Depois de uma semana agitada, repleta de desfiles, a Casa de Criadores 55 chegou ao fim ontem (10), deixando aquele gostinho de "quero mais". Realizado entre os dias 5 e 10 de dezembro, o evento manteve sua essência como palco da moda autoral brasileira e reforçou seu papel como catalisador para novos talentos do país.
Nesta 55ª edição, com 44 marcas no line-up, os desfiles se mantiveram no Centro Histórico de São Paulo, entre o Viaduto do Chá e a Galeria Prestes Maia. A programação trouxe a estreia de dez estilistas, como o Sioduhi Studio, de Manaus — a primeira marca do Norte do Brasil a integrar o calendário —, além de Jalaconda e Coletiva TRASHrealoficial. Também houve o retorno de nomes como Ale Brito e a marca KOIA. Confira, a seguir, os principais destaques da CDC55:
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KOIA
Kaio Martins, diretor criativo da marca KOIA, retorna às passarelas na Casa de Criadores 55, após 10 edições. Com a coleção "A Rigor", a marca ousou ao desconstruir a alfaiataria clássica, incorporando elementos da moda festa em criações que desafiaram as convenções.
As modelagens inusitadas utilizaram materiais típicos de paletós, blazers e ternos, reinventando padrões tradicionais como risca de giz, poá e xadrez. O resultado foi uma coleção que equilibra irreverência e sofisticação, misturando o tradicionalismo da alfaiataria com a opulência dos trajes de gala.
Nalimo
NALIMO e o Haus of Zion apresentaram o desfile Natureza Surreal. Trazendo inspirações da biodiversidade brasileira e destacando a conexão entre natureza, pessoas e moda. A coleção trazia referências que vão desde a rica Mata Atlântica até a obra de artistas como Gilberto Gil. Nas passarelas, texturas e criações autênticas evocaram elementos da fauna e da flora. Além disso, o uso de técnicas artesanais foram aliadas a narrativas poderosas.
Anderson George
Anderson George, marca que leva o nome do diretor criativo, fez sua estreia na Casa de Criadores com a coleção "Uma Corte Celestial". Inspirada na riqueza cultural do Maracatu, especialmente na tradição de Nazaré da Mata, conhecida como a capital do Maracatu pernambucano.
Vibrante e poética, "Uma Corte Celestial" homenageia um dos folguedos mais populares do Brasil. Com uma pesquisa detalhada sobre técnicas artesanais, a coleção destacou bordados manuais, crochê, armações e outros processos manuais que remetem aos figurinos tradicionais do Maracatu. A parceria com o IMOA (Instituto do Meio Ambiente de Pernambuco) trouxe um diferencial sustentável, ao reutilizar resíduos têxteis do polo de confecções do Agreste pernambucano. O resultado foi uma coleção que, ao mesmo tempo, celebra o passado e o presente, como também aponta para um futuro consciente com peças que carregam a alma cultura e história do Brasil.
N/E*Recycled
N/E*Recycled apresentou na Casa de Criadores 55 a coleção Perpétuo, que convida o público a refletir sobre o que permanece diante das transformações inevitáveis do mundo. Com criações que unem a profundidade das tradições às inovações contemporâneas, a coleção celebra o que resiste ao efêmero, exaltando raízes culturais, artísticas e humanas.
O visual impactante é elevado por makes pesadas e uma estética que flutua entre o grunge e o gótico, traduzindo uma atmosfera intensa e carregada de significado.
Guma Joana + Sim Sukeban
Por fim, o último destaque entre os desfiles foi GUMA JOANA e SUKEBAN que apresentaram uma coleção disruptiva em formato de desfile-manifesto-instalação, inspirada na Operação Tarântula, um período marcado pela violenta repressão às Travestis e Transexuais durante a ditadura militar no Brasil. A coleção presta uma poderosa homenagem às vítimas e sobreviventes, transformando dor em resistência e memória em arte.
Com base nos princípios da moda circular, as peças foram criadas a partir de materiais descartados, ganhando novos ciclos de vida e significado. A narrativa visual da coleção evolui de tons neutros para vibrantes, culminando em looks predominantemente vermelhos que simbolizam a força e a história de luta. Um casting diverso reforçou ainda mais a mensagem de inclusão e transformação, tornando o desfile uma expressão poderosa de resistência.