Os códigos e segredos do estilo da Rainha Elizabeth II

por Beta Weber

De Alessandro Michele à Karl Lagerfeld, passando por Vivienne Westwood em diversas fases da carreira, a influência da Rainha Elizabeth II é constante na moda. Além de servir como inspiração para inúmeros designers, seu estilo impecável é ótima fonte de estudo e uma verdadeira aula de autenticidade e códigos. Afinal, ela sempre reconheceu o poder das roupas que vestimos para contar histórias, reforçar narrativas e passar uma imagem de estabilidade.

Com o seu falecimento, ela deixa um legado e diversas lições sobre como nossa apresentação visual pode servir de instrumento para amplificar nossas mensagens. A seguir, a gente analisa seu estilo e os significados por trás de seus principais looks. 

A discussão sobre monarquia e os anos de reinado da Rainha é muito ampla e certamente divide opiniões, porém um fator é incontestável, sua capacidade de utilizar as roupas como forma de comunicação não verbal, além da lealdade ao próprio estilo que garantiu um permanente ar de atemporalidade, ela estava sempre apropriada, tarefa nada fácil para um reinado de sete décadas.

Tradição é termo indissociável quando se trata da monarca e isso também se aplica às suas produções. Apesar de na juventude adorar se aventurar com peças mais extravagantes como turbantes e silhuetas diferenciadas, nos últimos dez anos, suas produções seguiam sempre a mesma fórmula e absolutamente nada era arbitrário.

Para compromissos oficiais, ela desenvolveu uma espécie de uniforme que normalmente consistia em conjunto de vestido e casaco de alfaiataria terminando logo abaixo do joelho, complementados por colar de pérolas e broche, luvas brancas ou pretas e chapéu de largura e altura calculados estrategicamente para não atrapalhar suas saídas do carro e nem obstruir a visão. 

Rainha Elizabeth II - conjunto de alfaiataria laranja, chapéu e luvas pretas - Rainha Elizabeth II - Outono - andando na rua - https://stealthelook.com.br
Foto: Rainha Elizabeth II (Reprodução)


No quesito acessórios, as bolsas da marca britânica Launer eram suas fiéis escudeiras, sempre estruturadas e com alça curta, os modelos boxy a acompanhavam em todas ocasiões. Além de carregar os pertences de Elizabeth, elas também serviam como instrumento de comunicação com sua equipe, sinalizando de maneira discreta suas vontades. A mensagem variava dependendo do lado que a bolsa era carregada ou onde o objeto era depositado ao sentar.

Nos pés, um mocassim de salto baixo feito à mão pelos artesãos da londrina Anello & Davide, foram seus favoritos durante mais de 50 anos.

Rainha Elizabeth II - conjunto de alfaiataria verde limão, mocassins pretos e bolsa - Rainha Elizabeth II - Outono - andando na rua - https://stealthelook.com.br
Foto: Rainha Elizabeth II (Reprodução)

A maneira certeira de impedir a monotonia de seu “uniforme" era através das tonalidades exuberantes. Todas as cores da Pantone, dos tons pastel ao neon, quanto mais colorida melhor. Mestre das produções monocromáticas, a escolha por uma paleta chamativa não era baseada apenas em gosto pessoal, era para garantir que ela não se perdesse em uma multidão, tanto para as milhares de pessoas querendo enxergá-la, quanto para controle de sua equipe de segurança. 

Mensagens diplomáticas eram sutilmente inseridas ao looks durante suas visitas à outras nações, através da escolha de cores ou detalhes que faziam referência à cultura do destino. Suas opiniões políticas não podiam ser expressadas livremente, mas ela encontrava formas de demonstrá-las com muita elegância. No auge das discussões sobre o Brexit, foi até o parlamento inglês discursar com vestido floral em azul e amarelo, não por acaso, as cores da bandeira da União Europeia. Seus broches inseparáveis não serviam apenas para enfeitar, eles também "falavam", tanto da sua desaprovação, como ao encontrar o então presidente Trump, escolhendo um broche que recebeu de presente do casal Obama, como para oferecer conforto ao endereçar seus súditos durante a pandemia, usando um broche turquesa, já que o tom denota proteção e esperança.

Suas composições, sempre assinadas por couturiers britânicos, eram previamente aprovadas pela própria através de croquis antes de serem confeccionadas. A responsável pelo guarda-roupa da Rainha Elizabeth II era Angela Kelly, que começou a trabalhar no palácio em 1994 como dresser, eventualmente sendo promovida a assistente pessoal, conselheira e curadora do acervo de moda e joias. A ela também cabia uma tarefa inusitada, dividindo o mesmo número de calçado com a rainha, Kelly era encarregada de usar os calçados novos pelo palácio durante uma semana para que estivessem suficientemente confortáveis antes da rainha usá-los pela primeira vez. 

Aliás, comodidade era prioridade levada muito a sério com cuidados que iam de forro especial na parte de trás de vestidos com bordados mais pesados para garantir conforto na hora de sentar, pesos especiais costurados na barra da saia para que não voassem em dias de vento além de tecidos que não amassasse, testados incansavelmente antes de serem aprovados. O palácio de Buckingham conta com uma sala que abriga tecidos coletados ao longo das décadas em uma espécie de arquivo de referência.

Rainha Elizabeth II - saia xadrez tartan azul, parka e lenço amarrado na cabeça - Rainha Elizabeth II - Inverno  - andando na rua - https://stealthelook.com.br
Foto: Rainha Elizabeth II (Reprodução)

Nos moments off, a rainha que era apaixonada pelo campo e por cavalos, dava preferência à peças funcionais como bota e calça de montaria, além dos indispensáveis casacos acolchoados, jaquetas do tipo parka de marcas como Barbour ou Burberry e o lenço amarrado na cabeça a lá Grace Kelly, normalmente assinado pela Hermès, uma das poucas grifes não britânicas que ela usava. O Tartan escocês e materiais como tweed e cashmere eram recorrentes em seus tempos de lazer. 

LEIA MAIS:

História da moda: Schiaparelli

História da moda: Balenciaga

História da moda: Off White

Você também vai gostar