Eu jamais faria escova progressiva novamente e te conto o porquê

por Karen Merilyn

Os alisamentos capilares voltaram com tudo. É só ficar alguns minutos nas redes sociais para ver uma grande quantidade de vídeos de “antes e depois” com cabelos cacheados e crespos se tornando lisos com produtos químicos, como a escova progressiva. Esse comportamento, infelizmente, faz parte da volta dos anos 2000, onde cabelos extremamente lisos e a magreza excessiva, por exemplo, eram o ideal de beleza que todas as mulheres queriam alcançar. 

Eu, como millennial que sou, já fui uma das adolescentes que faziam de tudo para ter o cabelo liso. E vendo essa nova geração cometer os mesmos erros, senti que precisava falar sobre os motivos pelos quais eu nunca, em hipótese alguma, jamais faria escova progressiva novamente. 

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Foto: Karen Merilyn (Reprodução)


Primeiro, eu preciso contar minha história com a escova. Eu comecei a alisar o cabelo aos 13 anos, porque antes disso minha mãe não deixava. E apesar de hoje achar que era nova demais para ter começado a alisar, eu sei que entre as meninas de cabelos crespos, o alisamento era comum aos 7 anos, ou até menos. 

Desde que comecei o alisamento, mais ou menos a cada três meses, durante seis anos, eu ia até um salão para fazer a escova progressiva. Tudo que eu lembro era do cheiro muito forte, da queimação no couro cabeludo e dos olhos que ardiam com a fumaça. Na época, nada disso me preocupava muito porque, no fim das contas, o importante era que meu cabelo ficasse extremamente liso. 

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Foto: Karen Merilyn (Reprodução)

Acontece que essas escovas continham formol, algo super comum naquele momento, mas que é considerada uma substância cancerígena pela Organização Mundial de Saúde. Inclusive, ele é proibido em cosméticos desde 2009, o que até hoje não impede que o alisamento com formol aconteça. Eu, por exemplo, fiz escova progressiva com a substância até 2015. 

Segundo a Anvisa, em uma pesquisa divulgada em 2022, 35% dos fiscais de Vigilâncias Sanitárias que participaram do estudo relataram ter constatado o uso irregular de formol em alisantes. Isso mostra que ainda é comum que mulheres continuem passando produtos que podem causar câncer apenas para ter o “liso perfeito”.

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Foto: Karen Merilyn (Reprodução)

E toda essa questão ainda tem um outro lado. Durante boa parte da minha infância e em toda a adolescência, eu odiava meu cabelo natural. Eu via a escova progressiva como uma salvadora, uma ferramenta para levantar minha autoestima. O que eu não percebia era que, na verdade, era uma relação de dependência, que me causava horror cada vez que minha raiz crescia alguns centímetros. 

Foram muitos anos odiando o meu cabelo como reflexo de algo que eu tinha muito forte dentro de mim: eu queria desesperadamente ser branca. E mesmo que alcançar esse ideal de beleza fosse humanamente impossível, eu tentava através do alisamento. Na minha cabeça, ter o cabelo liso significava ficar mais parecida com as minhas amigas e ser mais bonita por consequência. 

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Foto: Karen Merilyn (Reprodução)

Foi só quando eu entrei na faculdade de jornalismo, participei de palestras, comecei a ler sobre o movimento de mulheres negras, que eu entendi a raiz do problema. Eu passei por todo um processo até perceber que aquela escova progressiva ia muito além de um procedimento estético. Ela me destruía fisicamente por danificar meus fios e emocionalmente porque eu nunca era suficiente. 

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Foto: Karen Merilyn (Reprodução)

Depois que eu parei de fazer escova progressiva, meu cabelo mudou completamente - e eu não estou falando só de voltar a ser cacheado. A saúde dos meus fios ficou outra. Eu parei de ter pontas duplas, não tive mais quebra capilar intensa, as pontas ralas já não existiam e, é claro, chega de ardência no couro cabeludo. Foi muito bom ver meu cabelo saudável de verdade e não precisar me preocupar com a raiz. 

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Foto: Karen Merilyn (Reprodução/Instagram)

Em vez de passar produtos químicos, passei a mudar meu cabelo de outras formas e as tranças foram — e ainda são — minhas melhores amigas. Já tive cabelo de todas as cores que dê para imaginar: laranja, rosa, azul, branco, loiro, vermelho (e ainda posso estar esquecendo algum).  

Também já fiz só chapinha por um tempo, há uns anos atrás, e me arrependi. O alisamento térmico não é tão agressivo quanto a progressiva, mas ainda assim estou até hoje em uma transição capilar por conta disso. 

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Foto: Karen Merilyn (Reprodução/Instagram)

Esse ano, finalmente entrei no mundo das laces. Elas, pra mim, são a melhor escolha de todas para mudar os fios porque você pode ter literalmente o cabelo da cor, curvatura e tamanho que quiser sem danificar em nada a estrutura natural. Ainda tem o bônus de você poder ser cada dia de um jeito sem nenhuma consequência capilar. 

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Foto: Karen Merilyn (Reprodução/Instagram)

Por fim, eu sei que a gente fala muito sobre liberdade capilar, mas liberdade para mim é poder ter mil versões do meu cabelo sem precisar mexer com a curvatura dele. Eu finalmente entendi que com lace, trança, e até chapinha (com muita cautela), eu consigo mudar de forma que não agrida algo que é tão precioso para mim. 

Meu cabelo representa muito mais que qualquer tendência ou vontade passageira. Ele faz parte de quem eu sou de verdade e isso, felizmente, nunca vai mudar.

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