Luiza Brasil compartilha suas experiências no jornalismo de moda

por Karen Merilyn

O jornalismo de moda tem um papel fundamental dentro da indústria. É através dele que acontece a comunicação do que é importante na área e, consequentemente, a difusão da informação que torna a moda popular em diversas instâncias. E seguir essa carreira é, mais do que tudo, estar sempre atualizado, se adaptar às mudanças do mercado e entender seu papel enquanto profissional, construindo sua credibilidade, que é um pilar fundamental quando falamos de jornalismo. 

E para falar um pouco mais sobre essa carreira, conversamos com Luiza Brasil, que não só é referência na área, como também uma inspiração para muitos jovens que querem ser jornalistas de moda. Luiza é multifacetada e já trabalhou com um pouco de tudo na área de comunicação de moda. Ela é idealizadora da plataforma de conteúdo Mequetrefismos, CEO do MequeLab, colunista da Vogue, autora do livro “Caixa Preta”, além de comandar o podcast “Me Sinto Pronta”. 

Para entender como começar, se destacar e estar sempre inovando no jornalismo de moda, confira tudo que ela compartilhou com a gente neste bate-papo super enriquecedor:

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Foto: Luiza Brasil (Reprodução/Instagram)


STL: Primeiro, me conta um pouco da sua jornada até o jornalismo de moda? Como você chegou nesse caminho?

L.B.: A minha jornada com o jornalismo de moda começa como um instinto de sobrevivência quase. Eu entrei na faculdade em 2006, na PUC, e nesse período existia uma conversa sobre a queda do diploma do jornalismo. Então, eu comecei a entender que isso era uma coisa ruim, mas ao mesmo tempo poderiam ter novas oportunidades dentro do mercado. E concomitantemente a isso, também existia uma oportunidade e uma abertura maior do digital. O digital começava a ter visibilidade para o mercado de moda, seja para os portais, para as redes sociais, comunicadores de moda começaram a nascer naquele momento e comunicadores mais tradicionais também estavam migrando para o digital, então a minha escolha pelo jornalismo é porque eu realmente sou apaixonada pelo pensamento, pela pesquisa e também pela escrita. 

O que você considera que foi o ponto-chave para você alavancar sua carreira?

L.B.: O que eu considero que foi fundamental e um ponto-chave para alavancar minha carreira foi a proatividade, também conhecida como a cara de pau. Eu não tinha familiares ou amigos, no momento que eu entrei no mercado, que poderiam me beneficiar dentro desse mercado, que poderiam me indicar, eu não tinha panelinha, não conhecia ninguém. E a partir do meu desejo de querer estar nesse espaço eu comecei a investigar, fuçar, pesquisar quem eram os nomes, ir a eventos e a palestras em torno do tema. E nisso eu começava a conversar com as pessoas. E aí contando até um pouquinho de uma coisa que aconteceu, que eu chamo a Glória Maria de minha madrinha telepática de carreira, porque eu estava assistindo uma palestra da Glória Maria quando eu fui abordada por um site de street style, que fazia para revista Ela, do O Globo. E aí eu falei “Gente, eu quero muito trabalhar com moda. Fica com o meu contato. Se vocês tiverem qualquer oportunidade para assistência, para auxiliar, me chama que eu vou amar.” E aí 15 dias depois eles me chamaram. Aí eu comecei a trabalhar como coolhunter para uma agência que pesquisava tendências para marcas como Farm, Maria Filó, fazia conteúdo de moda de rua pro GNT, às vezes colaborativo com o caderno Ela, do O Globo. E aí nisso eu comecei a expandir uma agenda também de contatos e de pessoas.

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Foto: Luiza Brasil (Reprodução/Instagram)

Como se tornar um jornalista de moda? Qual formação você considera essencial para quem quer seguir esse caminho?

L.B.: Acredito que para se tornar jornalista de moda, além da competência técnica de ter uma boa escrita, dominar linguagens — que não são só textuais, mas das redes sociais, comunicação vigente no digital — tudo isso é muito importante para quem é jornalista, para quem trabalha com conteúdo. Acredito que a formação em jornalismo te ajuda a criar estratégias técnicas para você fazer um bom texto, você hierarquizar informações, mas não acho que seja de fato definitivo e decisivo para você ingressar na carreira. Eu acredito que pessoas que escrevem bem, pessoas que roteirizam bem, pessoas que são boas comunicadoras natas também conseguem ingressar nesse mercado, mas eu realmente acredito muito que quanto mais formação você tiver, mais informação com credibilidade você transmite.

