Guia do cabelo crespo: tudo o que você precisa saber sobre transição capilar
O processo de transição capilar é cada vez mais uma realidade entre as mulheres. Assumir os fios naturais e abandonar a química, que por muitos anos esteve presente em nossa vida, é mais do que uma tendência, é um ato de empoderamento da beleza natural e força histórica. Por muitos anos fomos condicionadas à ideia de que apenas os cabelos lisos eram bonitos, que para sermos aceitas deveríamos fazer diversos tratamentos com produtos que garantissem o efeito alisado e, logo, muitas mulheres nem sabem ao certo qual é a real curvatura do cabelo.
Por isso e por muitos outros motivos, a transição capilar exige paciência. Afinal, nesse período, é preciso deixar o cabelo crescer naturalmente, o que significa que você terá duas texturas diferentes de fios por um tempo - os seus naturais na raiz e os lisos no comprimento. Portanto, não é de se espantar que as pessoas em transição tenham muitas dúvidas nessa trajetória: como finalizar o cabelo, quais cuidados ter, quando cortar o cabelo, entre outras. Mas, embora o processo não seja tão fácil, garantimos que o resultado final e a alegria de ter os fios naturais compensam cada momento.
Para você que está vivendo a transição - ou está considerando -, reunimos um super time que compartilhará dicas de como passar pelo processo, dividindo também os seus relatos pessoais. Uma delas é a cabeleireira Talita Reis, expert em cabelos naturais, que oferece todas as dicas de como encarar a transição; e as outras são duas look stealers: a especialista em Performance, Claudiana Ribeiro, e a assistente de Design, Mayra Souza. A Clau e a May contarão a experiência de quem já finalizou a transição. Por fim, a nossa assistente de Conteúdo, Inaê Ribeiro, que está em processo de transição capilar, também fala como tem sido para ela.
_vivendo a transição capilar
Para iniciar o processo de transição capilar basta que você esteja pronta para lidar com a fase difícil de adaptação das duas texturas, devido às mudanças na aparência e cuidados com o cabelo. Para garantir que seus fios irão crescer saudáveis é necessário que você faça mudanças em sua rotina de cuidados capilares. Para isso, a dica da cabeleireira Talita é que você invista em produtos específicos para o seu tipo de fio natural, que promoverão a higienização correta e hidratação na medida certa.
Neste momento é melhor evitar secador, prancha e sempre prender o cabelo, pois isso pode atrapalhar o desenvolvimento e crescimento dos seus novos cachos. Mas, é claro que você é quem encontrará a melhor maneira de passar pela transição e, se para você o ideal é continuar com a escova, sempre utilize um protetor térmico e evite passar a chapinha muitas vezes na mesma mecha.
Outra dica para que o processo ocorra da melhor forma e você tenha cachos bem cuidados é ter uma rotina de tratamento, com produtos de qualidade que oferecerão hidratação e nutrição aos seus fios.
_dicas de finalização
Existem diversas formas interessantes de finalizar o cabelo durante a transição capilar, especialmente para quem ainda não quer cortá-lo.
> Fitagem: finalizar o cabelo através da fitagem é aplicar o creme com o cabelo bem molhado e ir separando os fios com dedos ou escova, mecha por mecha. Esse processo garante fios mais definidos e com pouco volume;
> Megahair ou lace: essas opções são ideais para quem ainda não se adaptou às duas texturas. Elas irão “esconder” os fios naturais, mas atenção, não é recomendado ficar muito tempo com o megahair, pois seu cabelo ficará danificado;
> Penteados: apostar em penteados é uma ótima opção para o cabelo com duas texturas. Há quem ame os coques e semi-presos ou quem prefira investir em acessórios, como presilhas, para garantir um visual ainda mais bonito. Mas, lembre-se da dica da cabeleireira Talita: não fique por muitos dias com ele preso;
> Tranças: a trança é uma opção muito utilizada durante a transição capilar. Por existir vários modelos, elas são versáteis e trazem novidade ao visual. É importante que, após a trança, você deixe o seu cabelo natural para um tratamento efetivo;
> Texturização: existem alguns tipos de texturização, mas todos servem para garantir que a parte do cabelo que ainda possui química também esteja cacheada, como uma maneira de disfarçar as duas texturas. Uma ideia é fazer mini coques pelo cabelo. Para isso, basta passar gel ou gelatina no cabelo, o prender com grampos e deixar secar por algumas horas. Também é possível investir em bigudinhos - acessório que ajuda na definição de cachos.
