Na última consulta que tive com a minha psicóloga, fui bombardeada com uma pergunta que ecoou na minha mente por dias: “por que você odeia o seu corpo?”.
Vamos começar com um histórico: eu nunca fui uma mulher gorda, nem na infância, nem na adolescência, nem na vida adulta. É claro que já passei por fases maiores ou menores - como toda mulher, e é absolutamente normal -, mas eu sempre tive problemas com a minha imagem.
Não lembro de um momento sequer onde não estava insatisfeita com a minha aparência ou não fazendo alguma dieta radical. Tenho um histórico de distúrbios alimentares desde muito nova, e minha relação com a comida sempre foi péssima, cheia de culpa e compensações.
É claro que existem milhares de influências na forma como nos vemos, desde os veículos de comunicação criando padrões de beleza inalcançáveis, até relacionamentos pessoais. No meu caso, foram os dois. Eu tenho 25 anos de idade, e faz 25 anos que vejo todas as mulheres da minha família se depreciando ao se olharem no espelho.
Eu cresci ouvindo as pessoas falarem como sou a cara da minha mãe, e ver ela odiando a própria aparência, me fez odiar a minha.
eu tenho 25 anos de idade, e faz 25 anos que vejo todas as mulheres da minha família se depreciando ao se olharem no espelho.
O que e o quanto eu comia sempre foi controlado indiretamente por comentários. A preocupação nunca foi minha saúde e sim o meu peso, como se meu corpo, minha aparência e minha magreza fossem as únicas coisas relevantes sobre mim.
Desde os meus 6 anos eu tenho lembranças claras de viver com distúrbios alimentares. Ia passar férias na casa da minha avó e ficava subindo e descendo a escada, correndo até perder o fôlego depois de comer um doce, ou pressionando minha barriga contra a parede a fim de espremê-la.
É claro que na adolescência tudo se agravou. O acesso à internet me deu um mundo de possibilidades e dicas “infalíveis” de como emagrecer rápido, como não sentir fome, como afinar as pernas, e por aí vai.
Hoje, uma década depois, ainda falo disso na terapia, e ainda consigo ver os resquícios desse passado. Amar o meu corpo requer um trabalho e um esforço diário, ainda mais nessa Era de Ozempic e obsessão com a magreza que estamos vivendo.
Todos os dias tenho que me policiar, não fazer comentários negativos sobre mim, manter uma vida saudável e me elogiar sempre, além de ter um acompanhamento psicológico constante. Eu escolho me amar e me respeitar, porque quero que minha filha tenha essa referência dentro de casa, não quero que ela cresça vendo a mulher mais importante da vida dela se colocando pra baixo diariamente, como foi comigo.
Mas essa é só a minha história. E você, odeia o seu corpo? Por quê?
