam apaixonados pelo sex appeal da Versace e o excesso de Mugler, havia espaço para algo tão avant-garde?
"Nunca tive a intenção de iniciar uma revolução", disse Kawakubo à The New Yorker em 2005. "Só vim a Paris com a intenção de mostrar o que considerava forte e bonito. Acontece que minha noção era diferente da de todo mundo." Talvez seja essa noção à qual ela se mantém fiel até hoje que a coloca em uma posição de intocável da moda ou "a sacerdotisa que derrubou Paris".
yohji yamamoto
Um Jovem Yamamoto, anos atrás, visitava o epicentro do cenário Punk, a boutique 'Sex' de Vivienne Westwood e Malcolm McClaren, junto de sua então namorada, Rei Kawakubo. A partir daí, Yamamoto sentiu o desejo de destruir tudo o que lhe foi ensinado sobre costura à mão na escola de Alta-Costura na Europa.
De acordo com suas próprias palavras, “você só será capaz de se opor a algo e encontrar algo próprio depois de percorrer o longo caminho da tradição”. Com isso, passou a criar desenhos femininos inspirados nas vestimentas masculinas de Tokyo e também em 1981, apresentou sua primeira coleção em Paris, na sua pequena loja na Rue de Cygne para um punhado de convidados.
Assim como Kawakubo, Yohji também apresentou para o ocidente uma visão que refletia a beleza na escuridão. Usou tecidos envelhecidos propositalmente, se apoiou na imperfeição e, predominantemente, na cor preta. Naquele ano, dado a ascensão dos estilistas japoneses no cenário parisiense, alguns críticos - de mente muito pequena, devo acrescentar um comentário pessoal -, enlataram as coleções apresentadas pelos nomes acima como “Hiroshima Chic” ou “Pós atômico”.
Claramente faltou sensibilidade e compreensão sobre o novo amanhecer da “terra do sol nascente”. No entanto, não demorou muito para que tais críticos se provassem enganados. A estética que os estilistas apresentaram, com camadas soltas envolvendo os corpos, sapatos baixos e predominância do preto tornaram-se alternativas contrastantes com a ideia de estilo da época.
Com o tempo, Yohji revisitou técnicas das costuras japonesas, mas também as mesclou com a costura francesa. Ele desafiou sua própria estética, tornando-se o seu próprio paradoxo. Além disso, foi um dos pioneiros do casamento de sucesso entre a moda e as roupas esportivas, graças à colaboração da Y-3 com a Adidas.
Não é à toa que Yamamoto é adorado pelos conservadores da moda e também pelos hyperbeast. Ele segue trilhando seu caminho de maneira obediente, surfando contra a maré que o mainstream tem a oferecer.
jason wu
Com apenas 16 anos, o taiwanês Jason Wu convenceu uma empresa de bonecas de que ele seria um excelente diretor criativo freelancer. Aos 24 anos, lançou sua própria linha homônima, e aos 27 anos, desenhou o look de posse da então primeira-dama dos Estados Unidos, Michelle Obama - repetiu o feito em 2013, quando Barack Obama foi reeleito presidente.
Ainda em 2013, foi contratado como diretor artístico da moda feminina da Hugo Boss, onde permaneceu até 2018. Apesar de a marca ter decidido voltar seu foco para linhas masculinas premium, ninguém pode negar o esforço de Jason Wu nos cinco anos em que esteve lá, já que ele foi um dos responsáveis por reformular a identidade da marca e trazer relevância para o womenswear da Boss.
Em entrevistas, o estilista comentou que não achava que sua vez havia chegado. Mas é lógico que isso estava no seu destino. Muito antes de se consolidar como um exímio designer de bonecas de luxo, sua veia criativa já pulsava. Afinal, desde criança, ele já desenhava vestidos de noiva que via nas vitrines de lojas locais.
