Semana de Alta-Costura 2025: o que rolou de mais interessante

por Izabela Suzuki

Começou hoje (27.01) a Semana de Alta-Costura 2025, para muitos a mais fascinante do calendário de moda, graças à sua abordagem lúdica e elaborada, que se diferencia das demais. Afinal, o prêt-à-porter tem outra proposta em relação à haute couture — caso você ainda tenha dúvidas, já explicamos essa diferença em detalhes, e você pode conferir no nosso site. Com nomes consagrados como Giambattista Valli, Chanel e Dior, até o dia 30, todos os olhares estarão voltados para Paris.

Entre os próximos desfiles, as estreias mais aguardadas incluem Alessandro Michele na Valentino, marcando sua primeira coleção de Alta-Costura para a marca, e a colaboração entre Jean Paul Gaultier e o convidado especial Ludovic de Saint Sernin, que, segundo rumores, pode ser a última colaboração desfilada.

Abaixo, te manteremos atualizada diariamente com os destaques das passarelas — e também do street style. Continue acompanhando para não perder nenhum detalhe, cara leitora.

conservadorismo na moda x beleza

Abrindo a Semana de Alta-Costura 2025, a Schiaparelli de Daniel Roseberry, mais uma vez, se torna pauta em quase todos os portais de comunicação. Quando o designer utilizou um molde de cabeça de leão em seu desfile de primavera de 2023, impressionando pelo realismo, aquilo tomou conta da internet. Na mesma estação, em 2024, ele voltou a surpreender com peças feitas de pequenos pedaços de celulares, CDs e placas-mãe, trazendo uma abordagem inesperada para a passarela.

Dessa vez, Roseberry focou na beleza. Não que ele não faça isso em todas as coleções, mas o destaque agora recai sobre as texturas, o movimento das bainhas e a costura primorosa de peças esculpidas e cravejadas de brilhos. Intitulada Icarus Couture, a coleção flerta com a ambição de voar próximo ao sol, desafiando os limites da arte e da técnica da maison e de outros costureiros.

Modelo desfila em vestido bordado com plumas na Semana de Alta-Costura 2025, sob luz intensa.
Foto: Schiaparelli Spring Couture 2025 (Reprodução/Vogue Runway)


Ou será que há limites? A coleção, apesar de estonteante, dividiu opiniões na internet, especialmente pela cintura ultra marcada das peças. O espartilho, historicamente, é um símbolo contraditório: associado tanto à opressão quanto à reinvenção do corpo feminino. Para alguns, a presença dele – ou de vestidos que abraçam a silhueta de maneira tão rígida – reflete um eco de conservadorismo que ressurge em certos cantos da moda contemporânea.

Por outro lado, há quem veja esse rigor estético como uma forma de resistência. Em tempos marcados por incertezas e retrocessos políticos, a alta-costura se firma como um refúgio, onde a beleza transcende o caos. Então, eu te pergunto: seria esta uma celebração da arte e da habilidade em meio à escuridão, ou um lembrete silencioso de que, mesmo no luxo, as amarras podem reaparecer?

meio punk, meio coquette

Será que estamos nos despedindo de Maria Grazia Chiuri? Os rumores de que Jonathan Anderson está praticamente confirmado para assumir a Dior estão causando mais uma reviravolta na eterna dança das cadeiras da moda. Para ser bem honesta, não faço parte do grupo de haters do trabalho de Maria na maison. Sua visão resgata poder e feminilidade de uma maneira única — confesso que demorei a aprender e valorizar isso.

Apesar disso, também não sou sua maior entusiasta. No entanto, devo admitir: desta vez fiquei um pouco mais animada com o que vi na passarela da Cidade das Luzes. Ainda com suas icônicas sandálias gladiadoras, Maria trouxe vestidos armados que remetem a anáguas, uma peça profundamente ligada à indumentária feminina de séculos passados. Esses elementos ganharam destaque ao lado de transparências e técnicas que não pertencem nem ao passado, nem ao futuro — apenas à moda.

Modelo com vestido transparente bordado e cabelo decorado com penas e flores pretas. Semana de Alta-Costura 2025.
Foto: Christian Dior Couture 2025 (Reprodução/Vogue Runway)

Foi exatamente isso que Maria quis com sua coleção couture de 2025: revisitar memórias de tempos antigos em um ode que mistura fantasia com toques punk — basta observar os penteados das modelos — e detalhes que reforçam a estética coquette. A diretora criativa se inspirou na linha Trapèze, concebida por Yves Saint Laurent para a Dior em 1958, e transportou essa herança para o mundo de Alice — ou melhor, o mundo de Maria. É uma celebração das resistências femininas e das narrativas que a maison já explorou sob a tutela do próprio Monsieur Dior.

Como definido pela própria maison em sua explicação oficial, esta coleção "parece suspensa na temporalidade perpétua da moda, cuja essência é satisfazer desejos de todos os tipos". E, para Maria Grazia Chiuri, essa atemporalidade pode ser tanto uma despedida quanto um grand finale.

Fernanda Torres com casaco preto elegante, detalhes bordados, em ambiente sofisticado. Ocasião alinhada à Semana de Alta-Costura 2025.
Foto: Fernanda Torres em Paris (Reprodução)

fernanda torres em paris

Indicada ao Oscar de Melhor Atriz e vencedora do Globo de Ouro por Ainda Estou Aqui, nossa estrela nacional, Fernanda Torres, brilhou hoje (28) no desfile de Alta-Costura da Chanel. A atriz escolheu um visual minimalista, mas cheio de sofisticação, que mantém a conexão com a narrativa do filme e reflete sua consistência estilística em eventos e premiações.

