Estilo nas quadras de basquete pode ser definido como a maneira única pela qual um jogador faz jogadas, enterra a bola ou até mesmo celebra uma cesta de três pontos - tudo isso é estilo. Fora das quadras, esse estilo tem outro nome: moda. Essa nossa velha conhecida é definida por inúmeras perspectivas, é mutável, polêmica e altamente lucrativa.
No entanto, embora a definição da palavra "moda" esteja relacionada ao que abordaremos, não é o foco desta pauta. Nesta nova série, vamos explorar juntas, cara leitora, o encontro entre moda e esporte. Uma dupla de sucesso, com inúmeras histórias por trás, inclusive que revolucionaram o streetwear como conhecemos hoje. No nosso primeiro episódio, falaremos sobre o basquete, que atrai incríveis 5.4 milhões de telespectadores por jogo somente na NBA, tornando-se uma liga super rentável e com apelo global.
E se, por algum motivo, ainda acha que esse casamento não dá certo, quem pode te mostrar outra perspectiva não somos nós, mas Michael Jordan, uma das lendas do basquete, que uma vez disse: "Se eu me visto bem, eu me sinto bem. Se eu me sinto bem, minha performance é melhor. E se minha performance é melhor, eu ganho."
falando em Michael Jordan...
Se você pensou que é clichê mencionar Jordan no início de uma pauta sobre moda e esporte, é porque essa é a intenção. É impossível citar o basquete sem pensar no homem que fez história nas quadras e que, de certa forma, pode ser considerado um dos pioneiros dessa dupla de sucesso.
Não precisamos entrar em detalhes sobre o fato de ele ter jogado 15 temporadas na NBA ou ter ganhado seis campeonatos com o Chicago Bulls. Apostamos que tudo isso você já sabe. Mas você sabia que enquanto Jordan estava usando ternos ridiculamente largos, combinações de estampas "esquisitas", boinas e argolas douradas durante seus tempos áureos no basquete, ele possuía a infame fama de "estilo terrível"?
Mas esse termo não o seguiu por muito tempo. Aliás, ele fez o que hoje muitos consideram como "efeito Jordan". Michael trouxe um cavalheirismo para a NBA com seus ternos Armani bem alinhados e, inclusive, fez a própria liga abandonar os shorts ultra curtos pelos modelos mais largos como vemos hoje. Por quê? Simples, Jordan gostava e usava versões compridas, e isso, em termos atuais, "alugou um triplex" na cabeça deles.
Não podemos deixar de mencionar o tênis histórico que carrega não só seu nome, mas também todo seu legado no esporte. Com um império atual próximo dos 2.1 milhões de dólares, o calçado não só apresentou o jogador como um dos maiores da história, mas também mudou o rumo do estilo esportivo, influenciando toda uma nova geração de atletas e fãs.
Depois que o furacão Jordan varreu o universo do basquete, outros jogadores, influenciados pelo estilo elegante, refinado e descolado do atleta, passaram a explorar ainda mais seus estilos pessoais fora da quadra. Entre eles, podemos citar o contemporâneo à Jordan, Dennis Rodman, e outros que vieram na sequência como Dwyane Wade, P.J. Tucker e, claro, LeBron James.
Rodman, conhecido por ser o bad boy do Chicago Bulls, estava anos à frente de seu tempo. O jogador esbanjava audácia com suas unhas pintadas, croppeds e calças justas. Ao contrário de Jordan, que era mais polido e sofisticado, Dennis era aventureiro e excêntrico, uma espécie de Mick Jagger vs. Paul McCartney, sabe?
Atualmente, LeBron James é um nome de peso quando falamos em moda e basquete. O jogador é um dos embaixadores da Louis Vuitton e não é raro encontrá-lo na primeira fila de alguns desfiles durante as semanas de moda.
parcerias de sucesso?
Nessa união, o que causou o maior burburinho não foi o photoshoot colaborativo, mas sim a entrada de LeBron, na Ball Arena de Denver para o jogo de 24 de outubro de 2023, usando um look de aproximadamente 28 mil dólares projetado por Pharrell Williams. Talvez seja pelo valor estratosférico, que causa espanto em muitos de nós, ou pelo estilo. O que importa é que ambos conseguiram a atenção que procuravam.
De acordo com uma matéria publicada no BoF (Business of Fashion), "até 2030, espera-se que o mercado global de patrocínio esportivo atinja US$ 109.1 bi, acima dos US$ 63,1 bi em 2021. O que impulsiona não é apenas a audiência recorde dos eventos esportivos, mas também o poder sem precedentes das estrelas dos atletas", escrevem no artigo.
Outra parceria que também causou certa estranheza, mais por parte dos fãs do esporte, foi o contrato entre a Skims, marca da Kim Kardashian que vale impressionantes US$ 4 bi, e a NBA. Em entrevistas, Adam Silver, comissário da liga, disse que “a SKIMS rapidamente se tornou uma de nossas marcas com maior influência cultural e juntos - SKIMS, NBA, WNBA e USA Basketball - aproveitarão o poder do basquete para gerar entusiasmo e demanda, aparecendo de maneiras inesperadas."
