Por que deletar o Instagram me fez tão bem?

por Sofia Stipkovic

Que sentimento horrível de não se sentir capaz, eu sinto enquanto escrevo este texto. Mesmo sabendo do meu valor, da minha capacidade e da minha potência, eu não consigo evitar de sentir isso. Existe uma eterna necessidade à minha volta de comparação. Aquele ditado da grama do vizinho ser sempre mais verde, sabe? 

Boa parte da minha vida, assim como a da maioria das mulheres, eu acredito, foi assim. Eu sou inteligente, mas talvez não tão inteligente quanto ela; eu sou bonita, mas não tão bonita quanto ela; eu sou bem-sucedida, mas não tão bem-sucedida quanto ela. Da vida pessoal ao trabalho. Tudo sempre medido, comparado, analisado, pensado, julgado. Eu preciso ser a melhor, a primeira, a que resolve, a que inspira. 

Eu não quero mais ser essa pessoa.

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Foto: Nicole (Reprodução/Pinterest)


Há alguns anos, eu dei fim a uma das principais coisas que me fazia sentir assim e, de certa forma, me matava aos poucos nesse sentido, o Instagram. Deletei minha conta. Triste pelas amizades que perdi porque não me viam mais na rede social, mas feliz pela liberdade que comecei a sentir. De repente eu não me achava mais tão desinteressante como antes, simplesmente porque eu não "precisava" mais postar conteúdo no meu perfil ou stories sobre o meu dia, o que gerava uma comparação danada com as outras pessoas.

Eu sumi. Virei low profile, como a gente brinca nas reuniões de trabalho. 

Para além do peso tirado das minhas costas de não precisar calcular e registrar meticulosamente a minha vida para mostrá-la para um punhado de @'s, eu me vi livre do mal-estar que sentia ao ver alguns perfis no aplicativo. Geralmente pessoas com quem eu havia cruzado em algum momento, mas não significavam mais nada para mim ou pior, traziam memórias ruins e uma energia péssima. Gente que você segue "por educação" sabendo que ela faz o mesmo, só que para ter material sobre a sua vida e levar para a mesa do bar. Nunca em tom elogioso, claro. 

Deus me livre disso! Afinal, se você percebeu no início do texto, de me questionar, me analisar e, eventualmente, evocar sentimentos ruins sobre mim, eu me basto. Não preciso da ajuda de um qualquer! Vá viver a sua vida e lidar com as suas paranoias, me deixe com as minhas.

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Foto: Be art (Reprodução/Pinterest)

Mas não foi só isso que me fez deletar o Instagram. Eu virei mãe e com isso, descobri que não quero expor a minha filha a situações, pessoas e hábitos que me fizeram tão mal. Uma amiga me perguntou se eu havia lido algum livro sobre sharenting e eu nunca havia escutado o termo antes dela me falar sobre. Porque tem isso, eu não quero postar fotos da minha filha nas redes. Mas isso é um papo para outro texto, eu prometo.

Com a maternidade, também me dei conta de que eu não tenho mais tempo. É loucura pensar que uma mãe sem rede de apoio próxima, além do parceiro (que ajuda muito, eu preciso dizer), que trabalha full time e não tem o privilégio de contratar alguém para os afazeres domésticos teria minutos de sobra para pensar no feed. Às vezes é difícil até de pensar no jantar, quiçá em quantos likes!

Não me entenda mal, tenho certeza que em algum lugar do mundo, essa mulher que dá conta de tudo existe. Existe porque para nós, mulheres, o impossível é possível. Mas essa não sou eu.

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Foto: Caroline Ricke (Reprodução/Pinterest)

Eu me sinto cansada, exausta, esgotada emocionalmente e fisicamente quase todos os dias. Frustrada porque não me dôo o quanto eu gostaria para o trabalho (e me questiono muitas vezes se eu ainda sei fazer o que eu sei fazer), péssima porque eu não dou total atenção à minha filha ou aos meus cachorros, que também são meus filhos. Não vamos nem colocar na balança aqui o quanto eu me negligencio e "levo como dá" os meus relacionamentos, não só com o meu parceiro, como com a família e os amigos - que amigos? Será que eu esqueci de responder alguém no Whatsapp? Acho que sim.

"Que barra, tadinha!", como diria Luana Piovani em um dos seus muitos momentos de sincericídio. Eu sei que os meus dilemas não são nada perto do de outras pessoas, mas isso não é uma competição, ou é? Se for, eu não quero participar.

Atolada até o pescoço na areia movediça da cobrança e da estafa, eu ainda faço piada. Dá pra acreditar que idiota? Se pesquisar no Google, dá para encontrar rapidinho algum estudo que diz como algumas pessoas usam do humor autodepreciativo para mascarar a dor que sentem. 

Este texto não tem começo, meio e fim que façam sentido, e é claro que o Instagram não é o único "vilão" da minha história. Me desculpa se você chegou até aqui na esperança de pescar uma dica ou um pote de ouro no final do arco-íris, porque não tem. É uma carta aberta de uma mulher atropelada pela velocidade das coisas, atravessada pela responsabilidade da vida, capotada por conta de tanta expectativa. 

Ah! A título de curiosidade, eu voltei para o Instagram. Mas não se anima e pode baixar essa pedra que você estava prontinha para jogar em mim. Eu voltei só porque preciso dele para trabalhar, mas adivinha só? Que sentimento horrível de não se sentir capaz, eu sinto enquanto escrevo o final desse texto.

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