Semifinalista do Prêmio LVMH 2024, a brasileira Karoline Vitto está a um clique de distância da grande final, que oferece 400.000 euros, além de 12 meses de orientação para o crescimento de sua própria marca, oferecidos por uma equipe do conglomerado. Radicada em Londres, a designer, nascida no interior de Santa Catarina, é uma das novas figuras da moda com potencial não apenas para criar ótimas coleções, mas também para mudar a estrutura das passarelas das grandes semanas de moda, apresentando roupas e mulheres que celebram suas curvas e criam um tipo de identificação raramente vista.
A seguir, contamos um pouco mais sobre a estilista, que, no ano passado, recebeu apoio do projeto "Supported by DG", um programa de suporte a novos talentos ao redor do mundo, promovido pela dupla Dolce&Gabbana. Ela agora está no mesmo caminho trilhado por nomes como Nensi Dojaka, Virgil Abloh, Simon Porte Jacquemus e vários outros pesos-pesados da indústria da moda. Para garantir que Karoline chegue à final, é muito simples: basta clicar aqui e, em seguida, deixar seu voto único, mas corra, pois a votação se encerra hoje mesmo. Nós já demos nosso voto e desejamos boa sorte à designer.
Karol, primeiramente, muito obrigada por topar conversar conosco e reservar um tempinho para nos responder! A primeira pergunta, talvez a mais clichê delas, é: como você se sentiu ao receber a notícia de que era uma das semifinalistas do Prêmio LVMH 2024?
K.V: Fiquei super feliz e surpresa! É claro que, quando nos inscrevemos, esperamos que dê certo, mas sabendo que foram 2500 pessoas se candidatando e que dali saíram apenas 20 semifinalistas, fiquei super entusiasmada por ser uma dessas. A competição este ano está muito acirrada e as marcas estão em um nível bem equilibrado, né? Então foi incrível para mim poder ser uma dessas marcas selecionadas dentro de um número tão grande de candidatos.
O que significaria para você ganhar este prêmio? Não só para você, mas também para aqueles que aspiram a seguir esse caminho?
K.V: Ganhar este prêmio seria um passo muito importante, tanto para mim como designer quanto para a marca. Seria uma validação realmente significativa do trabalho que fazemos, especialmente por sermos voltados para a inclusão de tamanhos. Afinal, trabalhamos com tamanhos do 8 ao 28, em inglês, o que seria como do P ao 4XL no Brasil. Portanto, seria um reconhecimento de que essas numerações têm seu lugar na indústria, e que elas ocupariam um espaço equiparado ao que outras marcas já alcançaram. Além disso, trazer esse prêmio para o Brasil traria visibilidade para a marca e colocaria o país um pouco mais dentro desse cenário, dando mais atenção para outros criadores brasileiros. Acredito que teria um impacto muito positivo na forma como a indústria enxerga a moda aqui.
Como você descreveria o seu estilo de criação? Quais são as suas inspirações para cada coleção?
K.V: Meu processo de criação passa por muitos experimentos. Trabalho muito diretamente com o manequim e os tecidos nele, explorando as formas e os materiais de maneira tátil e tridimensional. Não costumo desenhar, então meu estilo criativo é mais voltado para o 3D, para o experimental e para a prática direta com os materiais no corpo.
Minha inspiração vem de diversas fontes, mas atualmente, como marca, é muito influenciada pelos arquétipos que já desenvolvemos. Olhamos para os produtos que funcionaram e buscamos expandi-los nas próximas coleções, aproveitando o que já foi desenvolvido. Enquanto marca pequena, trabalhamos com recursos limitados, então nosso processo envolve reconhecer o que está funcionando e evoluí-lo, em vez de tentar "reinventar a roda" a cada coleção.
Existe algum estilista ou marca que inspira seus trabalhos? Aquele que você admira desde quando começou no universo da moda?
K.V: Há dois estilistas que sempre me inspiraram: Azzedine Alaïa e Thierry Mugler. São marcas das quais sempre busquei inspiração imagética e tentei entender suas trajetórias e pontos de virada. Para mim, tento decifrar o imaginário de Alaïa, que é meu designer favorito, especialmente nos anos 80 e início dos anos 90, quando ele criava formas esculturais maravilhosas com materiais simples, como tricô e malha, mas muito bem desenhadas no corpo. Busco entender como recriar essa sensação, adaptando-a para um público diferente, o corpo das minhas modelos curve, e trazer todo esse universo para um outro tipo de corpo.
se a marca tem uma modelo plus size na passarela, mas na loja só oferece tamanhos até 40, qual é o significado disso?
Recentemente, vimos uma matéria bastante interessante na Vogue Business sobre a presença de modelos midi e plus size nas passarelas. Se não me engano, a porcentagem era de menos de 1% nas semanas de moda praticamente em todo lugar. O que você acha que é preciso ser feito para mudar isso?
K.V: Em relação ao ranking da Vogue Business, temos muito orgulho de ter tido a melhor colocação nas duas últimas temporadas em que participamos, em setembro e fevereiro do ano passado. Em ambos os casos, fomos a marca número 1 global em diversidade de tamanhos na passarela! Para nós, como uma marca jovem e pequena, isso é muito importante. Cada marca tem suas necessidades e sua agenda, mas falta considerar a inclusão desses tamanhos desde o início do processo de prototipagem. Muitas vezes, as marcas só percebem a falta de inclusão no dia do casting e decidem incluir uma ou duas modelos plus size. No entanto, depois percebem que não têm um look completo para elas, ou que as peças não servem, então essas modelos acabam sendo tratadas como um "pensamento secundário", algo que vem depois da coleção.
Falta muito para as marcas incluírem esse pensamento desde o início do desenvolvimento, para trazer a mesma linguagem da coleção inteira também para modelos curvilíneas, garantindo que elas tenham looks representativos na passarela. Em relação ao impacto disso, não adianta ter esse look apenas para a passarela; é crucial que ele seja produzido e que essas peças estejam disponíveis na loja. O público verá e acreditará que a marca trabalha com esse tamanho. Se a marca tem uma modelo plus size na passarela, mas na loja só oferece tamanhos até 40, qual é o significado disso?
nosso grande sonho é levar a marca para o Brasil. Temos planos para isso e espero que possamos realizá-los em breve.
Quais são os próximos passos da marca? E quais são os sonhos ainda não alcançados?
K.V: Nosso próximo passo é expandir nossas vendas para lojistas e multimarcas. Atualmente, vendemos diretamente para o consumidor, o que é ótimo em termos de controle e acesso direto aos dados dos clientes. No entanto, é crucial para o crescimento da marca estar presente em outros pontos de venda para alcançar novos públicos. Além disso, nosso grande sonho é levar a marca para o Brasil. Temos planos para isso e espero que possamos realizá-los em breve.
Por fim, qual conselho você daria para quem deseja se tornar um grande estilista?
K.V: O conselho que eu daria para quem deseja seguir essa carreira é primeiro ter certeza de que é isso que você realmente quer, porque não é algo simples nem fácil. Há muitos obstáculos e a jornada exige muito trabalho, especialmente no início, quando os retornos são poucos. Depois de ter certeza, lembre-se de que 90% é trabalho e apenas 10% é talento. O mais importante é comparecer, desenvolver seu trabalho, persistir e aprender continuamente. Seja curioso, mantenha-se atualizado sobre o que está acontecendo nos desfiles, nos processos de fabricação das peças e busque constantemente conhecimento. Esteja disposto a aprender e coloque-se em situações que favoreçam isso, pois esta é uma carreira de aprendizado constante e renovação, onde aflorar a criatividade é fundamental.