Se antes o sono era sinônimo de descanso, hoje ele virou um evento estético. No TikTok, cresce o número de vídeos com meninas mostrando suas rotinas noturnas meticulosamente montadas: toucas de cetim, fitas modeladoras, compressas, adesivos anti-rugas, máscaras de LED. Dormir virou um ritual de beleza, e um ritual nada barato.
E não para por aí, há um crescimento astronômico de facelifts em pessoas cada vez mais jovens, o culto à juventude surge de uma forma quase doentia, porque envelhecer virou descaso e meninas cada vez mais novas lutam contra o inevitável passar do tempo.

Foi nesse cenário que a Skims, marca de Kim Kardashian — conhecida por transformar shapewear em desejo fashion — lançou um produto que promete ser o novo must-have de beleza: um facewear que modela o rosto durante o uso de cremes e máscaras.
A cinta facial da Skims se encaixa exatamente no momento cultural atual: é funcional, é bonita o suficiente para aparecer no story, e entrega o que as redes querem ver: uma beleza que nunca desliga, nem para descansar.
Mas por que isso virou tendência agora? E, mais importante, será que funciona?

Nos últimos anos, a beleza deixou de ser apenas sobre resultado, e passou a ser sobre o processo. Máscaras, rolinhos de jade, gua sha, ferramentas de LED e crioterapia se tornaram quase tão essenciais quanto o próprio protetor solar. A cinta da Skims entra exatamente nesse lugar: mais do que cuidar da pele, ela comunica algo sobre quem você é.
E, claro, nada disso acontece isoladamente. O aumento dos procedimentos estéticos, a busca por contornos definidos, a obsessão com a “cara de filtro”. Tudo isso cria uma atmosfera onde produtos como o facewear da Skims não só fazem sentido, como se tornam um sucesso de vendas.

mas afinal: funciona como skincare?
A promessa do produto é simples: ajudar a potencializar o efeito dos ativos faciais, firmar a pele e criar uma espécie de “efeito lifting” temporário. Segundo dermatologistas, o uso desse tipo de acessório pode, sim, contribuir para uma melhor absorção de cremes e compressão leve da pele, mas os resultados são bem discretos e temporários.
A verdade é que estamos vivendo um momento em que beleza e moda estão cada vez mais misturadas. A cinta facial da Skims foi pensada para ser mostrada, performada, compartilhada, é um acessório que faz parte desse lifestyle aspiracional. Alguém realmente acredita que uma fita de 48 doláres é capaz de remodelar o rosto?
Se por um lado essa tendência traduz o desejo por mais cuidado e ritual, por outro ela também escancara a pressão estética que paira sobre os rostos femininos, especialmente quando vemos essas tecnologias surgindo da mente de uma Kardashian.

Isso quer dizer que devemos abandonar o skincare e parar de nos cuidar? Jamais. O problema não está no uso da cinta ou do gua sha. O problema surge quando o autocuidado vira obrigação, punição ou comparação.
Como uma mulher nos seus 30 anos, que já testou muitos gadgets, já gastou dinheiro com promessas embaladas em rosa pastel e que se viu mais de uma vez nesse lugar de insegurança, eu entendo o apelo. É gostoso sentir que estamos cuidando de nós. É tentador acreditar que existe uma ferramenta, um acessório, um ritual que vai finalmente nos dar o rosto perfeito, o contorno ideal que não precisa de nenhum retoque em aplicativo.

A cinta da Skims é o reflexo perfeito de um tempo que mistura beleza com performance, cuidado com controle, estética com ansiedade. Podemos usar, testar, gostar. Mas que isso venha de um lugar de gentileza, e não de vigilância.
Se você ama um bom skincare ritualístico, é provável que esse produto te seduz — não vou negar que fiquei com vontade de testar também. Mas vale lembrar: nenhuma cinta substitui descanso, alimentação, proteção solar e, principalmente, uma relação gentil com nosso próprio rosto.
