Saiba tudo sobre a carreira de professor de moda

por Karen Merilyn

Em todas as profissões dentro da indústria da moda, uma é o pontapé inicial: o professor de moda. É ele que vai formar profissionais de várias áreas dentro desse nicho tão diversificado. Mas, afinal, como é ser um professor? Como seguir carreira acadêmica na área da moda e ensinar outras pessoas conhecimentos essenciais da profissão? É para responder essas e outras perguntas que conversamos com uma professora de moda. 

Nossa entrevistada é Walquiria Caversan, que se formou em Desenho de Moda, é pós-graduada em Moda e Criação, mestre em Criatividade e Inovação e há mais de 20 anos atua, entre outras coisas, como professora de graduação e Pós-Graduação nas disciplinas de Processos de Criação e Estilismo. Com tanta experiência, ela pôde compartilhar um pouco do que é ser um professor de moda e o que é necessário para trilhar um caminho na área. Vem conferir nosso bate-papo: 

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Consultoria de imagem: Luciana Ulrich compartilha tudo sobre a profissão

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Foto: Walquiria Caversan (Reprodução)


STL: Primeiro, me conta um pouco sobre sua trajetória profissional?

W.C.: Gosto de dizer que iniciei minha carreira aos 15 anos, antes mesmo de iniciar a Faculdade de Moda. Minha mãe fez Faculdade de Artes Plásticas tardiamente quando eu tinha 8 anos, ela foi a minha inspiração para escolher a minha profissão. Teve seu ateliê de artes e lá pude estar próxima de cores, materiais, técnicas e a arte de lecionar. Fazer artes plásticas foi uma opção de estudo, até eu descobrir que existia o Bacharelado em Moda da Faculdade Santa Marcelina. Dentro da área iniciei meu estágio em um colégio tradicional de São Paulo, onde existiam cursos de orientação profissional. Uma professora da faculdade me indicou para uma outra professora que estava grávida e iria tirar licença maternidade. Então o trabalho era auxiliar os alunos no desenvolvimento de modelagens dos looks que haviam criado para um desfile final do curso, do qual teria que assumir sozinha. A experiência foi tão positiva que fui convidada para assumir uma outra turma em outra unidade do mesmo colégio. Brinco que, se fosse por essa experiência, nunca mais teria voltado para sala de aula. Eu era muito jovem com alunos indisciplinados, foi um trabalho muito estressante, mas fui até o final do ano letivo. Terminada a faculdade fui trabalhar na Indústria de Confecção em uma marca consolidada e lá tive muitas experiências, viagens de pesquisa, participei das grandes semanas de moda e campanhas, entendi toda a cadeia produtiva da moda. Foi então que para minha surpresa recebi um convite para assumir uma cadeira de criação na faculdade onde me formei. Continuei na confecção paralelamente até que a docência foi tomando uma importância maior na vida. Assumi outras disciplinas e fazia trabalhos freelancers. Hoje sou professora de quatro disciplinas de projeto, professora da pós-graduação, coordenadora dos projetos sociais entre outras funções na Faculdade Santa Marcelina. 

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Foto: Walquiria Caversan (Reprodução)

Como é a rotina de um professor de moda?

W.C.: A rotina começa bem cedo. Inicio às 7H30 e termino o período da manhã às 12h50 todos os dias e também leciono no período noturno entre 19h e 22h40. O período da tarde uso para elaborar aula, estudar, ler, organizar projetos, avaliar trabalhos e por vezes descansar, pois ninguém é de ferro. 

Qual formação é necessária para ser um professor de moda?

W.C.: Hoje temos muitas graduações de moda no Brasil, mas quando eu era estudante, meus professores não tinham formação em moda, mas em áreas correlatas como artes plásticas, arquitetura, desenho industrial etc. Penso que se você quer trabalhar com a moda especificamente, escolha uma boa faculdade da área, mas isso não é um limitador. Vai depender muito da sua trajetória profissional e da sua experiência. Considere fazer um mestrado, pois é uma exigência da maioria das instituições de nível superior. 

Como está o mercado de trabalho para profissionais que se dedicam à área acadêmica da moda? 

W.C.: Existem oportunidades, mas como em qualquer área, para poucos e para aqueles que se dedicam. 

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Foto: Walquiria Caversan (Reprodução)

Quais são os maiores desafios da profissão?