_big chop
Um passo importante da transição capilar é o big chop e para muitas mulheres que não querem obter duas texturas no cabelo, ele acontece bem no início da transição. O big chop é o corte total da parte do cabelo que ainda possui química, para que o cabelo fique totalmente em sua forma natural. Não existe um momento certo para fazê-lo, basta que você esteja pronta e confiante para arrasar com seus fios naturais. Mas, vale reforçar que ele possui uma vantagem: seus fios crescerão mais fortes após o corte.
foi libertador perceber que não ficaria mais refém de salões e químicas
A arquiteta Ayana Ribeiro aderiu ao big chop no fim de 2019 e conta que por meses viveu a dúvida se realizava a mudança no visual ou não, primeiro porque havia feito recentemente um tingimento no cabelo e depois, principalmente por não contar com apoio das pessoas, conta: "eu sempre pedia opinião para a minha família, amigas e pessoas mais próximas, perguntava o que elas achavam do tipo de corte que eu queria e nem todos gostavam da ideia, então eu acabava ficando na dúvida, com medo do resultado não sair como esperado, de ficar muito esquisito e de não ficar a minha cara", relata.
Por muito tempo Ayana buscou inspiração em várias plataformas, de mulheres negras com cabelo curto e tom de pele parecido com o dela, e foi então que ela percebeu que aquele era o seu desejo real e a opinião que mais importava era a dela. "Quando cortei o meu cabelo e me olhei no espelho pela primeira vez, foi instantâneo, amei o resultado. Foi libertador perceber que não ficaria mais refém de salões e químicas e que não precisaria mais prender meu cabelo porque seria super fácil de arrumar. Mesmo não estando toda arrumada no meu dia a dia, eu me olhava no espelho e me achava maravilhosa, minha autoestima melhorou bastante depois do big chop. Acabou que no final todos que não apoiaram a ideia no começo, amaram o resultado e a verdade é que mulher preta com cabelo curto é a coisa mais maravilhosa que existe."
_relatos
_de quem está em transição
A Inaê está vivendo a transição capilar há um ano e conta que nunca fez nenhum tratamento para alisar de fato o cabelo, apenas aqueles que prometiam “abrir os fios”. “Eu comecei a fazer química bem nova, na verdade nem sei com quantos anos e já utilizei vários tipos de química", relembra, "quando eu tinha mais ou menos 15 anos, mudei a química com o objetivo de ter cachos mais definidos e menos volume, e era ela que eu fazia até ano passado."
Em 2019, Inaê fez um intercâmbio e, durante um ano, não fez a química que estava acostumada a fazer a cada três meses. Ela conta que viver esse momento longe de casa afetou sua autoestima, pois “eu tinha aquelas duas texturas no cabelo, vivendo em um país onde havia poucos produtos para cabelo crespos e cacheados, então os fios não estavam bem cuidados. Assim que voltei, já fui logo fazer a química de novo.” Mas, hoje ela se arrepende de ter feito esse processo novamente no início de 2020, pois logo depois veio a quarentena e ela foi “obrigada” a viver a transição.
minha irmã fez o big chop bem no começo da transição e ver o cabelo dela crescendo me deu força para viver meu cabelo natural.
“Eu falo que fui inicialmente obrigada a viver a transição, pois não podia fazer a química com os salões fechados", conta, "mas, quando tive chance para fazer depois, eu não quis e resolvi aproveitar que estou em casa para viver esse processo. Minha irmã fez o big chop bem no começo da transição e ver o cabelo dela crescendo me deu força para viver meu cabelo natural.” Inaê ainda assume que gosta do resultado do seu cabelo com química, mas não quer viver refém do processo.
