Como aquilo que vemos nos ajuda a criar um estilo autêntico

por Andreza Ramos

Você já se perguntou como a forma como vemos o mundo influencia em como nos expressamos? Tanto a arte quanto a moda, por exemplo, são afetadas pelas mudanças tecnológicas e culturais que nos cercam, portanto não seria diferente com o que vestimos. A vivência e o olhar fazem parte dos aspectos que compõem um estilo autêntico. 

Assim como as pinturas mostram como os artistas usaram o recorte, o movimento e a perspectiva para capturar a essência do seu tempo, a moda atual é cada vez mais influenciada pelo que vemos nas telas e nas ruas. Por isso, explicamos como você pode aproveitar as referências que consome para criar looks que refletem a sua personalidade e o seu gosto.

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Foto: Édouard Manet – “Boating” (Reprodução)


Manet, um dos grandes nomes impressionistas do século XIX, era duramente criticado (e até desvalorizado) em sua época por pintar quadros "cortados". Às vezes, um chapéu não aparecia por completo, uma banheira, uma cabeça, um barco. Era um padrão completamente oposto ao do romantismo, onde a simetria era sinônimo de excelência profissional e moral. Um barco cortado ao meio, como na imagem, era uma declaração de talento duvidoso.

No entanto, alguns historiadores relatam que essa "nova" forma de pintar aparece em Manet no mesmo momento em que a fotografia também começa a se disseminar. Então, vale dizer que Manet imprime ali um pouco do recorte disruptivo do mundo que a fotografia traz.

Paul Cézanne -
Foto: Paul Cézanne - "Mont Sainte-Victoire" (Reprodução)

Na pintura, controla-se se uma igreja aparecerá como protagonista, solitária e impositiva ao centro, por exemplo. Já na fotografia, a vida real invade a imagem, mostrando que mesmo que não pensemos, o que vemos é uma pequena moldura da grandeza do real. Manet não era fotógrafo, mas ver fotografias e consumir imagens certamente mudou sua forma de pintar.

O mesmo aconteceu com a extensão da malha ferroviária na Europa. Pode acreditar! Depois da popularização do trem, cresceu também o número de pinturas borradas, imprecisas e cheias de movimento, como podemos ver na obra de Cézanne. O trem era a novidade mais importante em sua época, então nada era mais simbolicamente valioso, moderno, do que uma paisagem riscada em sua janela.

Veja bem, a pintura, uma das formas mais valorizadas de fazer artístico no momento, estava se transformando porque as pessoas estavam, pela primeira vez, vendo imagens em alta velocidade.

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Foto: @wuzg00d (Reprodução/Instagram)

E é aqui que tudo se conecta. Parece louco, mas é exatamente assim que se cria um estilo autêntico. Quanto mais coisas você vê, mais o seu cérebro tem de onde tirar conexões quando você precisar de uma. Na moda, chamamos isso de repertório.

Seu estilo se expande um pouco mais toda vez que você vê um filme novo, um desenho animado diferente, uma cor mais vibrante ou sempre que olha para uma nova janela. Já vimos a história como prova disso. Você é capaz de criar algo novo sempre que uma coisa inédita fica gravada na sua memória.

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Foto: @ruesworldd (Reprodução/Instagram)

Sabe quando vemos uma série como Wandinha, e "do nada" passamos a simpatizar por batons escuros? É seu cérebro tirando informações desse baú do repertório para te dar novas formas de criar sobre sua imagem e se expressar. Quando fazemos isso, somos basicamente um pintor lembrando da janela do trem. 

Ao vermos mais coisas, mais ferramentas nosso cérebro tem para criar (inclusive, looks). Do streaming a gente tira um batom preto; do balletcore das redes sociais, uma saia de tule repaginada; do streetwear, um tênis esportivo e, ao final, teremos um estilo autêntico e único, pois foi criado por coisas que seus olhos viram, unidas por uma conexão criativa que só você poderia fazer, por motivos que só você poderia elencar. 

Portanto, para realmente te ajudar a repensar sua imagem como um todo, só queria dizer que: quem não vê, não cria, mas também quem vê o que todo mundo vê, também usa o que todo mundo usa. 

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Foto: Andreza Ramos (Divulgação)

quem é a autora?

Meu nome é Andreza Ramos, sou consultora de estilo e comunicadora de moda, na eterna (e gratificante) função de tornar o nosso vestir mais gostoso, disruptivo, estratégico e intencional. Amo criar looks criativos, mas também estou atenta aos sinais sociais, culturais e história da moda.

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