Em entrevista à Marie Claire, Antojo Frajado, stylist de Fernanda, revelou que o pedido da atriz era claro: roupas com um toque minimalista. O sobretudo preto escolhido para o evento — que vai do pescoço aos pés e traz delicados bordados de flores — traduz essa abordagem com perfeição, unindo discrição, elegância e impacto visual.

Além de Fernanda, estrelas como Kylie Jenner, Lily-Rose Depp e Dua Lipa também marcaram presença no icônico Grand Palais.

20 anos de armani privé

Aos 90 anos, Giorgio Armani segue firme e fiel à sua estética elegante e confortável — um verdadeiro "rei da longevidade" criativa. E para celebrar os 20 anos de sua linha de alta-costura, nada mais simbólico do que um palácio. O recém-inaugurado Palazzo Armani, em Paris, serviu de cenário para marcar as duas décadas da Armani Privé com a grandiosidade que a data merece.

Em entrevista à Vogue, o Sr. Armani destacou que a alta-costura lhe permite explorar um reino de fantasia e experimentação, indo além de cortes impecáveis e estruturas precisas. Suas criações traduzem lugares que percorreu, culturas que o inspiram e sonhos que alimentam sua criatividade. Intitulada Lumières — "Luz" —, a coleção brilhou exatamente como se espera de um artista que há décadas domina sua arte.

ninguém traz drama como alessandro

Você tem todo o direito de não gostar da abordagem maximalista que Alessandro Michele resgatou para a Valentino. Sim, resgatou—pois esse DNA exuberante já fazia parte da marca e não é uma herança da Gucci que ele decidiu impor à maison do dia para a noite. No entanto, é inegável que o atual Diretor Criativo traz um drama às passarelas como poucos sabem — ou ousam — fazer nos dias de hoje.

Nomeada Vertigineux, sua primeira coleção de alta-costura para a Valentino foi apresentada nesta manhã (29.01) no Palais Brongniart. Inspirado pelo texto do filósofo e escritor Umberto Eco, Michele explora múltiplas interpretações da palavra "vertigem", conectando-se às listas descritas por Eco como um recurso para criar diferentes culturas. Ele nos lembra de como a arte, ao longo dos séculos, gerou versões e interpretações infinitas, mesmo quando confinada dentro de uma moldura.

Vestido preto e branco com véu e luvas, destacando elegância e mistério. Fundo escuro com luzes. Evento Semana de Alta-Costura 2025.
Foto: Valentino Spring Couture 2025 (Reprodução/Vogue Runway)

Através de 48 vestidos distintos — como descrito no release à imprensa —, Alessandro Michele explorou 48 "listas" diferentes. Talvez isso explique os escritos enigmáticos que causaram estranhamento em alguns. O designer mergulhou na pluralidade que conecta o mundo por meio de referências variadas: cores, tecidos, cortes, proporções, geometria e, acima de tudo, cinema. Cinema é a palavra. Ou melhor, Absolute Cinema.

"Uma estratificação febril e incessante de referências que faz explodir sua singularidade" — talvez os números projetados atrás das modelos durante o desfile tenham simbolizado exatamente isso. Cada peça funciona como um arquivo narrativo do passado que ressoa no presente. Mais uma vez, Alessandro resgata o drama e o maximalismo na sua própria vertigem.

jean paul gaultier por ludovic de saint sernin

De acordo com as próprias palavras de Rick Owens, que prestigiou o desfile de Ludovic de Saint Sernin para Jean Paul Gaultier, os dois estilistas são os únicos que sempre alcançaram o mesmo tipo de sensualidade. “Sensual, mas sofisticado. Sacana, mas elegante”, comentou Owens à Vogue.

Sob o tema Le Naufrage, Saint Sernin mergulha – literalmente – em um naufrágio, trazendo vestidos drapeados com rasgos propositais, modelos com um aspecto molhado que evocam uma saída do mar, lantejoulas bordadas que lembram escamas e elementos figurativos quase teatrais, como o navio usado na cabeça da modelo Luiza Perote. O designer belga realmente nos fez embarcar em um navio cujas roupas parecem carregar milhões de histórias. Rumores indicam que Ludovic pode ter sido o último dos convidados de JPG – e, se for assim, que belo encerramento para essa aventura colaborativa.

brasil na passarela da alta-costura

Encerrando a Semana de Alta-Costura 2025, o suíço Kevin Germanier fez sua estreia na haute couture ao lado de nomes como Alessandro Michele, Giorgio Armani, Gaurav Gupta e Maria Grazia Chiuri. O evento ocorreu pouco depois das 18h no Palais de Tokyo, onde cores vibrantes, materiais pouco óbvios e muita criatividade marcaram os 25 looks desfilados. Intitulada Les Globuleuses, a coleção também trouxe, pela sexta vez, uma colaboração com o designer brasileiro Gustavo Silvestre, fundador do projeto Ponto Firme.

Fiel à sua reciclagem criativa, Germanier explorou até mesmo lápis em seus visuais, além de incorporar miçangas descartadas e peças vintage de luxo — provando, mais uma vez, sua habilidade em transformar resíduos em alta-costura de impacto.

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