Desde que me conheço por gente, sempre tive ídolos. Aos 4 anos, gostava muito do Daniel Radcliffe, o ator de Harry Potter. Quando completei 11 anos, fui apresentada aos Jonas Brothers e vivi minha primeira experiência completa como fã: chorei pelo Joe Jonas, compareci ao primeiro show deles no Brasil, li e escrevi fanfics de teor duvidoso, participei de fã-clubes e defendi com unhas e dentes os três irmãos.
Com quase 15 anos, veio a segunda das minhas histerias pessoais: One Direction. E se meus pais acreditavam que eu já era completamente descompassada pelos Jonas, mal sabiam eles o que viria a seguir. Fiz minha mãe dormir comigo na fila do show deles aqui no Brasil. Ficamos quase 24 horas lá, no Dia das Mães, na garoa de São Paulo (obrigada, mãe!). Jurei de pé junto que casaria com Harry Styles — ainda há tempo, amigas! — e tive uma conta no Facebook que administrava com mais três pessoas, levando como um trabalho muito sério e árduo.
Junto disso tudo, cresci palmeirense — calma, estamos chegando ao x da questão. Meu pai, Fernando, apaixonado pelo clube desde praticamente o momento em que nasceu, nunca forçou que eu torcesse para o time, mas cresci vendo as frustrações, ouvindo alguns xingos aqui e ali em dias de clássico e vivendo essa paixão de perto. Era de se esperar que eu me apaixonasse pelo alviverde imponente também, certo?
E se meu pai pode berrar por um time de futebol, eu também posso pelos meus ídolos, não é? Bom, não é bem assim que a banda toca para a grande maioria das pessoas, e aí eu te pergunto: quem tem o direito de ser fã?
Homens, calma, respirem fundo. Isso não é um ataque à paixão de vocês pelos grandes times do Brasil e do mundo afora. Eu também sou uma alucinada por esportes. Também grito com a televisão, às vezes tenho vontade de virar uma mesa e já chorei de soluçar na final da Libertadores de 2020 — a primeira vez que vi o Palmeiras ser campeão.
Meu pai, acostumado com a minha intensidade e com as emoções de quem já viveu isso de perto em 1999, entendeu a situação, deu risada e vibrou junto comigo. Mas é porque estávamos celebrando algo que é considerado comum e validado pela sociedade: o futebol.
Afinal, o que, pertencente majoritariamente ao universo masculino, não é validado desde os tempos dos gladiadores na Roma Antiga, por exemplo? A idolatria feminina sempre foi vista como nada além de histeria, hormônios descontrolados e coisas de adolescentes. E, depois dos 20 anos, passa a ser taxada como algo vergonhoso. Já a idolatria masculina é frequentemente interpretada como sinônimo de paixão e lealdade. Basta observar os hinos dos clubes de futebol ou os cantos das torcidas organizadas para entender o que quero dizer.
Respondendo à minha própria pergunta: qualquer um tem o direito de ser fã, é claro. Eu aprendi a lidar com as piadinhas meia-boca e comentários engraçadinhos disfarçados de julgamento e, te garanto, quanto mais perto dos 30, mais fácil fica essa missão. Porém, quem tem o direito de deixar esse sentimento se exacerbar em público sem ser julgado pelos rostinhos alheios?
Veja bem, o emocional das mulheres é frequentemente usado como justificativa para desqualificar suas paixões. Quando uma mulher chora ao ver seu ídolo, ela é taxada de "dramática" ou "irracional". Quando um homem chora ao ver seu time perder, ele é exaltado por "viver o momento". De novo, homens, fiquem calmos, isso não é um ataque pessoal a vocês, é uma reflexão pessoal e uma análise de comportamento que eu vivo na pele desde a infância.
E ao ser taxada como "maluca" por amar alguma coisa ou alguém, pense em quantas meninas internalizam essas mensagens, duvidando da legitimidade de seus próprios interesses e sentindo vergonha de demonstrar suas paixões. Por sorte, isso nunca foi o meu caso. Sempre respondi à altura a todos aqueles que tentaram, em algum momento, me fazer sentir menos pelas minhas paixões.
Mas existe um lugar onde o espaço é mais saudável: entre a sua própria comunidade de fãs e nos abraços de outras amigas que entendem o sentimento. Fãs em shows ou estádios experimentam essa sensação de comunidade, onde as diferenças individuais desaparecem em favor de uma conexão em comum. Por sorte, graças a turnês como a Love On Tour, do cantor Harry Styles, a The Eras Tour, da Taylor Swift, e até a última turnê do cantor Jão, aqui no Brasil, essa experiência tem ganhado cada vez mais força e reconhecimento.
Basta buscar por vídeos no TikTok ou no Instagram que reúnem compilações de frames mostrando a união de um espaço seguro para mulheres. Um espaço onde você pode trocar pulseiras, abraçar sua amiga ao som da sua música favorita que sempre desejou ouvir ao vivo, dançar aquela coreografia engraçada na pista, usar fantasias e se conectar com tantas outras pessoas que, assim como você, entendem muito bem o que é ser fã de alguém.
E vamos mais além: em convenções de quadrinhos, encontros de cosplay, reuniões no cinema para lançamentos ou discussões de sagas de livros em rodas de leitura. Tudo isso é válido. Todos esses ambientes possuem uma energia de pertencimento legitimado que, muitas vezes, não encontramos em casa, na escola, no trabalho, e por aí vai. A paixão coletiva não deve ser vista como um sinal de irracionalidade, mas como um reflexo de quem somos enquanto pessoas. Faz parte da nossa natureza social.
Meninas, mulheres, continuem ocupando e abraçando esse sentimento, se ele faz parte de vocês. Seja com o seu ídolo de k-pop, com o seu time de futebol ou até mesmo com a sua equipe de Fórmula 1, siga demonstrando o que você gosta, independentemente de como os outros te vejam. O sentimento é seu, e ser fã é, simplesmente, um ato de amor que não precisa de explicação ou validação.