O que é o Dry January e porque dar um tempo no álcool é uma boa ideia

por Karen Merilyn

Com um novo ano, vem sempre a vontade de ir em busca da nossa melhor versão e isso envolve autocuidado como um todo. Fazer atividades físicas, não pular o skincare, cuidar da saúde (física e mental), cultivar costumes que fazem bem são apenas algumas maneiras de se cuidar. Entre esses novos hábitos, um parece ter ganhado força nos últimos anos: parar de tomar bebidas alcoólicas, seja permanentemente ou por um tempo. E um movimento que já existia, mas está em alta esse ano é o Dry January, que significa, em sentido literal, “Janeiro seco”. 

Se você não conhece, o Dry January é uma campanha que consiste em ficar sem beber durante todo o mês de Janeiro. Lançada em 2013 pela Alcohol Change UK — uma organização britânica focada na redução de danos causados pelo álcool —, o objetivo é reduzir o consumo de álcool, dar uma pausa na bebedeira e melhorar o funcionamento do corpo, começando o ano de forma mais saudável. 

@oliviaphillipps - drink - dry january - álcool - wellness - https://stealthelook.com.br
Foto: @oliviaphillipps (Reprodução/Instagram)


A ideia da iniciativa surgiu em 2011, após Emily Robinson se inscrever em uma meia maratona que aconteceria em Fevereiro e decidir parar de beber durante o mês de Janeiro para se preparar. Com a decisão, ela percebeu que seu sono melhorou, sua energia para correr aumentou e ela até perdeu peso. Em 2012, ela começou a trabalhar na Alcohol Change UK e decidiu lançar a campanha oficialmente, que estreou no ano seguinte. 

A iniciativa gerou bastante repercussão e se expandiu ao longo dos anos. Em 2023, quando completou uma década de existência, contou com a participação oficial de 175 mil pessoas, que se inscreveram no site da organização se comprometendo a adotar o Dry January

Atualmente, a discussão sobre parar de consumir bebidas alcoólicas aumentou ainda mais. Só no TikTok, a procura por Dry January soma mais de 445 milhões de visualizações. Os vídeos falam sobre os benefícios de adotar a campanha, dicas para tentar parar de beber por um mês, relatos de pessoas que acabaram parando de beber de vez e até médicos explicando o que acontece no organismo quando paramos de ingerir álcool. 

Outro fator que mostra o crescimento não só da iniciativa, mas também da busca por uma vida sem bebidas alcoólicas são os dados da Yelp — um app voltado para avaliação de estabelecimentos comerciais — que mostram que a busca por mocktails (drinks sem álcool) cresceu mais de 95% em Janeiro do ano passado comparado a 2022. 

@corrinamontejano

who’s with me?🥹 let’s make 2024 OURS!!! tips to help you tackle dry January and our sober curious era…this is something to be proud of, celebrated and lets do it together✨✨ #sober #dryjanuary #sobercurious #healthyhacks #fyp

♬ original sound - Corrina | HIIT & Home Workouts

O consumo de mocktails é, inclusive, uma das dicas mais comuns de quem parou de beber. Em um vídeo do TikTok, Corrina Montejano compartilhou algumas dicas para quem quer ficar sóbrio e contou que tomar vinhos e drinks sem álcool a ajudou a não sentir falta das bebidas alcoólicas. Além disso, ela viu vantagem em poder tomá-los em qualquer hora do dia sem problemas. 

Leia também: 3 receitas fáceis de drink sem álcool

Matilda Djerf - drink - dry january - álcool - wellness - https://stealthelook.com.br
Foto: Matilda Djerf (Reprodução/Instagram)

Apesar da campanha acontecer em Janeiro, muito por conta do excesso de álcool comum nas festas de fim de ano e pelo sentimento de renovação, você não precisa necessariamente adotar essa iniciativa só neste mês. O objetivo maior é dar um tempo e entender como o corpo se comporta sem as bebidas alcóolicas, aprender a se divertir sem precisar de um shot e, é claro, ficar atenta aos sinais de um possível vício. Afinal, o álcool não faz nada bem para o organismo. 

