Sabe aquela influencer que inspira? É a Luciellen Assis. Com um conteúdo muito rico, ela fala de moda como ninguém. É dona de uma marca de slow fashion e tem a sustentabilidade como um dos seus pilares, mas não para por aí. Beleza e bem-estar também são assuntos muito presentes em suas plataformas de uma maneira leve, natural e com muita responsabilidade.
Por esses e outros motivos, Luciellen Assis é nossa girl crush. Tivemos a oportunidade de bater um papo com ela através do nosso projeto em parceria com o Pinterest Brasil e vamos compartilhar tudo o que ela contou sobre sua vida e seu conteúdo.
A gente ama saber a história por trás de cada influenciadora. Conta um pouco da sua para a gente?
L.A.: Eu nasci em Vitória da Conquista, Bahia, e passei a maior parte de minha vida em Feira de Santana, que é onde moro hoje. Minha família é toda baiana, sou filha de costureira e grande parte do motivo de eu amar tanto a moda vem de mainha — aprendi a costurar vendo ela trabalhar. Comecei a criar conteúdo em 2013, tinha o cabelo alisado, amava fazer customização nas minhas roupas e até vendia esse serviço para as amigas. Aí entrei em transição capilar para deixar o cabelo natural e fui para o YouTube mostrar esse processo porque via poucas brasileiras fazendo isso na época. A partir desse momento, eu fui criando uma comunidade com pessoas que estavam passando pelo mesmo processo que eu e a gente foi amadurecendo junto.
O que te inspira a criar conteúdo? Quais são suas referências?
L.A.: Eu acho incrível pensar que o que eu faço, por mais simples que seja, impacta a vida de alguém de forma positiva. Dividir um pouco de quem eu sou com o mundo é maravilhoso e a internet foi uma ótima forma de potencializar minha voz e a de uma galera incrível que me inspira demais.
A lista de inspiração é enorme, mas vou deixar resumida aqui com as favoritas do momento: Joicy Eleiny (@soutipo4), Ellora Haonne (@ellorahaonne), Preta Araújo (@pretaraujo), Eliziane Berberian (@elizianeberberian), Bielle Elizabeth (@bielle.e) e Gessycka Gino (@gessyckagino).
Você é muito estilosa! Como você definiria seu estilo?
L.A.: O principal na hora de montar um look para mim é estar confortável. Amo fazer composições com camadas, sou apaixonada por alfaiataria, mas não uso ela exatamente da forma tradicional sempre, porque acho massa criar um conceito novo para a peça. Levando em consideração minhas referências da estética preta, acredito que meu estilo mescla entre o elegante e o dramático.
Para a mulher preta, o cabelo é um tema muito sensível, porque a gente passou a vida inteira ouvindo todo tipo de palavra negativa com relação a ele (...). Depois que passei pela transição capilar, me percebi ainda mais bonita e com um universo totalmente novo de possibilidades que estão para muito além de alisar.”
É impossível falar do seu estilo sem falar do seu cabelo. Conta um pouco dessa relação com o cabelo e penteados dentro do seu estilo.
L.A.: Eu acredito que meu cabelo foi quem fez a chavinha mudar e entender a potência que sou, além de ajudar na construção de minha identidade. Para a mulher preta, o cabelo é um tema muito sensível, porque a gente passou a vida inteira ouvindo todo tipo de palavra negativa com relação a ele e a qualquer outra qualidade do nosso povo. Depois que passei pela transição capilar e deixei ele natural, me percebi ainda mais bonita e com um universo totalmente novo de possibilidades para meu cabelo que estão para muito além de alisar.
Eu cultivei meu Black Power por uns bons anos e brinquei bastante com ele usando com vários cortes, penteados e extensões sintéticas. Em fevereiro de 2022 comecei a cultivar dreadlocks naturais e desde então tenho me divertido muito com as possibilidades deles também.
Seus conteúdos são muito ricos em pesquisa e você traz histórias muito interessantes sobre moda e beleza. Por que você quis trazer esse tipo de conteúdo mais denso, mas de forma leve e objetiva para seu perfil?
L.A.: Eu sempre amei história, inclusive foi um dos cursos que cogitei fazer quando saí do colégio, mas a moda me chamou mais forte. Depois que comecei a criar conteúdo fiquei com mais vontade de usar esse meu lado também. Tanto para coisas relacionadas ao universo preto, quanto à moda, que eu amo. Eu fazia algumas pesquisas sozinha, mas percebi que tinha muita coisa duvidosa e sem fontes, era só achismo; então resolvi convidar amigos professores e historiadores para ter as fontes seguras das informações que vou passar. E faço sempre questão de deixar as fontes em ABNT na legenda. To amando demais esse projeto de pesquisa de moda e espero que ele ganhe o mundo.
A ideia de compartilhar mais sobre bem estar é justamente para naturalizar pessoas como eu nesse lugar de aconchego e conforto que todo mundo merece.”
Além da moda, você aborda o bem-estar. Quando você sentiu que precisava compartilhar esse lado da sua vida e inspirar outras pessoas?
