Como eu aprendi a amar minha pele imperfeita

por Giulia Coronato

Desde os meus 13 anos, quando meu quadro de acne e rosácea se agravou pela primeira vez, meu maior sonho estético era ter uma pele de seda. Lembro de olhar minhas fotos de criança e desejar com todas as forças que eu voltasse a ter aquela pele lisinha e homogênea pelo menos por mais um tempo. Foi também, por volta dessa época, que surgiu o Instagram e por mais inofensivo você acredite que ele seja, o uso desenfreado do Instagram e de outras mídias sociais na adolescência, impactou tanto minha autoestima que vejo resquícios disso até hoje.

Edições exageradas fizeram parte de nosso feed durante muito tempo (e ainda fazem) e recentemente tivemos o boom dos filtros do Instagram, outro fator que não só impacta negativamente nossa autoestima e autoconfiança, como também transforma a maneira que nos enxergamos. Em um período em que a mídia impressa está praticamente extinta, as mídias sociais substituem o papel de oprimir a aparência da mulher, nos entregando padrões de estética completamente irreais e computadorizados e tornando tudo que não é perfeito, inaceitável. Fazendo com que eu - como para maioria das pessoas - que tinha uma pele imperfeita, vivesse em guerra comigo mesma durante uma década.

Eu passei anos desejando uma perfeição que não existia, desejando ter uma pele diferente, evitando esbarrar em espelhos e me escondendo atrás de camadas e mais camadas de maquiagem, para tentar ao mínimo me parecer um pouco com o que as redes sociais me diziam que era o certo, o bonito. 

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Foto: Giulia Coronato (Reprodução/StealTheLook)


Acredite se quiser, mas depois de quase uma década de luta interna e de insegurança, não foi um dermatologista que me fez amar minha pele e sim, minha psicóloga. Em uma de minhas valiosas sessões onde eu falava o quanto minha autoconfiança era impactada pela aparência de minha pele e o quanto eu estava cansada de correr em círculos fazendo tratamentos infinitos que nunca resultavam em uma pele perfeita, ela me perguntou: "você já viu uma pele perfeita fora das redes sociais?" E foi como se uma chave tivesse virado na minha cabeça. É claro que eu nunca tinha visto uma pele perfeita fora das redes sociais, simplesmente pelo fato de que ela não existia. 

Tendências de beleza como a k-beauty, ou selfies impecáveis com peles de vidro, passaram rapidamente de tendência à padrões estéticos e como todos os padrões, inspira um ciclo vicioso de obsessão que vem com a cobiça do inatingível. Eu cedi a essa obsessão e passei anos obcecada com a ideia de acabar com minha pele imperfeita e lamentei o fato de ter uma pele sensível, texturizada que constantemente passava por um breakout.

É claro que não estou dizendo que você não deve cuidar de sua pele, se você tem uma doença ou uma condição, como eu tenho, usar os produtos certos e ter um cuidados especial é uma questão de saúde. E ter uma rotina de skincare não é só bom para a cútis, como também para a saúde mental. Mas acredite, ter uma pele imperfeita é uma coisa boa! Por que? Todos essas características que nos incomodam tanto e que vemos como um obstáculo para a pele perfeita, na verdade estão lá para nos proteger. 

Como os poros! Os poros são canais de saída para o sebo e o suor e acredite em mim, você não iria querer que seus poros encolhessem ou desaparecessem. Ou as células mortas, que tem um importante propósito biológico como parte da barreira natural da pele. Ou até as espinhas! 

Sim, as espinhas são o porta voz do nosso corpo, e o aparecimento delas pode servir de alerta para você compreender que algo não está indo tão bem como o planejado. Por exemplo, se começaram a aparecer espinhas em sua mandíbula e na linha do queixo? É hora de dar uma boa olhada em seus hormônios. Espinhas combinadas com cravos? Talvez sua rotina de skincare não esteja alinhada com o seu tipo de pele. Bochechas inflamadas? Seu corpo pode estar implorando por uma alimentação mais saudável. Ninguém gosta de ter espinhas e claro que se eu pudesse, escolheria nunca mais ter uma, mas elas podem estar compartilhando informações importantes sobre seu organismo! 

Todas essas características que nos incomodam tanto e que vemos como um obstáculo para a pele perfeita, na verdade estão lá para nos proteger. 

Viu só? Não tem porque odiarmos nossas imperfeições, nossa pele imperfeita é um sinal de que estamos vivos e de que nosso corpo está funcionando. Pele é pele, ela não nasceu para ser lisa e transparente como vidro, ela sempre terá texturas e poros, e às vezes acnes, manchas, oleosidade e inflamações. Isso é bom! Significa que ela está viva, é dinâmica, e perfeitamente projetada para falar com você. 

Ao invés de se comparar com a perfeição e deixar o estado de sua pele determinar seu senso de autoestima, tente abraçar as imperfeições e até os defeitos. Porque cá entre nós, são eles que nós fazem reais. 

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