Tudo sobre o fenômeno dos ugly shoes

por Beta Weber

É oficial, estamos vivendo a era dos ugly shoes. Sapatos de aparência duvidosa, que fogem do convencional, e que antes seriam considerados conceituais ou práticos demais para alcançar o mainstream, agora se tornaram objeto de desejo e invadiram as ruas. A seguir, a gente investiga os motivos e os benefícios do fenômeno. 

A tendência ganhou embalo em 2018 quando a Balenciaga lançou o Triple S dando start na febre dos dad sneakers, os tênis que remetiam aos modelos usados por pais na década de 90 e que dominaram o streetwear e foram imitados por todo tipo de marca. Depois disso, veio a ascensão das papetes, birkenstocks e adjacentes com seus solados pesados. Seguidos pela aparição dos - até então, inadmissíveis - Crocs nas passarelas e aí, com a chegada da pandemia e a demanda por conforto, a era dos sapatos "feios" e, muitas vezes, cômodos foi consagrada. Nos últimos tempos, os modelos inflados e os peludinhos, que remetem ao período Y2K ou fazem homenagem ao "abominável homem das neves" têm sido os favoritos. A criatividade não tem fim e a única certeza é que os ugly shoes não vão a lugar nenhum. 

O primeiro ponto que a gente precisa lembrar é que a beleza está nos olhos de quem vê e gosto é sim subjetivo e mutável. A reviravolta de um dos ugly shoes mais famosos de todos os tempos exemplifica muito bem a ideia: lançadas em 1988, as icônicas Tabi boots da Margiela, carregam a bandeira do "é bonito ser feio" há décadas. Com o reinado atual dos ugly shoes, o design inspirado em meias japonesas do século XV saiu do status cult para se tornar hit indo parar até no polêmico figurino de "Emily em Paris".

Tabi boots - Tabi boots - ugly shoes - Inverno - Los Angeles - https://stealthelook.com.br
Foto: @pechuga_vintage (Reprodução/Instagram)


O período de Phoebe Philo na Céline também merece crédito, dá para atribuir a ela o lugar conquistado pelas papetes e afins no mercado de luxo durante o novo milênio. Assim como o resgate dos sapatos furry dos anos 70 em interpretações sofisticadas e contemporâneas. Agora que seu retorno ao mercado já tem data marcada - a primeira coleção da sua marca própria será apresentada mês que vem -, a gente mal pode esperar para descobrir o que ela vai propor. Abaixo dois exemplos assinados por Philo em 2013 que continuam mega modernos:

Old Celine - papete peluciada - ugly shoes - Inverno - Celine - https://stealthelook.com.br
Foto: @oldceline (Reprodução/Instagram)
Celine - scarpin peluciado - ugly shoes - Inverno - Celine - https://stealthelook.com.br
Foto: @oldcelinemarket (Reprodução/Instagram)

Além disso, quando se trata de moda é sempre importante analisar o contexto sociocultural já que o que vemos nas passarelas é indissociável do que se passa no mundo. O impacto da Covid19 estimulou a demanda por itens práticos, confortáveis e versáteis em sintonia com a predileção por athleisure e loungewear. Aqui se explica o retorno de modelos como as UGG boots ou do clog Boston da Birkenstock, antigamente reservados para usar dentro de casa que agora se tornaram protagonistas de looks de street style.

olivialczak - clog - ugly shoes - ugly shoes - Inverno 2023 - https://stealthelook.com.br
Foto: @olivialczak (Reprodução/Instagram)

Em uma época definida pela presença online, viralizar se tornou meta número um e nada melhor do que lançar mão de itens chocantes ou inusitados para alcançar o feito. Esse cenário viabilizou e abriu espaço para produtos feitos sob medida para conquistar o efeito mesmo que necessariamente não funcionem no dia a dia, vide as botas vermelhas da MSCHF que esgotaram em pouquíssimas horas. O sucesso da bota caricata também denota o interesse crescente em HQs e animes. Pasmem, até a eterna posh spice, Victoria Beckham, experimentou a versão amarela. 

Victoria Beckham - MSCHF boots - ugly shoes - Verão - ugly shoes - https://stealthelook.com.br
Foto: Victoria Beckham (Reprodução/Instagram)

Também é preciso levar em conta que em um momento onde as tendências são globais e exageradamente efêmeras, a autenticidade se tornou característica mais escassa e valiosa, comprar produtos com personalidade, que fogem da neutralidade é uma bela maneira de comunicar seu estilo pessoal e celebrar sua individualidade. 

A última temporada convocou novos membros para o time dos ugly shoes. Na Bottega Veneta, Matthieu Blazy introduziu um híbrido entre bota e meia, confeccionado em couro trançado utilizando a técnica intrecciato, marca registrada da grife italiana.

Bottega Veneta - bota meia - ugly shoes - Inverno - Bottega Veneta - https://stealthelook.com.br
Foto: Bottega Veneta (Reprodução/Instagram)

Já em Londres, foi JW Anderson, entusiasta dos sapatos feios com um quê de surrealista, tanto em sua marca homônima quanto na direção criativa da Loewe - alô, sapato feito de balões! - quem representou a tendência. Dessa vez foi o reino animal que recebeu homenagem, indo do lúdico através do clog em formato de sapo (para fazer companhia para sua clutch pomba lançada há algumas temporadas).

Assim como um primo das Tabis, o "paw shoe" (a.k.a. sapato pata) que está disponível em versão flat e de salto.

JW Anderson - ugly shoes - ugly shoes - Inverno - JW Anderson - https://stealthelook.com.br
Foto: JW Anderson (Reprodução/Instagram)

Em tempos de quiet luxury, os ugly shoes e sua irreverência se estabelecem como antídoto para uma aparência demasiadamente polida. Independentemente de se identificar ou desejar itens do estilo, os sapatos feios são fundamentais, pois questionam as noções de belo, expandem os padrões estéticos e abrem espaço para olhares diferentes o que é sempre bem-vindo. Destacando-se como uma forma divertida de inserir emoção aos looks, reforçando que moda é sobre auto expressão, além de agir como lembretes bem-humorados para não se levar tão a sério.

Você também vai gostar