Graças ao apoio de sua família, especialmente de sua mãe, que notou a criatividade do filho desde pequeno, Wu decolou rapidamente no mundo da moda e ainda tem muito a oferecer com seus designs elegantes, primorosos e atemporais - palavra que tem peso para o estilista, uma vez que, de acordo com suas próprias palavras, ele espera se tornar a “antítese da moda descartável”.
nigo
Nigo é o tipo de designer que possui sua própria visão e definição de luxo. Em vez de criar desejo por longos vestidos de seda, ele canaliza suas energias para tornar o streetwear altamente cobiçado, mesmo para os compradores puristas da alta-costura.
Registrado como Tomoaki Nagao, Nigo nasceu na cidade de Maebashi, na província de Gunma, no Japão, em 1970. Seu interesse pela moda despertou enquanto folheava revistas de moda masculina, mais especificamente, a Popeye. Seu sonho inicial não era exatamente projetar coleções, mas tornar-se um jornalista de moda.
Dito e feito, Nigo ingressou na Popeye como estilista e escritor. Ao lado de outro nome da moda, Jun Takahashi, eles escreveram uma coluna chamada “Last Orgy 2”. Foi através dela que o designer teve um verdadeiro contato com a moda e tudo o que ela engloba, inclusive começando a produzir roupas.
Em 1993, depois de se sentir inspirado por alguns filmes do “Planeta dos Macacos”, ele concebeu sua primeira marca: a Bathing Ape. Dizem que ele criou um verdadeiro culto de seguidores no Japão, e as crianças descoladas daquela época faziam filas quilométricas em frente à sua loja, a NOWHERE, para comprar edições limitadas de camisetas da BAPE.
A febre era tanta que ele logo começou a colaborar com outras marcas, como a Pepsi, no final dos anos 90. Aos poucos, ele também conquistou espaço no mercado norte-americano e, em 2003, uniu-se a Pharrell Williams para criar a famosa e autêntica Billionaire Boys Club, além da Ice Cream Footwear.
Nigo ainda passou pela direção criativa da linha UT da Uniqlo, lançou mais uma marca - A Human Made -, colaborou com a Louis Vuitton de Virgil Abloh, que elogiou o designer japonês, recentemente criou os uniformes da seleção do Japão e, por fim, assumiu a direção artística da Kenzo. “Por fim”, quero dizer que essa é apenas uma parte da trajetória do estilista na moda. Nigo revolucionou o mercado do streetwear. Portanto, se hoje a moda inclui camisetas estampadas, tênis com silhuetas e cores marcantes, jaquetas largas, muito se deve a ele.
vera wang
Dizem que até quando as coisas dão errado, elas dão certo. Vera Wang frustrou-se quando, em 1968, não conseguiu ingressar na equipe olímpica de patinação artística dos Estados Unidos. Naquela época, ela acreditava que já tinha atingido seu pico de habilidades.
No entanto, mal sabia a jovem Wang que, ao fazer sua incursão no universo da moda, trabalhando com Polly Mellen no departamento de moda da Vogue, em 1971, ela se tornaria uma das editoras seniores mais jovens da história da revista. Trabalhou por quase duas décadas até decidir redirecionar o rumo da sua carreira. Vera então tornou-se diretora de design da Ralph Lauren e lá ela percebeu a imensa lacuna que havia nesse mercado para “noivas que estavam na moda”.
Então, foi aos 40 anos que ela decidiu dedicar-se em tempo integral para as noivas. Ela abriu sua própria loja na Madison Avenue e em seu livro ‘Vera Wang on Weddings’ ela escreve: “Como profissional da moda e ex-noiva, agora sou capaz de traduzir todo esse conhecimento e amor pelo estilo para o vocabulário visual e emocional dos casamentos. Tendo vivenciado casamentos tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional, posso dizer com sinceridade que ninguém é mais dedicado às noivas do que eu.”
O seu ato de fé foi corajoso e foi certeiro. Em anos de carreira, Wang coleciona noivas como Mariah Carey, Alicia Keys, Hailey Bieber e Ariana Grande, trazendo muita visibilidade para o universo das noivas e do casamento, sendo capaz de tirar suspiros até mesmo dos corações mais gelados, afinal, todos sonham com um vestido Wang ao menos em algum momento da vida.