Seria o destino uma conexão com a nossa fé em algo maior? Com a lei do Karma? Com a ideia de In-Yun ou qualquer outra filosofia que tente decifrar o mistério do inexplicável? Ou talvez seja apenas a soma das nossas escolhas diárias, temperada com uma pitada de acaso?
“O que tiver que ser, será.” Uma frase tão cheia de significado quanto de incerteza. Para mentes ansiosas, a pergunta inevitável é: “Mas será quando?”. Quantas histórias já ouvimos sobre encontros improváveis, reencontros após anos ou situações que parecem alinhadas por forças invisíveis? Pessoas que pareciam destinadas a algo, enquanto outras escapavam por um fio. “Era para ser” — uma expressão que nos oferece consolo, tentando dar sentido à imprevisibilidade da vida.
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Independente de qualquer crença ou religião, o simples fato de estar vivo já é, por si só, um convite à fé. Afinal, não podemos garantir quase nada sobre o nosso futuro; não há um contrato prévio que nos assegure quantos dias ainda temos no "banco de horas" da vida. E, mesmo assim, seguimos carregando uma poderosa certeza: a de que a vida continuará, dia após dia.
É justamente essa incerteza que nos impulsiona a buscar um propósito, a encontrar sentido em nossa existência. Tentamos decifrar os sinais, interpretar as coincidências e compreender os encontros que escapam ao nosso controle. Seria o destino uma força invisível nos guiando para onde precisamos estar? Ou será que, na incessante busca por respostas, somos nós que atribuímos significado ao que, no fundo, é apenas o curso natural das coisas?
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Ainda assim, o mistério segue acontecendo diariamente, basta atentarmos o olhar. Já falei muitas vezes sobre como eu amei ter lido A Biblioteca da Meia-Noite, justamente por me fazer refletir como nunca saberemos como teria sido se tivéssemos feito escolhas diferentes. Cada decisão abre uma porta, seguida por outra, e assim por diante. Não há como ter certeza de que estamos escolhendo a melhor porta, por isso a importância de ter presença e atenção ao escolhê-las — isso já é o bastante para nos reconfortar.
Algumas pessoas acreditam que tudo tem um propósito, que cada experiência, boa ou ruim, nos leva a algo maior. Outras enxergam a vida como uma série de escolhas aleatórias, onde o acaso e a sorte se misturam, resultando em algo a ser vivido. Seja qual for a visão, uma coisa é certa: a vida é essa mescla entre o previsível e o inesperado, o planejado e o improviso, o predestinado e o mistério.
Por isso, em vez de ficarmos presos na espera do que “deveria ser”, talvez a maior sabedoria esteja em aceitar o que é. Abraçar o presente com toda a sua incerteza e perceber que estamos diariamente co-criando nosso próprio destino. Faça escolhas que te aproximem do futuro que você sonha, mas também segure na mão de algo que te traga essa fé de que “o melhor está por vir”.
Afinal, mesmo sem respostas definitivas, nós somos aquilo que escolhemos interpretar. Como você escolhe enxergar seu próprio destino?
"O destino de tudo é seguir sem saber
Se o caminho nos leva ou nos deixa perder.
Mas, mesmo sem rumo ou certeza de chegar,
Somos feitos de sonhos e do eterno tentar."
- Fernando Pessoa.
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