W.C.: Temos muitos desafios, mas vou apontar três importantes. Quando iniciei a docência, era bastante jovem, tinha apenas 26 anos. Os alunos tinham idades muito próximas a minha, éramos da mesma geração, com as mesmas referências. À medida que o tempo passou, depois de 22 anos na docência, penso que existe uma coisa muito cruel em professorar: os alunos sempre têm a mesma idade e apenas os professores envelhecem. Meus alunos continuam a ter 18, 19, 20 anos e eu estou 20 anos mais velha. O grande desafio é justamente entender as novas gerações, as suas referências e desejos. Um outro desafio importante é o exercício da repetição. Se não você não tiver paciência para se repetir muitas vezes, nem inicie essa carreira. Um terceiro desafio é estar sempre atualizada em uma área em constante mudança. 

Como ensinar moda atualmente num cenário em que a indústria muda o tempo todo?

W.C.: O exercício da docência está justamente na atualização diária das informações de uma indústria que se transforma. O professor é antes de tudo um pesquisador, que é curioso, que estuda e busca novos conteúdos. Também acredito que temos que pensar de dentro para fora. Instigar o aluno para fazer mudanças expressivas no mercado de trabalho, dentro de um modelo existente. Sempre digo aos meus alunos que a responsabilidade de um mercado de trabalho melhor é também uma responsabilidade deles. Há que lutar lá fora para ter uma vida profissional saudável. 

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Foto: Walquiria Caversan (Reprodução)

Me conta um mito sobre moda que seus alunos entram na faculdade acreditando?

W.C.: O principal mito é que vai ser moleza. Quando entram no primeiro semestre com 10 disciplinas com projetos grandes, o aluno que pensou que iria tirar de letra, certamente vai desistir. Mas temos aqueles que verdadeiramente são apaixonados pelo que escolheram e seguramente vão atravessar o desafio. Hoje também com o engajamento das redes sociais, promovidas pelas influencers, há sempre o pensamento de que se pode ganhar dinheiro fácil. 

Você acha que lecionar é mais desafiador hoje em dia em que temos tanto acesso à informação, mas muitas vezes de forma rasa? 

W.C.: Não deveria ser, mas é. Hoje temos a informação que está disponível para quase todos. Aqueles que têm acesso à internet supostamente poderiam obter a informação que quisessem, assim como abre caminhos para a pesquisa, oferecendo acesso para a pesquisa analógica também. Porém como aponta na sua pergunta, a pesquisa é, em geral, feita de modo muito superficial. Há que ensinar como cercar a informação para obter o melhor resultado. Mas existe algo que está ligado às novas gerações que se relaciona com o tempo e a paciência que os jovens dispõem para isso. Não conseguem se dedicar por muito tempo a uma única tarefa.

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Foto: Walquiria Caversan (Reprodução)

Que dica você daria para quem está pensando em ser professor de moda?

W.C.:Se dedique aos seus estudos, nunca para de estudar.  Ter experiência no mercado de moda é extremamente importante. Comece exercitando a prática da docência em cursos menores, ensine aquilo que você sabe fazer de melhor. Se engaje com outros professores, universidades, congressos da área, participe de bancas de avaliação. 

Quais livros você indica para quem quer seguir a profissão?

W.C.: Quando falamos da profissão “professor de Moda” estamos falando de muitas especificidades. Há professores de projeto, de história da moda, de produção e styling, de fotografia, estamparia etc. A verdade é que não conseguimos saber tudo da área, mas precisa se dedicar para conhecer mais do assunto que escolher lecionar. Mas há leituras importantes que todas as áreas da moda devem acessar. Se você quer saber como funciona o sistema da moda, leia o Império do Efêmero, do filósofo francês Gillis Lipovetsky e Sistema da Moda de Roland Barthes. Contemporâneo ao livro de Lipovestky e Barthes, leia Moda: uma filosofia de Lars Svendsen; E outros três livros importantes:  A moda e seu papel social de Diana Crane; A roupa e a moda: uma história concisa de James Slaver; Modos de homem e modos de mulher de Gilberto Freyre.

Como a Walquiria explicou, há muitos caminhos possíveis para ser um professor de moda, mas se você quer começar já dentro da área, uma graduação em moda pode ser uma boa escolha. Instituições como a Faculdade Santa Marcelina, PUC, Estácio e USP são algumas que oferecem o curso. 

Esse é mais um dos nossos conteúdos sobre carreira de moda. Quinzenalmente estamos por aqui conversando com algum profissional da indústria, que compartilha a experiência sobre a área. 

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