Estaria a busca por uma vida saudável superando a obsessão pela magreza?
A magreza sempre foi associada com a beleza e com a saúde. Estar magra ou ser magra é até hoje considerado pela grande maioria das pessoas um indicativo de uma boa alimentação, de hábitos saudáveis e até de alguém bem sucedido, em diversas áreas da vida. O que transforma simultaneamente uma pessoa gorda no oposto. Ser gorda ou estar gorda é considerado sinônimo de alguém com uma péssima saúde. Pelos fatores estéticos envolvidos e impostos desde a década de 60 - considerada o início da ditadura da magreza -, a busca por um corpo magro sempre superou a busca por uma vida saudável, as últimas quatro gerações cresceram acreditando que ser magro era muito mais importante do que ser saudável.
Não precisamos ir muito longe para provar nossa teoria, fazendo um curto retrospecto de minha própria vida, vejo o quanto a magreza ditou e orbitou a felicidade de todas as mulheres da minha família. Não houve um momento sequer em que minha mãe, minhas tias ou avós não estivessem em algum tipo de dieta ou pior, insultando seus próprios corpos em comparação aos das mulheres que estavam nas revistas, nas televisões e anos depois, nas redes sociais. Essa perseguição incessante pela magreza sempre veio na frente da preocupação com a saúde física e mental. Dietas restritas com uma ingestão de calorias que beirava o ridículo e as deixavam famintas o dia inteiro eram combinadas com remédios experimentais que tinham como propósito eliminar a fome. E a saúde nesse meio tempo, como ficou?
Agora falando de uma perspectiva maior que minha própria vida, a obsessão pela magreza foi - e ainda é! - uma epidemia tão grande no mundo que adoeceu milhões de pessoas, principalmente mulheres, e matou milhares delas. Em um estudo feito pela Secretaria de Estado da Saúde, em 2014, foi divulgado que 77% de jovens adultas no Estado de São Paulo tinham propensão a desenvolver algum tipo de distúrbio alimentar e acreditavam que mulheres magras eram sim mais felizes e saudáveis. A discussão da causa desses assustadores dados e números é muito profunda e envolve fatores sociais, psicológicos, econômicos, genéticos e diversos outros, e não será completamente esclarecida em um texto, nosso objetivo aqui é outro. É mostrar que o jogo, na verdade, está virando.
Certos hábitos, frases e conteúdos que antes eram relevantes e extremamente consumidos, como: “a receita que vai te fazer perder 5kg em uma semana”, ou “o exercício que vai te fazer secar”, estão perdendo força e até sendo barrados por diversas plataformas para dar lugar a conteúdos que incitam a busca por uma vida saudável. Em julho do ano passado, o Pinterest se tornou a primeira grande plataforma a banir completamente os anúncios de perda de peso. As análises do comportamento dos usuários em relação à vida saudável e aos estilos de vida saudáveis revelaram que as pesquisas globais contendo o termo de busca “perda de peso” diminuíram 20% em maio de 2022 em comparação com 2021. Em vez disso, as pessoas vão ao Pinterest para descobrir ideias que inspiram hábitos saudáveis, especialmente aqueles relacionados a uma dieta saudável, que tem como foco não o déficit de calorias, mas sim, a ingestão de nutrientes.
o Pinterest se tornou a primeira grande plataforma a banir completamente os anúncios de perda de peso
Quando falamos do TikTok, a maior rede social da atualidade, é nítido ver a mudança e como as pessoas estão, pela primeira vez em décadas, se preocupando na busca por uma vida saudável acima da magreza ou daquilo que é considerado a perfeição estética. A hashtag #health, já coleciona mais de 43 bilhões de visualizações no aplicativo, e não é necessário passar muito tempo por lá para se deparar com vídeos de receitas saudáveis, dicas de exercícios e vlogs de rotinas saudáveis com o único objetivo de inspirar os outros.
O movimento parece ter surgido entre a Geração Z, que começou, aos poucos, a inibir certas coisas consideradas antepassadas vindo de gerações anteriores, isso aconteceu tanto quando falamos de sapatilhas ou sagas de filmes, como comportamentos. Aos poucos, a GenZ foi mostrando a nova fórmula de fazer e consumir conteúdo de bem-estar na internet, que é bem simples na verdade: saudável é igual a ter uma boa saúde e não a ser magro.
É claro que isso é apenas um pequeno passo e ainda há um longo caminho a ser percorrido, os distúrbios alimentares, a ditadura da magreza e todas as formas de opressão ao corpo da mulher, ainda estão presentes. E para ser sincera, às vezes tenho dificuldade em acreditar que esse movimento de neutralidade corporal que estamos vendo nas redes sociais e de uma maior busca por uma vida saudável seja algo definitivo, e sinto que isso é uma tendência de comportamento passageira, como muitas outras.
As mudanças positivas estão acontecendo e devemos continuar participando ativamente delas, torcendo para que esse movimento seja progressivo e não somente algo passageiro.
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