Uma das maneiras que ela encontrou para lidar com a transição foi trançar os fios. "Fiz trança no início desse ano e amei, fiquei três meses com elas e agora estou sem para hidratar meu cabelo. Estou seguindo uma rotina de cronograma capilar para daqui alguns meses, fazer trança novamente e quando tirá-las, finalmente fazer o big chop", ela divide seus planos.
_de quem já finalizou a transição
A Clau conta que para ela o processo de transição capilar foi tranquilo e começou em 2015, assim que terminou o ensino médio. Foi só depois de se formar que ela teve coragem de iniciar a transição, pois antes não se sentia confortável. "Antes disso, estava em um ambiente de julgamento e eu não queria lidar com isso", relata, "depois de formada, como eu estava em casa e não trabalhava, ninguém iria me criticar." E mesmo estando em um ambiente seguro, ela ainda ouviu comentários de amigos e família, porém não deu importância, pois sabia que a transição era o melhor para ela.
Embora a sua autoestima nunca tenha sido baixa, Clau admite que o seu cabelo com química a deixava desanimada em alguns momentos, por isso ela decidiu deixá-lo natural. As duas texturas não a incomodaram porque ela passava a maior parte do tempo em casa e a solução que encontrou na época foi utilizar lenço - ela amarrava o cabelo nos dias que precisava sair. “Eu nunca tive problema de mudar de cabelo, então cortá-lo foi algo normal. Na verdade, eu estava muito ansiosa para ver o resultado, então estava sempre cortando”, divide.
Em 2016, nossa analista de performance já havia finalizado sua transição, sem nenhuma parte do cabelo lisa e com o cabelo bem curto, mais ou menos cinco dedos de comprimento. Assim que o cabelo começou a crescer ela começou a pintar e descolorir, algo que sempre quis fazer, mas não podia por causa da química. Porém, a tintura e a descoloração danificaram o seu cabelo, o que tornou o processo de crescimento mais lento. Hoje, após cinco anos com o cabelo natural, Clau ama o tamanho do seu cabelo e quer vê-lo crescendo cada vez mais.
“Viver a transição foi algo transformador, o meu cabelo me privou de muitas coisas e eu achava - com razão - que do jeito que ele estava, eu não teria oportunidades profissionais. Não que o cabelo natural afro não fosse um problema nessa questão, porque sim, o cabelo crespo é um problema para várias pessoas na hora de contratar um profissional, mas a aparência do cabelo que eu tinha antes, não era legal, não era um liso bonito. Então, apostar no meu cabelo natural era minha única opção. A transição me auxiliou a entender a minha real beleza, a beleza que eu tanto queria, e me ajudou a ser a pessoa que sou hoje.”
Já a Mayra viveu a transição há cinco anos. A designer e look stealer conta que, por volta dos sete anos, começou a fazer relaxamento e passou por diversas químicas ao longo dos anos, até que um dia sofreu um corte químico. “Fiquei com buracos na cabeça, mas mesmo assim continuei com os alisamentos", relembra, "dizia para todo mundo que não combinava com cabelo crespo."
foi a melhor decisão da minha vida, deu um mega up na minha autoestima! Cuidar do cabelo virou quase uma terapia.
Em 2016, com incentivo de pessoas próximas, May se sentiu pronta para assumir o seu cabelo natural. “Fui muito incentivada a assumir o cabelo natural, já que mesmo fazendo alisamento, vivia com o cabelo preso e me sentindo horrível”, divide. Foi a partir daí que ela decidiu mudar de vida, como ela mesma diz. “Comecei a faculdade e a transição, e mudei de emprego. Foi a melhor decisão da minha vida, cortei bem curto e fui tirando as pontas, deu um mega up na minha autoestima! Cuidar do cabelo virou quase uma terapia. Hoje, vejo as fotos alisada e parece que foi em outra vida”, relata.
Se você está passando pela transição capilar ou ficou animada a iniciar, o nosso conselho é tenha coragem. Não há nada mais satisfatório do que viver a sua beleza, livre de amarras e de uma maneira que você se sinta confortável, é claro.
Separamos alguns produtos que vão te ajudar durante a transição e até mesmo depois. A primeira festa que pudermos ir, estaremos lindas, cacheadas e com cabelos hidratados.