O intuito dessa reflexão não é mostrar um antes e depois, falar sobre minha dieta, minha mudança de hábitos ou qual é o jeito certo e errado de ser ou agir. Mas sim, contar um pouco sobre a experiência pessoal de como minha mudança física e corporal afetou minha saúde mental, e a forma como eu me enxergo.
Já falei algumas vezes por aqui, que desde o início de 2020, quando entramos em pandemia e isolamento social, eu mudei completamente minha vida. Comecei a praticar esportes e atividades físicas todos os dias, comecei a me alimentar melhor, diminuir o consumo de álcool, entre muitas outras mudanças. E é claro que isso impactou imensamente na minha aparência, em poucos meses eu já tinha perdido quase 10kg, e diminuí duas grades de tamanho de roupa.
Vamos a um rápido histórico, eu nunca fui uma mulher gorda, nem na infância, nem na adolescência, nem na vida adulta. É claro que já tive fases maiores ou menores - como toda mulher tem e é absolutamente normal -, mas eu sempre tive problemas com a minha imagem e com o meu corpo. Venho de um histórico de distúrbios alimentares desde muito nova, e minha relação com a comida sempre foi péssima e extremamente tóxica. Não lembro de um momento na minha vida em que não estava de dieta, ou que estava genuinamente feliz com a minha aparência. Por isso, quando comecei a me exercitar diariamente, a consultar um nutricionista e realmente priorizar minha saúde, achei que ia deixar para trás esse histórico, mas não foi o caso.
No meio de 2021, com a volta parcial dos eventos e do trabalho presencial, voltei a ver pessoas que não via há meses, e todo mundo me falava sempre a mesma coisa: “Nossa, como você está magra!”. Em tom de surpresa e elogio, era a primeira frase que eu ouvia, todas as vezes. Apesar de parecer inofensivo, isso foi colocando uma pressão enorme em cima de mim, e minha saúde mental foi para os ares. Eu comecei a achar inaceitável a ideia de voltar a ser como eu era antes dessa mudança de hábitos. Peguei repulsa pelas minhas fotos antigas, literalmente limpei meu Instagram, me forcei a me exercitar cada vez mais para emagrecer cada vez mais. Não saia para comer com as minhas amigas, ou se ia me controlava para não sair nem um pouquinho da dieta. Eu vivia literalmente com medo, com uma corda amarrada no pescoço, e apesar de todo mundo me dizer constantemente que eu estava na minha melhor fase, com o meu melhor corpo, a minha saúde mental me dizia outra coisa.
É muito fácil entrar nessa obsessão quando falamos de exercício físico e de aparência corporal, já falei sobre isso numa reflexão sem filtro aqui no site. E minha experiência foi exatamente assim, da noite para o dia, uma prática que era para ser saudável e prazerosa, me escravizou. E foi nesse curto período de tempo, nessa brecha entre motivada e bitolada, que eu fui diagnosticada com dismorfia corporal - um transtorno psicológico que envolve um foco obsessivo na própria aparência. Dismorfia corporal é uma doença e deve ser levada a sério.
peguei repulsa pelas minhas fotos antigas, literalmente limpei meu Instagram, me forcei a me exercitar cada vez mais para emagrecer cada vez mais
Foi só aí que eu me liguei, eu tinha voltado a ser exatamente igual era no passado, que eu tanto lutei para deixar pra trás, e isso acendeu uma luz vermelha na minha cabeça, de que na verdade eu nunca estive “curada”, eu só estava distraída. Desde então, pisei no freio e coloquei minha saúde mental em primeiro lugar. Meus desabafos com minha psicóloga têm sido mais frequentes do que minhas visitas à balança, meus treinos estão voltando a ser prazerosos e não ligados a uma pressão estética, e minha relação com o espelho aos poucos volta a ser saudável.
É uma batalha diária e árdua, mas é a que mais vale a pena. Minha dica para quem quer passar longe do que eu passei? Não se deixe levar por comentários, não deseje ser alguém que você vê passando pelo seu feed, saia comer um doce com as suas amigas, tome uma taça de vinho de vez em quando, se exercite por prazer, vindo de um lugar de amor ao corpo e não de ódio ou repulsa. Como mulher, é muito fácil sermos pegas nessa roleta russa de achar que nosso corpo é a única coisa válida sobre nós, e acredite em mim, isso não chega nem perto de ser verdade.
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