A imagem do jornalista de moda ainda está muito atrelada à de alguém que trabalha na redação de um veículo impresso. Quais as outras possibilidades que esse profissional tem dentro do mercado de trabalho?

L.B.: Olha, eu posso dizer que eu mesma sou filha de grandes oportunidades no mercado de moda e não necessariamente elas estavam na redação, tá? Eu sou uma pessoa do 360, posso dizer. Eu trabalhei tanto com varejo, enquanto redatora e coordenadora de conteúdo, passando por agências, sendo head de comunicação. Eu trabalhei também com a parte de tecnologia em e-commerce, inclusive, fazendo textos para estratégia de venda de e-commerce. Enfim, eu acho que existem uma série de possibilidades hoje em dia enquanto jornalista de moda. Eu acho que é cada vez mais plural o que a gente pode fazer e executar com essa formação. Basta a gente expandir nossos horizontes e a mente. 

Sobre o mercado, eu vejo muitas possibilidades. Para quem, principalmente, se voltar agora nesse momento para a área de marketing digital, estratégia digital. Quem tem esse olhar que são palavras, mas também entender sobre números. Eu acho fundamental nos dias de hoje e é um profissional de ouro quem lida com estratégia digital.

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Foto: Luiza Brasil (Reprodução/Instagram)

O que você acha que é necessário para se destacar no mercado?

L.B.: Leitura de cenário. Eu sempre gosto muito de falar sobre essa leitura de cenário. Pessoas que tenham resiliência, pessoas que consigam analisar o que elas estão vivendo, o momento, o contexto, que recalculam rotas, que têm sensibilidade para fazer manobras. Eu acredito muito que esse profissional tem esse poder de destaque, porque hoje em dia em um mundo como o que a gente vive, totalmente imediatista, as necessidades mudam a todo momento, você precisa estar atenta a isso e também flexível a se adequar ao que o mercado está exigindo naquele momento, o que da sua profissão você pode extrair e dar o seu melhor. Então, para mim, leitura de cenário é fundamental para bons profissionais não só do mercado de jornalismo de moda, como a moda como um todo e da comunicação também.

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Foto: Luiza Brasil (Reprodução/Instagram)

É possível se manter informado para ser um profissional melhor, mas sem se sentir exausto com tanta informação nesse ritmo que a internet tem? 

L.B.: Eu acho super possível se manter informado, isso é a cerne da profissão, sem ser exaustivo. A primeira coisa é você acreditar na credibilidade dos veículos que mais te atraem, eu acho que um ponto importante. Um outro é você escolher veículos que também não fazem necessariamente sobre moda, mas que abranjam contextos gerais em torno de política, em torno de economia, em torno de pautas ambientais, porque tudo isso rege e a moda vira consequência de todos esses contextos.

Como desenvolver um senso crítico que é tão necessário para essa carreira?

L.B.: A melhor forma de desenvolver senso crítico é estudando, lendo, se aprofundando. Só assim a gente consegue tecer construções para além dos releases. É a forma que eu mais acredito de comunicar, quando a gente imprime o nosso lugar pessoal, nosso olhar, nossas perspectivas e nossas vivências dentro de uma opinião, dentro de um de uma construção textual ou qualquer outro tipo de comunicação.

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Foto: Luiza Brasil (Reprodução/Instagram)

Qual conselho você daria para a Luiza do começo da carreira que vale para quem está pensando em seguir um caminho dentro do jornalismo de moda?

L.B.: Um conselho é não ter medo de arriscar. E nesse lance de assumir o risco nem tudo sai perfeito, nem tudo sai exatamente do jeito que a gente quer. Mas eu acredito muito que nesse mercado o ineditismo, o pioneirismo, quem chega na frente ainda ganha um lugar de destaque, uma reputação que se diferencia. E depois que eu tive maturidade para entender isso e comecei a colocar meus planos, meus projetos na rua, sem esse perfeccionismo que me trava, eu me tornei muito mais feliz, me tornei muito mais reconhecida pelo mercado também.

Para quem quer se tornar um jornalista de moda com formação tradicional, há muitas faculdades públicas e privadas que oferecem o curso de jornalismo. Entre elas, a UFRJ, USP, Estácio e PUC. A partir daí, é possível fazer cursos livres ou especializações em moda, que vão direcionar para a área. A EnModa, a Cásper e I AM: inteligência de moda são algumas das instituições que disponibilizam essa formação. 

Esse é mais um dos nossos conteúdos sobre carreira de moda. Quinzenalmente, entrevistamos profissionais de diversas áreas, que compartilham sua história, seu ponto de vista sobre a profissão, além de dicas para quem quer seguir carreira na indústria. 

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