“Nos primeiros minutos após ingerir a bebida alcoólica, o álcool já passou pelo estômago e encontrou a corrente sanguínea. A partir daí, ele é visto pelo nosso corpo como um invasor e o objetivo é eliminá-lo o mais rápido possível. O fígado trabalha para quebrar as moléculas do álcool em partes não tóxicas, para que consigamos colocar pra fora do corpo. O álcool também confunde um pouco o nosso corpo, que identifica apenas líquido entrando, e aumenta a diurese (suas idas ao banheiro para fazer xixi), mas como não é água, você acaba se desidratando. A bebida alcoólica também pode irritar o estômago e influenciar sua digestão e funcionamento intestinal, principalmente no dia seguinte”, explica a nutricionista Milena Hernandes.  

Leia também: Deu ruim, e agora? O que fazer para curar a ressaca

Hanna Lhoumeau - drink - dry january - álcool - wellness - https://stealthelook.com.br
Foto: Hanna Lhoumeau (Reprodução/Instagram)

Além disso, como já falamos por aqui, o álcool pode aumentar a ansiedade. Sabe aquela sensação ruim depois de uma noite de bebedeira, que inclui até coração disparado, falta de ar e pensamentos esquisitos? É a bebida, já que o álcool afeta o cérebro de várias maneiras. Portanto, diminuir o consumo é também cuidar da saúde mental. 

“O álcool deprime o sistema nervoso central, ou seja, diminui a atividade do nosso cérebro, se mostrando um risco para o desenvolvimento de transtornos mentais”, Milena esclarece. 

Há inúmeros benefícios de dar um tempo na bebida: você faz um detox no corpo, economiza dinheiro, foca em outras atividades mais saudáveis, se livra da ressaca e até passa a ver a vida de outra forma. 

“Após a primeira semana sem beber, você perceberá que de repente tem muito mais tempo disponível no final de semana - provavelmente porque não foi dormir tão tarde e não acordou de ressaca ao meio-dia. Isso te dá a oportunidade de aproveitar mais seus dias de descanso e com maior qualidade. Outro ponto a ser destacado é que você economiza bastante dinheiro, e poderá guardar ou investir em si mesma em outras situações. Enquanto você experiencia efeitos externos, por dentro, seu corpo estará livre para desempenhar todas as suas funções, sem interrupção - porque quando o álcool entra, o corpo para o que está fazendo (inclusive a formação de músculos e a eliminação de gordura) e foca apenas em eliminá-lo do organismo. Seu fígado e rins, que são responsáveis pelo detox do nosso corpo, também agradecerão por você parar de sobrecarregá-los. Com o tempo, seu sistema neurológico também vai deixar de ter oscilações causadas pelo álcool e você pode inclusive ficar mais feliz, mais disposta e com o humor mais estável”, disse a nutricionista. 

Lyric Mariah - drink - dry january - álcool - wellness - https://stealthelook.com.br
Foto: Lyric Mariah (Reprodução/Instagram)

Adotando ou não o Dry January (ou qualquer período sem álcool), a verdade é que como a OMS já esclareceu, não existe nível de consumo de álcool que seja seguro para a saúde. No entanto, o que pode ser feito é diminuir a bebida, sempre procurando formas de reduzir os danos do álcool. 

“O jeito mais seguro seria escolher pela bebida alcoólica que você consome em menor quantidade, buscar por opções com menor teor de álcool, intercalar a bebida alcoólica com uma versão zero álcool e sempre garantir alimentação e hidratação adequadas, principalmente no dia em que vai beber e no dia seguinte”, explica Milena. 

E se você está pensando em dar um tempo na bebida, a nutricionista tem algumas dicas que podem ajudar: “Se prepare psicologicamente e frequente ambientes onde esteja confortável e onde ninguém vai questionar sua decisão. É muito normal vermos pessoas que interromperam o consumo de álcool indo a eventos sociais e sendo bombardeados de questionamentos. Além disso, se for difícil parar de uma vez só, você pode fazer uma transição para as versões sem álcool das bebidas ou até passar a consumir drinks sem álcool quando sai (isso reduz a incidência de comentários negativos). Se cerque de pessoas que respeitam sua escolha e que te apoiam, e veja relatos de pessoas que já passaram por isso nas redes, para internalizar a ideia de que você não está sozinha”. 

Para finalizar, vale lembrar que o objetivo aqui não é impor a eliminação das bebidas alcoólicas, mas sim conscientizar sobre seus riscos e apresentar uma alternativa menos prejudicial à saúde. 

Você também vai gostar