L.A.: Quando eu deixei meu cabelo natural, o racismo me atravessou de forma muito mais direta e isso foi muito triste. Perceber a forma como o mundo trata pessoas não brancas é algo que revolta demais e a maioria dos nossos acaba se afundando nas próprias dores depois que se dá conta disso. Com o crescimento das nossas vozes na internet parece que pessoas pretas estão sempre na função de falar sobre racismo e a gente é tão mais que isso… Dividir nossas dores é importante sim, mas a guerra contra o racismo não deveria ser responsabilidade nossa, até porque não fomos nós que criamos ele, né? Além disso, nosso povo tem culturas riquíssimas, é bonito que só e tem um universo de sabedorias pra ensinar, então nada mais justo que dar destaque a isso. Então, a ideia de compartilhar mais sobre bem estar é justamente para naturalizar pessoas como eu nesse lugar de aconchego e conforto que todo mundo merece.
Quais as três dicas que você daria para quem quer montar looks de academia mais estilosos?
L.A.: Foque sempre na qualidade do tecido e na modelagem da peça. Eu gosto de tecidos grossos porque geralmente eles não ficam transparentes.
Aposte nos conjuntos e macacões. Se você não tem conjuntos prontos, junta peças que conversem; não precisa ser tudo exatamente da mesma cor, mas se eu tenho um top branco, azul e preto, por exemplo, posso escolher uma legging que tenha algum desses tons e que seja lisa. Dessa forma vai parecer que é um conjunto e fica bem estiloso. Eu vivo fazendo isso e sempre me perguntam de onde é o “conjuntinho”, mas na verdade são peças de lojas diferentes.
Outra dica é usar o All Star, que é um tênis perfeito para treinar, principalmente em dia de membros inferiores porque ele dá muito mais estabilidade, além de ser muito estiloso e mudar a cara pro look. Eu amo os modelos monocromáticos.
Você tem uma marca muito legal de slow fashion. Como é empreender enquanto também cria conteúdo?
É um trabalhão! Mas é uma delícia. O mais complicado é o cansaço, já que qualquer processo que envolva criatividade deixa a mente cansadinha e eu preciso fazer isso tanto na Mulungú, quanto na criação de conteúdo. Como a marca é bem pequena e sou praticamente eu sozinha para fazer a maior parte das coisas, é sempre uma correria.
E sobre a parte criativa da marca, como funciona para você e qual a importância na sua vida?
A Mulungú é um sonho de infância, então tudo que diz respeito a ela é incrível pra mim. O processo criativo começa pela paleta de cores e a mensagem que quero passar com a coleção. Aí depois escolho o conceito das peças, qual tipo de recorte e o movimento que quero que elas tenham para começar a desenhar. Tenho vários rabiscos dos projetos que vão vindo em minha mente e que são ajustados com o tempo até chegar no desenho final.
Depois disso, mainha entra em ação. Além de costureira, ela é modelista industrial e fica responsável por criar a modelagem de todos os desenhos que faço. Aí nós vamos ajustando até a peça ficar do jeito que imaginei. Feito isso, a gente começa a entender o custo de cada peça, quanto tecido vamos precisar, quais costureiras vão fazer e por aí vai. São muitos detalhes até a peça ser colocada oficialmente no mundo e sendo uma empresa pequenininha, demora bem mais, porque a gente também depende de recursos financeiros para tirar tudo do papel. Acho que o que me falta hoje mesmo são investidores para poder fazer tudo que planejo com ela e ganhar o mundo.
A moda sustentável é uma das pautas que você aborda até mesmo na sua marca. Como você vê o futuro da moda dentro desse viés?
L.A.: Eu espero sinceramente que [a moda sustentável] se torne cada vez mais comum. A indústria da moda tem sido baseada no exagero por anos e isso é desesperador. São sempre peças descartáveis, com uma qualidade duvidosa, muitas vezes com costureiras sendo extremamente desvalorizadas e coleções sendo lançadas para serem esquecidas em pouco tempo. Quando decidi entrar nesse universo, meu foco sempre foi dar dignidade a quem trabalhasse comigo nesse processo e o mundo ideal pra mim seria esse.
Falando em moda sustentável, quais são seus brechós favoritos?
L.A.: [Meu favorito era] o Afrô Slow Fashion, que era de algumas amigas, mas infelizmente fechou. A maioria do meu acervo de brechó é dele.
Esses são os que mais amo atualmente: Barganhei Brechó (@barganhei_), Brechó no Fundinho (@brechonofundinho), Pretas Brechó (@pretas_brecho), Somos Brechó (@somos.brechofsa) e Boss In Brechó (@bossinbrecho).
Quero ter acessos e facilitar acessos aos meus, construir uma carreira bonita, próspera, saudável e proporcionar conforto para minha família.”
Qual é seu objetivo maior para o futuro como criadora?
L.A.: Eu quero alcançar tudo que for positivo nesse universo. Quero ter acessos e facilitar acessos aos meus, construir uma carreira bonita, próspera, saudável e proporcionar conforto para minha família.
Um grande sonho, além de fazer a Mulungú ser reconhecida mundialmente, é ter grana pra comprar uma chácara grandona e deixar mainha e painho lá, bem tranquilinhos e aposentados. E com fé nos Orixás isso tudo já é meu, só está esperando o tempo certo pra chegar.