Ou seja, a marca da empresária não só trabalhará em parceria com a liga masculina, mas também com a feminina e com o time dos Estados Unidos. Como parte da parceria, a SKIMS também receberá exposição na mídia em diversas plataformas da liga, inclusive por meio de sinalização virtual nas quadras durante as transmissões nacionais da NBA e WNBA.
O escolhido para estrelar a primeira campanha da marca foi Shai Gilgeous-Alexander, o All-Star da NBA que também possui um estilo inconfundível e cheio de personalidade. O armador do Oklahoma City Thunder não só é presença garantida na primeira-fila de desfiles como Kenzo e Givenchy, mas também já chegou a desfilar para a Thom Browne em 2022.
Shai também já havia sido o rosto de outra campanha da NBA x Louis Vuitton, escolhido a dedo pelo falecido Virgil Abloh, cujo legado no esporte é muito maior do que nós imaginamos.
Virgil e a NBA
Abloh pavimentou todo um caminho para uma comunidade, deixando claro para a nova geração que os novos espaços precisam de criatividade e ainda mais visibilidade. Paul George, jogador dos Clippers, contou em uma entrevista que "ele (Virgil) é um pioneiro para a nossa geração. Acho que ele acabou de criar uma onda de jovens negros, jovens afro-americanos, jovens mulheres negras, que preenchem essa lacuna."
O designer mudou ainda mais o cenário com a Nike, customizando tênis icônicos e altamente desejáveis, acrescentando seus toques pessoais escrevendo as frases “Black Lives Matter”, “Virgil Was Here” e “LeBron” nas entressolas de alguns deles.
Inclusive, lembra quando mencionei que era impossível falar sobre moda e basquete sem mencionar Michael Jordan? Pois bem, o atleta é uma das maiores fontes de inspiração de Abloh, e ele explica isso um pouco melhor no vídeo, em inglês, acima.
No fim das contas, é inegável que o esporte está intrínseco à moda e sua influência no guarda-roupa moderno é onipresente. Nas quadras, dentro e fora, atualmente, não é só a performance do jogador que é avaliada, mas também seus looks. Perfis como o LeagueFits, que conta com pouco mais de 1 milhão de seguidores, dedicam-se a documentar o melhor da NBA e da WNBA.
códigos de vestimenta?
Atualmente, a variedade de estilos capturados em fotos é ampla, abrangendo desde os mais formais até os mais despojados. Enquanto Michael Jordan trouxe um toque de cavalheirismo ao basquete durante os anos 90, um legado que permanece visível até hoje, figuras como Carmelo Anthony e Allen Iverson desafiaram as normas estabelecidas. Conhecidos por seus estilos marcantes, caracterizados por grandes tatuagens e uma estética streetwear fortemente ligada ao hip-hop, eles vocalizaram sua discordância com as regras impostas em 2005 que proibiam a utilização de camisetas ultra largas, calças de moletom e joias consideradas "pouco profissionais" durante jogos e coletivas de imprensa.
Essa proibição, ainda que de forma velada, carregava consigo uma conotação racial. O basquete sempre foi um pilar da cultura urbana, particularmente popular entre jovens negros. Em essência, a tentativa de David Stern, comissário da NBA na época, era tornar a liga mais "segura e atraente" para patrocinadores brancos.
Embora o código ainda exista teoricamente nos dias de hoje, as regras foram flexibilizadas. No entanto, essa flexibilização levanta certas preocupações, uma vez que não é possível dissociar o basquete do streetwear. A intersecção entre essas duas culturas é inseparável e fundamental para a identidade do esporte.
afinal, se não fosse o basquete...
Nós não teríamos vivenciado a gigantesca popularização das regatas Jerseys! Praticamente um emblema da cultura hip-hop que é altamente replicada no streey style por celebridades, como Rihanna e Mariah Carey, influenciadores e por grandes grifes também.
Porém, muito antes deles, de acordo com informações do portal Dazed, meninas e mulheres dos cinco bairros de Nova Iorque passaram a usar regatas três números maiores como vestidos no dia a dia, fomentando o apelo pela peça e criando, junto aos jogadores, um hype fenomenal pelo item esportivo. Além, claro, de trazer um interesse muito maior do público feminino para o basquete.
A conexão entre moda e basquete transcende as quadras e é um reflexo poderoso da cultura contemporânea. Não se trata apenas de vestimentas, mas sim de identidade, expressão e inclusão. Enquanto a NBA e seus jogadores continuam a moldar tendências e quebrar barreiras, a influência da moda no esporte e vice-versa só cresce, revelando uma simbiose criativa que ressoa muito além das linhas das quadras. A intersecção entre moda e basquete continua a surpreender e inspirar, criando um campo de jogo único onde o estilo é tão crucial quanto a habilidade.
Da elegância do terno Armani de Michael Jordan aos trajes streetwear ousados de Allan Iverson , da colaboração entre a Skims e a NBA à ascensão de astros como Shai Gilgeous-Alexander como ícones da moda, uma coisa é certa: a união entre moda e basquete é muito mais do que uma simples tendência passageira, é um testemunho da influência duradoura e da criatividade ilimitada que permeia ambos os universos. E como qualquer grande partida, estamos ansiosos para ver o que o futuro reserva neste encontro entre moda e esporte. Nos vemos na próxima!
